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ENTREVISTA


Giulietta Speranza. © María Platero.


MADRIDFOTO 2011. © Eduardo B. Muñoz.


MADRIDFOTO 2011. © Eduardo B. Muñoz.


MADRIDFOTO 2011. © Eduardo B. Muñoz.


MADRIDFOTO 2011. © Eduardo B. Muñoz.


MADRIDFOTO 2011. © Eduardo B. Muñoz.


MADRIDFOTO 2011. © Eduardo B. Muñoz.


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GIULIETTA SPERANZA


Giulietta Speranza que dirige a MADRIDFOTO, esteve em Lisboa para apresentar o programa de actividades desta terceira edição da feira especializada em fotografia contemporânea que se realiza em Madrid, de 5 a 8 de Maio de 2011.
Aproveitámos a ocasião para lhe fazer algumas perguntas sobre a organização deste evento e sobre o mercado e o coleccionismo da fotografia internacional contemporânea. As feiras e o mercado sobreviverão a este tempo de crise?


Por Sandra Vieira Jürgens
Lisboa, 14 de Abril de 2011




P: Como será esta edição da MADRIDFOTO em tempos de crise? Até que ponto estes momentos exigem uma mudança de estratégia em relação a edições anteriores?

R: A MADRIDFOTO nasceu em tempo de crise e já estamos habituados. Chegámos à terceira edição e acredito que podemos trabalhar com a experiência dos primeiros dois anos, tentando apoiar a qualidade da fotografia apresentada pelas galerias. Acho que em tempos de crise, temos que oferecer qualidade e não quantidade. Prefiro uma feira mais pequena mas que conserve um interesse real sobre a fotografia que se está a vender, tanto para os coleccionadores como para os galeristas. Esta tem sido a estratégia que sigo, e que foi apoiada pelos investidores da feira, que é uma entidade privada. É efectivamente muito difícil mas já chegámos à terceira edição e assim continuaremos.


P: Como vês a situação actual do mercado? Há mais confiança? O pior já passou?

R: O ano passado foi muito duro em Espanha mas tenho a sensação que este ano o panorama é um pouco menos dramático. Na arte, e em especial na fotografia, as pessoas que têm realmente capacidade aquisitiva continuam a comprar obras. Podem ter mais medo e comprar peças menos caras mas não deixam de comprar.


P: Achas que há diferenças entre o mercado de fotografia e o da arte em geral?

R: O mercado da fotografia está a criar-se. Com base na minha experiência, acho que os coleccionadores de fotografia - e refiro-me à fotografia-fotografia, não apenas à técnica fotográfica que um artista plástico pode usar - são mais reservados e não mostram muito as suas colecções. São muitas vezes fetichistas, gostam de ter a primeira impressão de prata do ano tal e valorizam a dimensão técnica para além da estética, o que marca uma grande diferença em relação aos coleccionadores da arte contemporânea em geral. O mercado ainda não influenciou tanto o gosto dos coleccionadores de fotografia. Como é um mercado mais pequeno há colecções muito variadas. A história da fotografia é muito recente, tem um século e meio, e as colecções tendem a ser mais temáticas e intimistas. Há colecções de paisagens, nos Estados Unidos há uma colecção só de mãos... São colecções que revelam um gosto muito singular. Regra geral, não são pensadas como investimento .


P: Há vários mercados de fotografia?

R: A fotografia-fotografia tem um mercado e há um outro em que ela se mistura com a arte contemporânea. Nesse sentido pode dizer-se que há dois mercados.


P: No momento actual qual tem mais procura ou está mais consolidado?

R: Continua a ser o contemporâneo, mas creio que a situação poderá alterar-se. O mercado da fotografia vintage está a crescer. Por exemplo, antes, na feira de Basel, só se via trabalhos em que a fotografia era usada como técnica no âmbito da arte contemporânea, mas agora começa a ver-se outras peças, fotografia dos anos sessenta já com um preço de mercado muito alto. E creio que vai subir.


P: Na medida em que existe uma integração tão forte da fotografia com a arte contemporânea, faz sentido uma feira especializada em fotografia?

R: Quando começámos a pensar nesta ideia de feira percebi muito claramente que a fotografia a preto e branco, pequena, de rua, não tinha muita presença nas feiras de arte porque quase não se conseguia ver, estava escondida no meio de trabalhos de instalação, de escultura e achei que seria vantajoso colocá-la numa situação de igualdade. Considero que é importante existirem feiras especializadas, sobretudo de fotografia, porque existe também muito para descobrir.


P: E que significado atribuis ao facto das galerias portuguesas presentes, sejam de arte contemporânea, não especializadas em fotografia?

R: Aqui em Portugal não há de facto muitas galerias especializadas em fotografia e acontece a mesma coisa em Espanha. Mas em outros países como em França, Alemanha ou em Nova Iorque há muitas galerias especializadas. Eu venho do mundo da arte e provavelmente isso também determina que na MADRIDFOTO exista essa combinação. Eu gostaria que houvesse uma distribuição de 50% - 50%, e não há, mas penso que chegaremos lá.


P: E que ideia tens sobre o mercado de arte português?

