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ENTREVISTA


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PABLO LEÓN DE LA BARRA


Pablo León de La Barra (Cidade do México, 1972) é uma das figuras mais interessantes do panorama cultural londrino. Galerista, arquitecto, editor, comissário de exposições, é uma figura extremamente activa e um dos agentes culturais mais profícuos da movida internacional Inglesa. Vive na capital inglesa há dez anos, tendo desenvolvido um projecto, 24/7, durante 3 anos, após os quais abriu a galeria Blow de la Barra juntamente com Detmar Blow, um dos antigos donos da Galeria Modern Art.

Por Filipa Ramos


P: És aquilo a que poderíamos chamar um “artoólico”: és um artista e um comissário, diriges a programação da White Cubicle Toilet Gallery, no Pub George and Dragon aqui em Londres. Simultaneamente, és galerista a tempo inteiro da Blow de La Barra e o único editor da Pablo International Magazine. Como consegues desempenhar todas estas diferentes actividades e mover-te em plataformas tão diferentes ao mesmo tempo? Estes diferentes aspectos da tua actividade contaminam-se? Será que eles revelam diferentes facetas dos teus interesses ou será que se complementam entre si?

R: Nunca tinha pensado nesse conceito. Agrada-me a ideia. Talvez um projecto futuro possa ser a criação de um grupo de Artoólicos Anónimos! Sim, faço muitas coisas. E isto causa-me grandes problemas com o meu namorado, que queria que eu estivesse mais parado e tivesse mais tempo para ele. Por vezes tento lidar e reflectir sobre isto. Será que tento fazer demasiado ou que não me consigo focar numa única coisa? Ou será que diferentes conceitos necessitam diferentes formas de visibilidade e que diferentes projectos se contaminam e se complementam entre si? Por vezes é como se fosse um malabarista, em que diferentes ideias existem numa espécie de equilíbrio e no qual alguns projectos se tornam o alter ego de outros, existindo em tensão entre o intelectual e o superficial, o poético e o político, o local e o internacional. É como se existissem diferentes camadas. Deste modo, os diversos projectos existem independentemente mas coexistem de forma rizomática, permitindo a existência de diversos pontos de entrada e de saída, de diálogo e de complementaridade. Neste momento, tentei reduzir os projectos a três, a Blow de la Barra, uma galeria comercial em Londres, o White Cubicle, um espaço artístico sem orçamento numa casa de banho de um pub de Londres e a Pablo Magazine, uma publicação periódica sobre arte, homens e arquitectura. Mas estou sempre a pensar em novas coisas e em novos projectos. Aborrecer-me-ia se não o fizesse.

Na minha opinião, existe um momento fantástico, que é aquele em que não tens nada, ou só tens diversas partes isoladas, depois há o momento mágico em que tens uma exposição, e isto normalmente sucede mesmo antes da inauguração. É o momento em que o tempo pára e em que as diversas partes se juntam. Passa-se algo parecido na publicação de uma revista. Penso que ao realizar diversos projectos tento evitar o vazio da depressão post-exposição, pensar sobre a próxima coisa mantém-me em movimento. Isto não significa que tudo seja automático, também há um momento de auto-reflexão...


P: Quando vieste para Londres, criaste um projecto chamado 24/7. Uma das suas actividades era a organização de uma exposição em cada dia da semana. Podes-nos contar um pouco mais sobre o 24/7? Como nasceu? Quanto durou? Como se desenvolveu e estruturou?

R: 24/7 existiu desde o Verão de 2002 até Janeiro de 2005. Foi desenvolvido juntamente com Beatriz Lopez e Sebastian Ramirez, dois artistas de origem colombiana que viviam em Londres nesse período. Conheci-os no Red Lion, em Hoxton Street, o pub onde eles costumavam trabalhar e que era gerido por Richard Battye, que mais tarde se tornou o proprietário do George and Dragon. 24/7 ganhou vida em parte devido à frustração de não se conseguir aceder à cena artística londrina, totalmente hermética. Recordo-me que no México, antes de vir para Londres, os estrangeiros eram recebidos de braços abertos e integrados na cena artística, sem que lhes fossem pedidas quaisquer credenciais. Em Londres, parece que para pertencer à cena artística uma pessoa precisa de ter frequentado as escolas de arte justas, ou, pelo menos, és importado porque provaste o teu sucesso como artista ou comissário, ou qualquer outra coisa. E quando isso sucede, os estrangeiros sofrem uma espécie de evangelização anglicana. Por isso mesmo, o 24/7 era uma resposta a este isolamento cultural.

