Links

ENTREVISTA


Paulo Lisboa no seu atelier. © Ricardo Geraldes


Paulo Lisboa e Catarina Patrício no atelier. © Ricardo Geraldes


Vista do atelier de Paulo Lisboa. © Ricardo Geraldes


Maquete no atelier de Paulo Lisboa. © Ricardo Geraldes


Maquete no atelier de Paulo Lisboa. © Ricardo Geraldes


Vista do atelier de Paulo Lisboa. © Ricardo Geraldes


Vista do atelier de Paulo Lisboa. © Ricardo Geraldes


Vista do atelier de Paulo Lisboa. © Ricardo Geraldes


Vista do atelier de Paulo Lisboa. © Ricardo Geraldes


Vista do atelier de Paulo Lisboa. © Ricardo Geraldes


Vista do atelier de Paulo Lisboa. © Ricardo Geraldes


Vista da cave no atelier de Paulo Lisboa. © Ricardo Geraldes


Vista da exposicao de Paulo Lisboa Ciclóptico, 2023, MAAT. © Ricardo Geraldes


Vista da exposicao de Paulo Lisboa Ciclóptico, 2023, MAAT. © Ricardo Geraldes

Outras entrevistas:

ROMY CASTRO



AIDA CASTRO E MARIA MIRE



TITA MARAVILHA



FERNANDO SANTOS



FABÍOLA PASSOS



INÊS TELES



LUÍS ALVES DE MATOS E PEDRO SOUSA



CATARINA LEITÃO



JOSÉ BRAGANÇA DE MIRANDA



FÁTIMA RODRIGO



JENS RISCH



ISABEL CORDOVIL



FRANCISCA ALMEIDA E VERA MENEZES



RÄ DI MARTINO



NATXO CHECA



TERESA AREGA



UMBRAL — ooOoOoooOoOooOo



ANA RITO



TALES FREY



FÁTIMA MOTA



INÊS MENDES LEAL



LUÍS CASTRO



LUÍSA FERREIRA



JOÃO PIMENTA GOMES



PEDRO SENNA NUNES



SUZY BILA



INEZ TEIXEIRA



ABDIAS NASCIMENTO E O MUSEU DE ARTE NEGRA



CRISTIANO MANGOVO



HELENA FALCÃO CARNEIRO



DIOGO LANÇA BRANCO



FERNANDO AGUIAR



JOANA RIBEIRO



O STAND



CRISTINA ATAÍDE



DANIEL V. MELIM _ Parte II



DANIEL V. MELIM _ Parte I



RITA FERREIRA



CLÁUDIA MADEIRA



PEDRO BARREIRO



DORI NIGRO



ANTÓNIO OLAIO



MANOEL BARBOSA



MARIANA BRANDÃO



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO E SANDRA VIEIRA JÜRGENS



INÊS BRITES



JOÃO LEONARDO



LUÍS CASTANHEIRA LOUREIRO



MAFALDA MIRANDA JACINTO



PROJECTO PARALAXE: LUÍSA ABREU, CAROLINA GRILO SANTOS, DIANA GEIROTO GONÇALVES



PATRÍCIA LINO



JOANA APARÍCIO TEJO



RAÚL MIRANDA



RACHEL KORMAN



MÓNICA ÁLVAREZ CAREAGA



FERNANDA BRENNER



JOÃO GABRIEL



RUI HORTA PEREIRA



JOHN AKOMFRAH



NUNO CERA



NUNO CENTENO



MEIKE HARTELUST



LUÍSA JACINTO



VERA CORTÊS



ANTÓNIO BARROS



MIGUEL GARCIA



VASCO ARAÚJO



CARLOS ANTUNES



XANA



PEDRO NEVES MARQUES



MAX HOOPER SCHNEIDER



BEATRIZ ALBUQUERQUE



VIRGINIA TORRENTE, JACOBO CASTELLANO E NOÉ SENDAS



PENELOPE CURTIS



EUGÉNIA MUSSA E CRISTIANA TEJO



RUI CHAFES



PAULO RIBEIRO



KERRY JAMES MARSHALL



CÍNTIA GIL



NOÉ SENDAS



FELIX MULA



ALEX KATZ



PEDRO TUDELA



SANDRO RESENDE



ANA JOTTA



ROSELEE GOLDBERG



MARTA MESTRE



NICOLAS BOURRIAUD



SOLANGE FARKAS



JOÃO FERREIRA



POGO TEATRO



JOSÉ BARRIAS



JORGE MOLDER



RUI POÇAS



JACK HALBERSTAM



JORGE GASPAR e ANA MARIN



GIULIANA BRUNO



IRINA POPOVA



CAMILLE MORINEAU



MIGUEL WANDSCHNEIDER



ÂNGELA M. FERREIRA



BRIAN GRIFFIN



DELFIM SARDO