R: Os coleccionadores que conheço são grandes coleccionadores, são pessoas muito calmas, seleccionam com critérios muito pessoais e sérios, e gosto da maneira como o fazem. Não o conheço muito bem, não creio que seja um grande mercado mas está a consolidar-se. Existem muitos bons coleccionadores e também existe muita relação com o Brasil. Acho que Portugal está mais aberto à Europa do que Espanha. Os portugueses falam mais línguas, interessam-se mais pelo que sucede fora do país. Em Espanha isso começa a mudar agora.


P: Quais são as tuas galerias de referência para a fotografia?

R: Em Espanha, a Spectrum Sotos, a Visor e, no plano internacional, a Gallery Taik (Helsínquia/Berlim), a Magnum Gallery (Paris) e, em Nova Iorque, a Laurence Miller Gallery e a Bonni Benrubi Gallery, que são galerias mais clássicas.


P: Como se processa a selecção de galerias em MADRIDFOTO?

R: No ano passado tínhamos um comité, mas este ano, dado a dificuldade que há em concentrar um número suficiente de galerias para poder organizar uma feira, o que fiz foi apoiar-me em embaixadores que são pessoas relevantes no mundo da fotografia internacional e nacional que fizeram contactos com as galerias. Eu trabalho com cada uma das galerias, não faço uma selecção. Dirijo-me àquelas que espero que possam vir a participar e trabalho com os projectos que me apresentam.


P: E qual é a inspiração do vosso modelo?

R: Trabalhar desta maneira foi mais uma necessidade. Neste caso não seguimos um modelo. Há que criar a feira e não podemos estar à espera que as candidaturas nos cheguem. Nos restantes aspectos o modelo é a Paris Photo. No fundo é a única. A de Miami creio que já não se realizou este ano. Penso que também há uma na Ãsia, em Seul, mas essa não a conheço. As galerias do Japão também são muito boas, mas só vêm uma vez à Europa e vão evidentemente à Paris Photo. É lógico.


P: E como vês o mercado da edição de livros de fotografia? É um mercado paralelo à fotografia? Tem futuro?

R: Creio que sim, tem que tê-lo. Muitas vezes até é melhor comprar livros, até porque a fotografia é bidimensional e pode imprimir-se com grande qualidade. Podes ver muito melhor o fio lógico de uma série de um grande fotógrafo num livro do que vê-la de pé, frente à parede. Acredito muito no futuro das edições.
No mercado da fotografia há um outro problema que é o da numeração limitada. Na realidade até há muito pouco tempo, cerca de cinquenta anos, os fotógrafos não numeravam as suas fotografias. Fotógrafos como Cartier Bresson ou Kertész, nunca numeravam as obras pois eram eles que faziam as cópias e nenhuma era igual. Eram todas exemplares únicos e isso agora constitui um problema para o mercado de fotografia, pois muitos coleccionadores não entendem bem a existência destas edições muito amplas. Neste aspecto Duchamp contribuiu muito para a arte mas deixou muitas pontas soltas! E neste momento ainda não sabemos muito bem como solucionar este aspecto das várias edições.


P: Como está a fotografia contemporânea espanhola?

R: apesar da fotografia espanhola não ser conhecida no estrangeiro há muitos bons fotógrafos em Espanha. Há os mais conhecidos como Cristina García Rodero e Alberto García Alix, e muitos outros, como Baylón, Javier Campano, Pedro Albornoz... que têm um trabalho de grande qualidade.


P: Que conselho darias a um coleccionador que quer começar a comprar agora fotografia?

R: Que compre o que goste, não pensando só no investimento. Isso é fundamental. Actualmente, com tantos problemas económicos que existem, a colecção tem que ser algo que dê prazer. Deve-se comprar por prazer dentro do orçamento que cada um tem para gastar. Na fotografia, acho que é importante olhar, olhar muito antes de comprar. Mas não é só comprar porque se gosta… Isso não acrescenta nada à colecção. Por exemplo, na fotografia clássica, vintage, o essencial é começar pelos livros e quando já se tem um pouco mais de critério próprio, comprar uma boa fotografia. Também é importante participar nos eventos associados à fotografia. Depois depende, se é uma colecção de arte onde há que incluir fotografia, ou se se quer fazer uma colecção ex nuovo de fotografia tout court. A mim parece-me muito simples mas talvez não seja assim tanto.


P: Qual foi o teu percurso até chegares à direcção artística da MADRIDFOTO?

R: Sou italiana, estudei história da arte em Itália e o meu pai é coleccionador de arte contemporânea. Quando estava a viver em Itália recebi uma bolsa para trabalhar no MoMA (The Museum of Modern Art) e fiquei lá dois anos. Foi lá que comecei a ver realmente como é o sector público e o privado da arte e como se pode constituir uma colecção. Foi uma experiência que me marcou muito. Ajudou-me muito a entender a realidade dos museus. A estrutura do MoMA parece mágica e é essencial para entender como se deve estruturar uma gestão cultural em arte contemporânea.
Daí cheguei a Madrid com uma outra bolsa europeia, a Leonardo, e comecei a trabalhar no Reina Sofía, onde fiquei sete anos e aprendi muito. Nos primeiros tempos dediquei-me ao registo, algo que ninguém sabe o que é, mas que constitui a espinha dorsal de um museu. A seguir passei para a coordenação e acabei por trabalhar com o subdirector do museu, o Enrique Juncosa.
Mais tarde passei para a PhotoEspaña, onde trabalhei com o Horácio Hernández durante os três anos em que ele foi o director artístico do festival. Cheguei então às feiras. Pelo meio faço ainda projectos de comissariado com um colectivo que se chama Doméstico, em Madrid.