A ideia original não era a de organizar uma exposição em cada dia da semana, mas expor arte que fosse vista durante 24 horas por dia, 7 dias por semana. As primeiras exposições foram feitas na fachada da casa onde eu vivia na altura, na Redchurch Street, em Shoreditch. Quando me expulsaram dessa casa devido às exposições, fizemos diversas em sítios diferentes, no apartamento para o qual me mudei, numa galeria emprestada, no pub George and Dragon, debaixo de uns arcos, na rua... Contrariamente à ideia original, acabaram por se tornar em eventos efémeros, muitos aconteciam e desapareciam no mesmo dia. Tinhas de estar aí nesse momento para viver as propostas estéticas.
Basicamente, trabalhávamos com artistas, muitos deles nossos amigos, que estavam de passagem em Londres como turistas ou devido a outros projectos e que os agarrávamos para fazerem uma obra. O facto de não existir orçamento e a natureza efémera do projecto deu aos artistas a oportunidade de fazer coisas que os espaços mais formais não permitem. Rapidamente, o 24/7 ganhou um estatuto de culto e era seguido por muitos artistas e comissários de Londres. Acho que para eles, a experiência era tão fresca comparada com a frequente rigidez do mundo da arte. Alguns dos artistas com os quais trabalho agora na Blow de la Barra vieram do 24/7: Stefan Brüggemann e Carolina Caycedo. Com outros, continuei a colaborar de diferentes maneiras.

Vendo retrospectivamente, o 24/7 cumpriu a sua missão e o seu período de vida. Eu desloquei-me para a Blow de la Barra, o Sebastian é agora um comissário institucional em Cambridge, enquanto a Beatriz foi viver para o México e depois para Bogotá, onde agora gere um espaço artístico e organizou uma feira de arte extraordinariamente interessante e honesta chamada La Otra. Uma metodologia de trabalho semelhante à do 24/7 é visível no White Cubicle, um projecto subsequente que nasceu da experiência do 24/7. A casa de banho dá a oportunidade a artistas conhecidos e desconhecidos, de realizarem algo num formato pequeno e para um público que não é necessariamente o público da arte, mas sim as pessoas que bebem num pub. Deste modo, é um projecto extremamente local, para um determinado espaço público. Os projectos são realizados especificamente para a casa de banho e o que todos os artistas têm em comum é o facto de beberem todos no pub.


P: E antes de vires para Londres? Que actividades desenvolvias no México? E o que te trouxe para cá?

R: Deixei o México em Setembro de 1997, há dez anos. Tinha estudado arquitectura mas tinha-me envolvido no mundo da arte após ter terminado os meus estudos em 1994. Nesse momento havia uma enorme crise económica, social e politica. Também não havia emprego. Juntamente com um grupo de amigos, comecei a desenvolver projectos artísticos numa casa abandonada. A maior parte deles eram muito ingénuos e totalmente auto-didactas. Também haviam outras pessoas a fazerem projectos na mesma altura, com as quais nos relacionávamos, Miguel Calderon na La Panaderia, Stefan Brüggemann no Art Deposit. Havia (e há) um grande comissário, Guillermo Santamarina, com quem toda a gente que é alguém expôs pela primeira vez no México. Ele era (é) incrível, pegava em pessoas da rua e transformava-os em artistas. A maior parte dos seus projectos de comissariado eram muito intuitivos e não tinham qualquer sentido. Eu considero-o um dos meus mestres. Ainda assim, o México era demasiado pequeno para mim e eu queria conhecer o mundo. O meu sonho era ir para Nova Iorque mas aterrei em Londres por engano, o que foi bom, porque estava totalmente afastado de qualquer referência mexicana.