ÂNGELA FERREIRA



PEDRO CABRAL SANTO



CARLA OLIVEIRA



NUNO FARIA



EUGENIO LOPEZ



JOÃO PEDRO RODRIGUES E JOÃO RUI GUERRA DA MATA



ISABEL CARLOS



TEIXEIRA COELHO



PEDRO COSTA



AUGUSTO CANEDO - BIENAL DE CERVEIRA



LUCAS CIMINO, GALERISTA



NEVILLE D’ALMEIDA



MICHAEL PETRY - Diretor do MOCA London



PAULO HERKENHOFF



CHUS MARTÍNEZ



MASSIMILIANO GIONI



MÁRIO TEIXEIRA DA SILVA ::: MÓDULO - CENTRO DIFUSOR DE ARTE



ANTON VIDOKLE



TOBI MAIER



ELIZABETH DE PORTZAMPARC



DOCLISBOA’ 12



PEDRO LAPA



CUAUHTÉMOC MEDINA



ANNA RAMOS (RÀDIO WEB MACBA)



CATARINA MARTINS



NICOLAS GALLEY



GABRIELA VAZ-PINHEIRO



BARTOMEU MARÍ



MARTINE ROBIN - ChĂąteau de ServiĂšres



BABETTE MANGOLTE
Entrevista de Luciana Fina



RUI PRATA - Encontros da Imagem



BETTINA FUNCKE, editora de 100 NOTES – 100 THOUGHTS / dOCUMENTA (13)



JOSÉ ROCA - 8ÂȘ Bienal do Mercosul



LUÍS SILVA - Kunsthalle Lissabon



GERARDO MOSQUERA - PHotoEspaña



GIULIETTA SPERANZA



RUTH ADDISON



BÁRBARA COUTINHO



CARLOS URROZ



SUSANA GOMES DA SILVA



CAROLYN CHRISTOV-BAKARGIEV



HELENA BARRANHA



MARTA GILI



MOACIR DOS ANJOS



HELENA DE FREITAS



JOSÉ MAIA



CHRISTINE BUCI-GLUCKSMANN



ALOÑA INTXAURRANDIETA



TIAGO HESPANHA



TINY DOMINGOS



DAVID SANTOS



EDUARDO GARCÍA NIETO



VALERIE KABOV



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO



PAULO REIS



GERARDO MOSQUERA



EUGENE TAN



PAULO CUNHA E SILVA



NICOLAS BOURRIAUD



JOSÉ ANTÓNIO FERNANDES DIAS



PEDRO GADANHO



GABRIEL ABRANTES



HU FANG



IVO MESQUITA



ANTHONY HUBERMAN



MAGDA DANYSZ



SÉRGIO MAH



ANDREW HOWARD



ALEXANDRE POMAR



CATHERINE MILLET



JOÃO PINHARANDA



LISETTE LAGNADO



NATASA PETRESIN



PABLO LEÓN DE LA BARRA



ESRA SARIGEDIK



FERNANDO ALVIM



ANNETTE MESSAGER



RAQUEL HENRIQUES DA SILVA



JEAN-FRANÇOIS CHOUGNET



MARC-OLIVIER WAHLER



JORGE DIAS



GEORG SCHÖLLHAMMER



JOÃO RIBAS



LUÍS SERPA



JOSÉ AMARAL LOPES



LUÍS SÁRAGGA LEAL



ANTOINE DE GALBERT



JORGE MOLDER



MANUEL J. BORJA-VILLEL



MIGUEL VON HAFE PÉREZ



JOÃO RENDEIRO



MARGARIDA VEIGA




PAULO LISBOA


29/01/2024

 

 

Conversámos com Paulo Lisboa no atelier onde trabalha há já 10 anos. O atelier, uma antiga loja de tintas e solventes à praça Paiva Couceiro – também uma barbearia a avaliar por alguns vestígios lá encontrados – é um espaço-tempo onde a acumulação e a projeção se relacionam produtivamente. A configuração do espaço por níveis – com primeiro piso (o escritório, do processo mental ao burocrático), a loja e a sobreloja (a oficina de trabalho) e ainda uma cave obscura (onde nunca se vai mas onde se guarda tudo) reforçam um psiquismo que faz do atelier um ator no sentido mais pulsante que lhe deu Bruno Latour da Teoria do Ator-Rede. Nesta entrevista conheça-se o espaço criativo de Paulo Lisboa, cujo trabalho mais recente pode ser visitado na exposição de desenho e instalação Ciclóptico, com curadoria de Sérgio Mah, a ver no MAAT até 11 de março.


