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SNAPSHOT. NO ATELIER DE...




Adrian Conde Novoa no seu atelier, 2020. Cortesia do artista.


Alive and Well (2018).


Painting is not dead, carallo! (2018).


Describe Yourself As An Artist (2019).


No gallery, no girlfriend, no whiskey 1 (2019).


Art Contest Poster (2019).


The moment I realized I was an artist (2019).


Art Meme For Instagram (2019).


España y Olé (2019).


La Nueva Normalidad (2020).


En lo normal no hay nada nuevo (2020).


Dive Porto (2020).







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São Trindade



Inez Teixeira



Binelde Hyrcan



António Júlio Duarte



Délio Jasse



Nástio Mosquito



José Pedro Cortes




ADRIAN CONDE NOVOA

CATARINA REAL


16/02/2021 

 

 

 

Adrian Conde Novoa (Ourense, 1991) vive no Porto e é um mau artista. Ou pelo menos, isto é o que ele afirma. A Artecapital decidiu conversar com ele para perceber não só o que é ser um mau artista, como o que é ser um artista, tentando descortinar as eficazes e irónicas técnicas comunicativas que utiliza nas suas obras.


Por Catarina Real

 

  

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CR: Podes me falar um bocadinho mais do teu percurso até chegar ao Porto, para onde vieste estudar?

ACN: O meu percurso artístico começou quando saí de Ourense e fui para Pontevedra, uma cidade muito próxima e parecida com a cidade onde nasci. Primeiro licenciei-me em Comunicação Audiovisual, um curso mais ligado a práticas televisivas. Não tive um encontro directo com as artes até, talvez, o terceiro ou quarto ano dessa licenciatura, o que foi coincidente com a minha compreensão desse meu interesse pelo que é artístico. Aí descobri que os media não eram o espaço que queria ocupar. Sempre tive essa curiosidade pelas Artes Plásticas, e então, quando terminei essa licenciatura, decidi ingressar noutra licenciatura, em Artes Plásticas, na mesma cidade. E correu bem. Comecei a focar-me na pintura e fui descobrindo a linguagem com a qual trabalho agora, que tem algumas características identificáveis como o uso de papel antigo ou o uso de uma certa paleta de cores.
Quando finalizei o segundo curso, por conselho de alguns dos meus professores, decidi ingressar no mestrado em Pintura. Vim então para o Porto, para uma faculdade de que me tinham falado muito bem, as Belas Artes. Foi um desafio!, porque embora fique pertinho não deixa de ser um outro país com uma outra cultura.
Aqui [a conversa com o Adrian foi conduzida via vídeo-conferência Porto-Lisboa] conheci um mundo completamente diferente, pontos de vistas muito dissemelhantes aos que conhecia. Consegui finalmente encontrar a solidez da minha linguagem. Foi aqui que me afirmei enquanto artista, diria.

 

CR: É curioso que embora não sabendo de antemão a tua relação com o meio televisivo, é uma coisa que faz imenso sentido com o teu trabalho... [riso] Agora comecemos as perguntas difíceis: O que é um artista e o que é um mau artista?

ACN: [riso] É uma muito boa pergunta. O “mau artista” foi o tema central da minha tese de mestrado, onde eu cheguei à conclusão de que não importa o bom e o mau, que um artista é artista quando assim o decide. É uma coisa difícil de assumir. É ainda mais difícil dizer-se um bom ou mau artista.
Fui reflectindo a partir de mim mesmo, e posicionei-me ironicamente como um mau artista: não estava dentro do estabelecido, não sou representado por uma galeria, não ganho prémios importantes... o que não quer dizer que eu não seja artista.
Ao mesmo tempo, esse posicionamento significava também lembrar-me que o caminho do trabalho e trabalho árduo é o único para ser um bom artista. Embora até isto seja meio irónico!, e um posicionamento que é muito chamativo. O importante da expressão “mau artista” é, de facto, a palavra artista.
Houve uma altura que o professor Domingos [Loureiro] terminou uma das suas apresentações com uma obra minha, uma obra “mal feita”, que era uma interpretação de um meme de um senhor que coloca a sua mão pensativa e diz que não podes fazer qualquer coisa senão acontece-te x ou y. E era isso, mas a dizer, que não podes ser um mau artista se não fores artista. É a minha forma de dizer: Estou cá!

CR: É curioso como de alguma forma já encontraste as tuas respostas apaziguadoras, o teu caminho para ser melhor artista dentro do que é ser um mau artista. Levado ao limite poderia significar o caminho para ser um pior artista.

ACN: Levado ao limite, sim. Significa também não dar demasiada importância... É o mesmo que dizer: não quero saber, cada um tem o seu percurso.

CR: Para uma coisa que não importa, que não interessa - e compreendendo a ironia que está dentro das tuas afirmações - é curioso ver que toma o espaço central do teu trabalho. Não importa isso, mas só importa isso.