Ao mesmo tempo, a cena artística no México tornava-se snob, as pessoas pressentiam um boom a acontecer, os comissários e os galeristas começavam a entrar num estado de comodidade e de mercado. Começou a tornar-se (e tornou-se) extremamente competitiva. Embora alguma da arte que aí se produz ainda seja interessante e/ou incrível, os artistas são um pouco como cães famintos a lutar pelo mesmo osso. Todos desejam secretamente tornar-se o novo Orozco e porque há tanto dinheiro envolvido no mercado... A ausência de uma economia e de um mercado simbólico implica que a maior parte dos trabalhos artísticos sejam realizados para o mercado internacional, e muitos deles nem sequer são expostos no México.

Mas voltando ao facto de ter saído do México, acho que nessa altura já não pertencia àquele lugar, era mais ou menos periférico, fazia um tipo de arte que existia entre a arte e a arquitectura e que o mundo da arte tinha dificuldade em compreender. Tive que deixar o México para permitir que algumas ideias amadurecessem, mas também para me libertar de um contexto e de uma história pessoal e nacional...
Já em Londres, a ausência de espaços de exposição fez com que me interessasse pelo comissariado e uma coisa levou à outra, através do comissariado conheci o Detmar Blow em 2004, que me convidou a abrir uma galeria com ele...


P: A Pablo International Magazine aborda temas muito diferentes, da arte e arquitectura à cultura gay. Como é que estes temas se relacionam entre si? Que tipo de leitores é que a revista tem?

R: O primeiro número da Pablo International Magazine saiu na Primavera de 2005. Embora já tivesse em mente a ideia de fazer uma revista intitulada Pablo há bastante tempo. Talvez tenha vindo da primeira vez que vi a revista Purple Sexe de Marcelo Krasilcic, em 1999, quando ele fotografava pessoas que encontrava, nuas, da forma mais natural possível e ainda assim conseguia provocar-me uma erecção. Também pode ter vindo da ausência de uma representação masculina interessante, com a qual me pudesse identificar nas revistas que lia ou com as quais colaborava.

Inspirou-me claramente a recordação das Playboys e das Penthouses que o meu pai costumava esconder no armário ou que eu costumava ler no barbeiro quando tinha 12 anos, em que artigos políticos e intelectuais (de Chomsky, Monsivais ou sobre a crise do petróleo) se combinavam com desdobráveis e uma secção intitulada Fórum, na qual os leitores partilhavam as suas experiências sexuais (que em raros momentos eram homossexuais/bissexuais).

Creio que outra influência, foram as revistas que a minha mãe comprava, como Good Housekeeping ou outras mais modernas com os nomes dos editores, como Oprah ou Martha Stewart’s Living, que dão conselhos sobre actividades diárias para os leitores actuais. Havia também STH de Nova Iorque, dos anos 1970 e, mais recentemente, a Butt, ambas com um formato parecido, mas com um ponto de vista muito mais Norte Europeu/Norte Americano. Também Macho Tips, uma revista versão mexicana semelhante, do final dos anos 1980, que mostrava modelos nacionais, morenos e escanzelados, em vez dos estereótipos loiros de olhos azuis. No final de contas, a Pablo International Magazine junta tópicos extremamente contraditórios: arte, homens e arquitectura, o macho sem ser rude, o sério com o superficial, o erótico com o intelectual, o tropical com o actual, todos com uma visão muito pessoal. A Pablo Magazine é distribuída em cerca de 20 cidades numa ou duas lojas em cada cidade, por vezes é numa loja trendy ou gay, numa loja de roupa ou numa galeria. Queria ter uma estrutura para a produzir e a distribuir de forma mais regular, mas ao mesmo tempo é uma publicação muito pessoal, sobre coisas e pessoas de quem gosto e com as quais tenho um diálogo. Os leitores oscilam entre o público da arte e o público sexual, algures no meio destes dois. Não creio que toda a gente se interesse pela Pablo Magazine, mas devido ao seu conteúdo estranho e contraditório, talvez o leitor possa aprender e encontrar coisas que não esperava e expandir os seus horizontes intelectuais, estéticos e sexuais. De forma semelhante à White Cubicle Gallery, a Pablo International Magazine explora a relação com grupos muito específicos, no caso da White Cubicle criando redes locais, no caso da Pablo Magazine, redes internacionais.