Por Catarina Patrício

 

 

>>>

 

 

Catarina Patrício: em que medida é que o teu atelier é um companheiro de trabalho? Vens para o atelier mesmo quando não tens ideias? Forças-te a vir aqui?

Paulo Lisboa: Venho, venho quase diariamente. Em alturas como esta, em que acabei uma exposição há pouco tempo, posso não vir diariamente. Mas sim, o meu trabalho tem muito a ver com experimentação, o atelier é essencial, umas vezes experimento coisas, outras vezes se não tiver ideia nenhuma posso só varrê-lo, arrumá-lo. Sim, é uma espécie de uma cápsula onde está o trabalho. Não quer dizer que não pense o trabalho fora do atelier, mas aqui é que é o sítio da ação, tanto mental como física.

C.P.: O teu atelier tem 4 pisos. Sentes que há atividades específicas para cada um deles?

P.L.: Sim, existem, mas isso tem mais que ver com as condicionante do espaço. Como o meu trabalho faz muito lixo, é um trabalho um bocado sujo (risos), quando estou a trabalhar em desenho preciso de um bom arejamento. Esta sala, que é a maior, é onde eu trabalho essas coisas. Depois tento manter outras salas mais limpas, para fazer outro tipo de trabalho.

C.P.: O piso mais acima será o espaço mental?

P.L.: Supostamente é o mais limpo, é onde faço maquetes, faço trabalho mais de escritório, que às vezes infelizmente é preciso.

C.P: Este teu piso de entrada, é a tua câmara social?

P.L.: Não é bem a câmara social porque eu não trago cá praticamente ninguém. Mas é um espaço limpo, onde vou arquivando as coisas, e onde tenho um maple para me sentar (risos).

C.P.: E também a tua mesa de luz.

P.L.: E a mesa de luz. Mas é curioso que aquele desenho grande que eu fiz para o Côa (Exposição colectiva, O Resto e o Gesto: Desenhos Para o Século XXI, Museu do Côa) em 2014 foi feito ali porque precisava de sítios no tecto para o agarrar e depois, como era muito grande, eu tinha de o mexer de uma vez e fiz um sistema com cordinhas que permitia mexer o desenho sozinho. Graças à mezzanine a estrutura já lá estava. Foi então feito ali.

C.P: E depois descemos, temos aqui ...

P.L.: Esta espelunca... (risos)

C.P.: Temos aqui ferramentas várias, de lápis a outros instrumentos, restos de trabalhos... (risos)

P.L.: Apesar de já ter dado uma limpeza, mas não se nota muito... (risos)

C.P.: Ainda tens uma cave de acesso difícil – que é uma dimensão tipo o Id na psicanálise, aquela que está refundida. O que é que metes ali?

P.L.: Coisas que sei que não vou mexer por muito tempo, tal como na psicanálise (risos).

C.P.: Sim, mas que estão sempre prontas para subir (risos).


A cave no atelier de Paulo Lisboa.

 

C.P.: Quais são as tuas maiores influências: obras, artistas, a vida, leituras, a música, ou pura e simplesmente o teu trabalho, essa ação de estar aqui no atelier?

P.L.: A ação de estar aqui no atelier é capaz de ser o mais importante. Eu não sigo muito inspirações de outros trabalhos – de outros artistas se calhar sigo, mas de uma forma um pouco inconsciente. Basicamente o que me interessa é trabalhar sobre o mundo e a forma como o mundo é percebido, mas sinto que o que me influencia mais são fundamentos dessa procura.

C.P.: Que conceitos é que povoam o teu trabalho? Que conceitos é que estão retidos, concentrados ou expandidos no teu trabalho?

P.L.: Há uma parte material muito importante, que tem a ver com geologia e com a forma como a luz reage com certos materiais... como já deves ter percebido eu tento não usar matérias processados, quero que a coisa seja o mais natural possível, embora haja aí um paradoxo porque o material com que eu trabalho aparece dessa maneira mas as superfícies muitas vezes são materiais tecnológicos recentes. Porque a superfície é só o plano onde a coisa vai acontecer, é o teatro das operações que eu depois promovo.

C.P.: Tu consideras que varias o suporte para trabalhares sempre uma sedimentação?

P.L.: Sim, e isso tem a ver com o material que eu vou utilizar. Não há superfícies naturais lisas, elas não existem naturalmente. Podem ser posteriormente trabalhadas, mas com a lisura que eu quero é mais difícil.

C.P.: Começaste na Galeria Graça Brandão, seguiu-se a Uma Lulik e, recentemente, passaste a ser representado pela Galeria Bruno Múrias. Qual o papel das galerias na profissionalização dos artistas?