P: Numa entrevista que li falavas numa certa desconfiança que tinhas em relação ao papel dos comissários.

R: Sim. Respeito muito os comissários mas pessoalmente não me vejo capaz de defender um discurso escolhendo uma obra aqui e outra ali. Gosto mais de conhecer toda a obra de um artista e defendê-lo. Às vezes fazem-se estas exposições onde é muito fácil ter uma obra que defenda o que tu queres dizer mas... talvez isso não seja o que o artista está a querer dizer. Este é o tipo de exposições que não gosto de ver. Há exposições muito boas e comissários maravilhosos que fazem muito bem o seu trabalho. Se queres defender um conceito, toda a obra do artista deve estar dentro desse conceito, não podemos escolher as obras como se fossemos a “estrelaâ€. Tenho mais consideração pela pirâmide do mundo da arte em que no topo estão os artistas e não os comissários. Já os directores de feira, esses estão muito abaixo na hierarquia ….!! São gestores. Eu fui sempre gestora e não tenho nenhum problema com isso.


P: O que é que nos oferece esta edição da MADRIDFOTO?

R: Fizemos um finca pé em Paris e de lá vêm cinco galerias muito diferentes entre si, que podem dar um espectro alargado de como se pode trabalhar com a fotografia. Não gosto da ideia do país convidado, mas tento sempre que venham galerias estrangeiras que possam dar um contributo importante para os nossos galeristas e para todos os interessados em ver boa fotografia.
Esta edição da feira é bastante internacional e estou contente por isso. Quase metade das galerias, 60% delas, são espanholas e 40% são estrangeiras. Estou confiante. É uma feira pequena, mas cuidada e com bons projectos.


P: Como vês o futuro?

R: Queremos consolidar a MADRIDFOTO no panorama internacional. Desejamos que seja cada vez mais reconhecida tanto a nível internacional como nacional. Espero que vá crescendo um pouco mais, pois de momento temos 50 galerias, o que é realmente muito pouco.


P: Na MADRIDFOTO fazem parcerias com outras instituições?

R: Temos um contacto directo com algumas instituições, sobretudo com as que se dedicam à fotografia mas nunca lhes pedimos que participem com um stand na feira. Temos é acordos verbais para que venham comprar obras. E há depois alguns sponsors, como o El Corte Inglés, ou Hermès, que são marcas que apresentam obras de fotografia na feira. A Comunidade de Madrid também dá um prémio durante a feira que é muito importante para nós.


P: Em relação à localização da feira, na primeira edição estiveram no recinto da Ifema, na segunda foram para o centro da cidade e agora regressam à Ifema. O que é que se passou?

R: Eu estava convencida, muito por influência da Paris Photo que era importantíssimo estar no centro da cidade para que viesse mais gente. Mas no ano passado não foi assim. Veio a mesma quantidade de pessoas que vieram à Ifema no primeiro ano e tivemos muito mais problemas do que vantagens por estar no centro de Madrid. Foi por isso que decidimos voltar de novo à Ifema. Para regressarmos ao centro, talvez seja necessário ter uma feira mais consolidada. Talvez seja também necessário encontrar um lugar mais adequado.


P: A Ifema tem uma grande tradição?

R: Exacto. Os galeristas estrangeiros também se sentem melhor na Ifema, a entrada de obras é mais fácil e existem outras vantagens muito práticas, os bares... Nós também fazemos a JUST MADRID, que está localizada no centro, mas nesse caso não faz sentido estar na Ifema, porque é lá que se realiza a ARCO.


P: E sentes que existem muitas expectativas em relação à edição deste ano?

R: Creio que há mais expectativas do que no ano anterior, tenho uma sensação positiva. Há mais interesse e do ponto de vista dos coleccionadores recebemos também muitos pedidos de visita. Creio também que nós neste ano, desde Setembro de 2001, quando começámos a trabalhar mais fortemente, decidimos que não obstante a crise iríamos fazer a melhor feira que pudéssemos. Como muita gente, pensámos: se esta tiver que ser a última, que seja a melhor. E creio que isso está a dar resultados. Tenho muito boas expectativas. A JUST MADRID, que se realizou em Fevereiro passado, correu muito bem. Eu parece que nunca tinha visto uma coisa assim, as galerias vendiam tudo e eu estava muito contente. Antes de realizarmos estas duas feiras, a MADRIDFOTO e a JUST MADRID, a nossa equipe da Artaffairs nunca tinha feito nenhuma feira. Necessitávamos de um período de rodagem e agora estamos de facto mais fortes.



MADRIDFOTO
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