P: Ainda relativamente à Pablo Magazine, tenho tido a impressão que as abordagens mais interessantes à arte contemporânea vêem de plataformas que apresentam uma tipologia indefinida no mapa da cultura contemporânea, oscilando da moda à música e a práticas mais mundanas. Qual é a tua visão relativamente a este tema? Estará, digamos, a Purple Magazine a substituir a Afterall em termos de interesse, frescura e actualidade?

R: Sim e Não. Sim, existe um contacto imediato com a experiência contemporânea que é conseguido pelas práticas mais superficiais e que o pensamento mais intelectual por vezes não compreende, ignora ou elabora demasiado. Por outro lado, existe sempre o risco de, ao tentar utilizar práticas mundanas para chegar a audiências mais vastas de um modo mais democrático, os discursos se empobreçam. Penso que uma parte da procura das práticas estéticas seja capaz de negociar com estas condições e de existir entre o intelectual e o superficial. Creio que a Purple Magazine por vezes está demasiado fascinada com o culto da personalidade e com o brilho ao seu redor enquanto a Afterall tenta encontrar os artistas obscuros, desconhecidos e sobretudo Europeus/Norte Americanos. Acho que ambas se complementam e que existe a possibilidade das duas posições coexistirem.


P: Em dois anos, a Blow de la Barra conseguiu instalar-se no difícil mundo da arte contemporânea londrina. A tua galeria é vista como um dos espaços mais interessantes, que estabelece um diálogo entre a actividade da cidade e uma grande quantidade de artistas que são bastante jovens e recentes para o mercado inglês. Qual é a tua abordagem na galeria? Quais são os objectivos do programa que desenvolves?

R: Obrigada por veres as coisas dessa forma. Acho que só tentamos fazer aquilo que nos parece correcto. Para mim, é muito importante tentar responder à cena artística londrina existente com um diálogo e uma prática que não existem em Londres. Seria aborrecido se tentássemos repetir ou copiar algo que já existia. Por vezes penso que a cena artística de Londres está excessivamente marcada pelo consumo, a cidade é um mercado e as pessoas frequentam as escolas de arte para produzir produtos artísticos. Acho que tento introduzir um pensamento artístico, discursos e estéticas que complementam esta faceta e que inserem preocupações estéticas que ultrapassam o fetichismo romântico. Não é fácil. Blow de la Barra é também um projecto de colaboração com Detmar Blow, o que implica que as decisões e a programação sejam também parte de um diálogo com ele, mas também parte de um trabalho de equipa com a Carmen, que trabalha connosco e com os artistas que representamos. Acho que o que estamos a tentar fazer é operar como uma galeria comercial formal, mas dentro disto introduzimos elementos surpresa e mudanças nos sistemas das galerias, apresentando exposições que têm um aspecto convencional mas que têm sempre outra faceta. As pessoas estão a começar a perceber o que estamos a fazer, e isso é positivo. Penso que uma das vantagens de estar em Londres é a possibilidade de coexistência de tantos discursos e práticas. Não é como se só existisse uma cena. Para além disso, o efeito do que realizas amplifica-se... Também gosto muito do blog da galeria, penso que a internet também amplifica os discursos e expõe e dá continuidade a propostas e a artistas que por vezes não podemos mostrar dentro do espaço de exposição.


P: Tens uma relação forte com o Brasil, que é visível através de “Os Barbicanistas”, uma proposta de exposição que nunca aconteceu, que realizaste juntamente com o comissário italiano Francesco Manacorda ou através do número especial da Pablo Magazine #3, sobre o edifício Copan em São Paulo. Para além disso, a última exposição de Blow de la Barra era de Erika Verzutti, uma artista brasileira. E Portugal? Tens alguma relação ou intercâmbios culturais com o nosso país? Tens uma visão ou alguma opinião particular da cena artística portuguesa?