P.L.: Eu acho que o meu trabalho existiria de qualquer forma. Eu sinto que tenho que fazer e se não fizesse isto não sei o que mais faria. Por outro lado há uma coisa que me interessa por si só, que é uma espécie de vibração da obra de arte quando chega a determinado ponto. Eu consigo vê-la e ela não é estática, e está a vibrar e tem uma força própria e, portanto, isso iria acontecer de qualquer maneira. Agora a Galeria ajuda muito a estruturar a forma como eu vou contextualizar as coisas, a estruturar o trabalho nos sítios certos...

C.P.: A pertencer a uma rede?

P.L.: Sim, a estar inserido numa rede também, e a organizar o corpo de trabalho.

C.P.: Qual o papel da arte e qual o papel da tua arte no mundo?

P.L.: Boa pergunta (silêncio). De certa maneira o que eu acabei de dizer explica isso. Que no fundo quando crias uma peça, estás a adicionar algo. Há bocado falei da vibração, podes não saber para que serve mas a coisa está lá e é um objeto que tem existência, e tem até vida – acho que posso dizer isso. Agora o papel, assim de um ponto de vista social, de transformação de mentalidades, eu acho que existe, mas não da forma tão direta como se tende a fazer hoje em dia. Há muitas maneiras de se praticar essa transformação e quase todas são melhores do que a arte.
A arte pode ser transformadora mas sem ter um papel definido ou uma função qualquer, sem se perceber bem qual é a transformação que existe. Vai-me acontecendo, de vez em quando, pessoas ficarem tocadas pela peça que mudou qualquer coisa nas suas cabeças. A arte tem, principalmente, um papel de desanimalização dos humanos porque de certa maneira elevam-nos – estou a falar de peças de arte contemporânea, ou de arte em geral, mas podia estar a falar de música, ou literatura ou de outra coisa qualquer que nos vai estruturando e nos vai tornando mais humanos.

C.P.: E foi esse o impulso que te levou à arte? Ou sentes que foi primeiro um impulso para a contemplação que depois se tornou ação?

P.L.: De certa maneira pode ter acontecido assim, mas numa altura em que eu me lembro muito pouco. Em criança era apaixonado por pintura e não fazia mais nada a não ser ler livros de pintura, até certa altura. Depois comecei a fazer outras coisas (risos).

C.P.: Como é que é um dia de trabalho teu?

P.L.: Difere muito. Se estiver numa onda de grande produção, venho para o atelier às 9 horas. Se estiver a trabalhar em desenho – tu sabes como é um trabalho pesado e repetitivo – portanto é uma cena de trabalho, não me pede grande coisa intelectualmente, e faço horário de trabalho: estou aqui às 9 horas, à hora de almoço como qualquer coisa, e depois fico aqui até às 6 horas. Se estiver noutra fase, com mais experimentações, vou experimentando coisas que penso durante a noite, e durante o dia venho para aqui e experimento – podem funcionar bem ou não. Ou então venho aqui passar só uma horita ou duas, a olhar para a parede... Isso na verdade é muito importante, até porque, como eu trabalho com projeções, ao olhar para a parede, com a luz sempre a mudar, há muitos trabalhos que vêm desses tempos “mortos” aqui no atelier.

 

 

 

:::

 

 

 

Paulo Lisboa (Lisboa, 1977), vive e trabalha em Lisboa.
Destacam-se as exposições Ciclóptico (MAAT– Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, Lisboa, 2023), The Last Photon on the Retina (Galeria Sabrina Amrani, Madrid, 2023), Um esqueleto entra no bar… (Fundação Leal Rios, Lisboa, 2020), Asterismo, Sequência para Piano, Guitarra e Projector (Fundação Serralves, Porto, 2019), Imagines Plumbi, (Galeria Graça Brandão, Lisboa, 2018), Secção (Casa-Museu Medeiros e Almeida, Lisboa, 2016), Plasma (Galeria Graça Brandão, Lisboa, 2016), Phosphora (Galeria Graça Brandão, Lisboa, 2015) e Plateau (Sala Bebé, Lisboa, 2010).


Catarina Patrício
Doutorada em Comunicação pela NOVA-FCSH, na especialidade Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias, realizou estudos de Pós-Doutoramento na mesma faculdade. Artista Visual, formada em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e Mestre em Antropologia pela NOVA-FCSH, é Professora no Departamento de Ciências da Comunicação e no Departamento de Cinema e Artes dos Media da ECATI [Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação], Universidade Lusófona, desde 2010. Investigadora integrada no CICANT, publica ensaios e expõe obra artística regularmente.