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EXPOSIÇÕES ATUAIS


© NVStudio / Cortesia Museu de Serralves


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ARQUIVO:


ALLORA & CALZADILLA

ENTELECHY




MUSEU DE SERRALVES - MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA
Rua D. João de Castro, 210
4150-417 Porto

12 MAI - 12 NOV 2023

Enteléquia, ideias e matérias, no Museu de Serralves

 


Jennifer Allora (1974, EUA) e Guilhermo Calzadilla (1971, Cuba) apresentam a sua primeira retrospetiva, no Museu de Serralves, de 13 de maio a 12 de novembro. Expõem obras recentes, a par de algumas das suas mais conhecidas previamente exibidas em instituições tais como o MoMA, a Tate Modern ou o MAXXI Roma.

Os artistas vivem em San Juan, Porto Rico, onde colaboram, desde 1995, numa prática experimental e multidisciplinar sustentada no cruzamento entre escultura, som, vídeo, fotografia e performance. É a partir daí que intersetam e abordam criticamente a simbiose entre história, geopolítica, sobretudo relativa ao pós-colonialismo, ecologia e cultura. Em suma, trata-se de um exercício artístico orientado para a investigação e para o pensamento. Em consonância, a atual exposição, com curadoria de Philippe Vergne e Inês Grosso e coordenação de Paula Fernandes, é extensa, ambiciosa, desafiante e, acrescente-se, profundamente sensorial.

Comece-se por discorrer sobre o título da mostra, Entelechy, conceito cunhado por Aristóteles referindo-se ao potencial de autorrealização e de força vital. Em linguagem comum, enteléquia traduz “estado do ser em ato, plenamente realizado, por oposição ao modo de ser em potência”. A obra que partilha o nome com a exposição dá, de certo modo, forma e imagem a este complexo léxico. Situada no piso inferior do museu, trata-se de uma impressionante escultura em carvão, esculpida a partir de uma árvore atingida por um raio. Da espécie pinheiro pinus sylvestris, foi recolhida na floresta de Montignac, em França, remetendo para a Gruta de Lacaux, descoberta durante a Segunda Guerra Mundial. Enquanto tal, evoca os mundos natural e humano e a dialética entre ambos, bem como problemáticas e reflexões tanto por relação ao conflito do período histórico em causa, como ao atual e, ainda, a crise ambiental.

Allora e Calzadilla partem, precisamente, de inúmeras e intrincadas questões e inquietações, locais e universais, para criarem uma série de objetos que, embora autónomos, conceptual e formalmente distintos, se unem e juntos constituem uma densa constelação de ligações dinâmicas. É entre e através destas que, ao longo da exposição, nos deslocamos, ou pelas quais nos deixamos conduzir e transmover, como que em suspenso.

Também representativa do trabalho dos artistas é a peça Blackout, composta por um transformador, cobre e eletricidade, elementos que se fazem acompanhar por uma composição de David Lang, vencedor do Pulitzer da música de 2008. Com o título Mains Hum (2017), exibe-se o objeto responsável pelo apagão da ilha de Porto Rico, em 2016, máquina agora reconfigurada enquanto aparelho de afinação musical.

Recorrendo aos curadores, “a equação entre a condutividade e a resistência é incerta e deixa em aberto a possibilidade de transmissão e rutura”. Ora, é justamente um confronto de forças e potências que demarca esta obra, esta exposição e, com efeito, toda a produção artística de Allora e Calzadilla.

Aponte-se, ainda, a distribuição orgânica de flores, cor-de-rosa e amarelas, ao longo da ala do museu. Criadas à imagem da cepa que floresce nas árvores tabebuia heterophylla, um carvalho nativo das Caraíbas, as flores enfatizam o fio condutor da exposição, completam a experiência estética, sobretudo no domínio visual, e estabelecem uma relação entre o interior do museu e o exterior, o parque de Serralves.

Como informam os curadores, as obras selecionadas para esta mostra “evidenciam a natureza interdisciplinar e colaborativa” do trabalho de Allora e Calzadilla e atravessam todo o seu percurso artístico. Neste sentido, recuperam-se peças tais como Chalk (1998), um conjunto de doze volumosas peças de giz branco. Agora dispostas na entrada norte do Parque da Cidade do Porto, convidam à intervenção do público, incentivando e suscitando a comunicação, o diálogo e a ligação social.

Destaque-se também Half-Mast/Full Mast, uma série de curtas-metragens sobre a ilha porto-riquenha Vieques, utilizada pela Marinha dos Estados Unidos entre 1941 e 2003 como terreno de teste para equipamento de guerra.

Os filmes projetam-se sob a forma de dípticos, unidos por uma linha definida por dois mastros. Nestes últimos, jovens equilibram-se na horizontal, até cederem, vencidos pela força da gravidade, no que se pode entender remeter para as fragilidades e vulnerabilidades do humano.

Acrescentam-se projetos performativos centrais na trajetória dos artistas, a serem ativados regularmente por músicos e artistas do Porto. Tal é o caso de Hope Hippo (2005), encomendado para a 51ª Bienal de Veneza, que habita, presentemente, o átrio de Serralves. Como explica Inês Grosso, o hipopótamo é uma subversão da estátua equestre, do monumento que glorifica o colonialismo, o imperialismo e a escravatura.

Reencontramos igualmente Stop, Repair, Prepare: Variations on ‘Ode to Joy’ for a Prepared Piano (2008), i.e., um piano Bechstein modificado, destinado a tocar a Nona Sinfonia de Beethoven, Ode à Alegria, mas de modo incompleto, na medida em que duas oitavas se encontram interrompidas por um recorte circular, operado pelos artistas, no próprio instrumento.

A partir daqui, considera-se que, à semelhança a escutar uma sinfonia, visita-se a exposição que se configura e emerge enquanto uma composição dinâmica, de cadência definida por objetos conexos uns aos outros, em ritmo compassado e, ao mesmo tempo, pulsante e vibrante.

 

 



CONSTANÇA BABO