R: Sim, há de facto uma relação forte com o Brasil, mas também tenho contactos com outros locais e contextos: Cidade do México, Londres, Porto Rico, Espanha, Paris, Atenas, Bogotá, Caracas, Los Angeles... É como uma constelação de lugares com os quais investi estética e sentimentalmente durante os últimos 10 anos e onde criei relações e discursos com agentes estéticos. Acho que no caso do Brasil, se tornou numa morada intelectual/estética adoptada, em parte devido ao legado do modernismo neste país, em parte devido à relação com o trabalho de Hélio Oiticica. O México, por exemplo, tem um peso histórico muito mais marcante e não se deram estas práticas estéticas revolucionárias. O que me interessou tanto no meu primeiro contacto com o Brasil foi a possibilidade de uma megacidade cosmopolita que não fosse nem Norte Americana nem Europeia. Para além disso, tenho muitos amigos brasileiros que vivem exilados em Londres, muitos de São Paulo, mais do que brasileiros, eles são Paulistas e são extremamente contemporâneos, urbanos, não o cliché da Favela Chic. Tenho um constante diálogo com eles e eles fazem parte do meu público. O Rio é outra história, é mais sensual, por estar num estado onírico, mas também com desigualdades sociais muito maiores, e depois Brasília é como estar num futuro passado... Acho que mais do que uma relação com o Brasil ou a qualquer ideia de identidade nacional, há algumas ideias que me interessa explorar, a ideia de tropicalismo, antropofagia, etc... Acho que o que me ligou ao Brasil foi o meu contacto com Lisboa. Estive em Lisboa antes de estar no Brasil e fiquei fascinado. Se vais a Lisboa há este peso da história, a sua tristeza e o Rio é como o alter-ego de Lisboa. É como se Portugal e Lisboa se tivessem libertado depois de terem cruzado o Atlântico e se tivessem tropicalizado. Observas os mesmos padrões a preto e branco da calçada, mas enquanto em Lisboa eles são geométricos e medievais, no Rio são orgânicos e oscilam livremente. Não conheço bem a cena artística lisboeta e o seu contexto. Só estive aí duas vezes, e durante muito pouco tempo, uma em 1990 e outra em 2005. Dá-me ideia que é um ambiente hermético e bastante fechado nacionalmente, sem muito diálogo com o contexto internacional. Mas também pode ser só uma impressão e posso estar enganado.


P: E o que se segue na agenda? Novos projectos, exposições, actividades?

R: Não sei. Acho que a Pablo Magazine, o White Cubicle e a Blow de la Barra vão continuar a existir durante bastante tempo. Por vezes acho que quero tornar-me mais sério, penso que estou a crescer... Queria realizar mais publicações, independentemente da Pablo Magazine, algumas das minhas coisas têm-se acumulado ao longo dos últimos 10 anos, mas também algumas publicações de artistas, algumas coisas antigas e outras novas...

Também queria repensar mais no papel de uma galeria comercial na produção cultural e no envolvimento dos artistas no sistema das galerias, algo no qual a galeria assuma um papel menos paternalista e mais uma relação horizontal de parceria, talvez algo parecido com uma cooperativa com uma estrutura aberta e flexível... Por outro lado, também queria rever o papel da galeria nas feiras de arte; assumindo que as feiras de arte são lojas para produtos de arte seria interessante inserir discursos inteligentes na sua prática... Também queria que a Blow de la Barra continuasse a agir internacionalmente num contexto local, abrindo espaços temporais como o que tivemos em Atenas, em diferentes cidades. Talvez esta fosse uma oportunidade para comprometer-me com Lisboa...

Para além disso, a continuação de alguns projectos de comissariado que tenho vindo a desenvolver com outras pessoas durante os últimos anos, um sobre artistas e a ideia de casa, com a Maria Inês Rodriguez, um em São Paulo com a Lígia Nobre e a Catherine David e outro provável projecto sobre as práticas contemporâneas da América Latina com Stefan Kalmar...

E há sempre surpresas, se as coisas se tornarem chatas, se me tornar demasiado profissional ou sério, ou somente interessado no dinheiro, prefiro reformar-me ou mudar de profissão...



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