ACN: Sim. Tudo começou com uma brincadeira, tal como todos os meus trabalhos. Gosto de, não sabendo bem o que fazer, começar a modificar imagens de revistas, colocar piadas junto às imagens, às vezes até estúpidas [riso]. É nesse processo que vou descobrindo coisas, e coisas às vezes muito mais interessantes do que o que eu achava que estava a fazer no momento. Houve uma altura em que comecei a escrever a frase “Sou um mau artista” e comecei como as crianças, quando fazem algo mau e têm de escrever muitas vezes a mesma coisa para não o voltarem a fazer. É engraçado que fiquei a escrever e à nona vez cansei-me e a frase ficou a meio. Há um pouco de rebelião.
Posiciono-me como mau artista mas até dentro disso há uma cisão, às vezes assumo-me como mau artista mas consigo ver o caminho para ser um bom artista.
É também e sobretudo uma forma de retratar o sistema da arte contemporânea, que é sobretudo difícil para nós, artistas jovens.

CR: E vês diferenças nessas dificuldades [para os artistas jovens] entre Portugal e Espanha?

ACN: O problema em Espanha é que a arte está apenas em Madrid. Para quem é da Galiza, é mesmo difícil. A minha experiência no Porto foi mais simples, tive contacto com um mundo mais acessível.

 

Soy un mal artista (2018).

 

CR: O teu posicionamento enquanto “mau artista” é a afirmação de que cada exposição é a tua última exposição, referindo-te em “My last exhibition (maybe)”?
ACN: Há sempre essa hipótese. [riso] De facto, a minha última exposição foi a “My last exhibition”. Durante este último ano estive mais afastado do espaço expositivo, embora não da prática. De resto, de certeza que alguma exposição será a última. [riso]

 

CR: “No gallery, no girlfriend, no whiskey” ; “This painting is too bad to be shown” ; “Is this an artwork?” - São exemplos de frases que constam nos teus trabalhos. Onde nos pode levar esta ironia?

ACN: Acho que nos conduz à realidade, muitas vezes trágica. É uma palavra forte, talvez seja melhor dizer que nos conduz a uma realidade que deveria ser melhorada.
Ao mesmo tempo, é uma forma de mostrar a realidade de uma forma divertida. Mostrar algo de forma humorística mas não banal.
A ironia traz-nos a realidade.

CR: É uma forma de trazer leveza ao que é trágico?

ACN: Diria mais trazer o humor ao que é trágico. Tentar trazer o riso, vindo do que é mau.
Eu sou uma pessoa que gosta imenso de rir e acho que até nas más situações é necessário fazer piadas. Nem sempre é fácil.
Gosto também de mostrar a realidade de forma humorística, porque sim, corre-se o risco de parecer leve, mas fazer rir é uma coisa muito difícil. Creio que é muito mais simples fazer chorar do que fazer rir.

CR: O que é que importa reflectir sobre o mundo da arte? Pergunto-te pensando que o mundo artístico tem muito de não-artístico.

ACN: Tem muitas coisas que são tudo menos realmente artísticas. Tenho a sorte de conhecer o mundo artístico desde dentro, e a partir de vários papéis, e consigo ter a noção de que o “artístico” é sobretudo económico, político, mercantil... sei lá. É um mundo em constante movimento onde vários paradigmas estão vigentes e onde o que importa hoje amanhã poderá não importar.
Além disso, como te dizia, há muitas decisões que são difíceis de compreender do ponto de vista artístico mas quando conheces o que está por trás percebes que há muitas coisas alheias ao que é artístico que dizem sobretudo respeito a jogos de poder.

CR: O que nos traz reflectirmos sobre isso, o que não é artístico? Para além de cansaço.

ACN: Pode-nos trazer a perspectiva necessária para mudar as coisas, para as conseguir ver de uma perspectiva diferente. O que é artístico não é continuar como estamos, isto de estar representado numa galeria e vender obras... é procurar novas e outras formas alternativas. Procurar lugares onde o artista tem outra força, onde se subvertem as relações de poder.

 

No gallery, no girlfriend, no whiskey 3 (2019).

 

CR: Voltando a citar-te, e no encadeamento do que falávamos... como é que é sobreviver a tentar ser artista?

ACN: É muito complicado [riso]. Quase impossível, se pensarmos em ser apenas artistas. Tinha por aqui um apontamento da Dora García, uma artista espanhola, onde ela dizia algo como ela não conhecer ninguém em Espanha que consiga viver apenas do trabalho artístico. Todos são programadores, curadores, escrevem, são professores, gestores culturais. Por um lado está certo, porque também consegues que o trabalho artístico seja independente do plano económico e por outro está mesmo mal porque não conseguimos ter uma dedicação completa ao que estamos a fazer. Há essa dicotomia.

CR: Aproveitando a deixa: como foi a combinação de seres assistente de galeria e artista ao mesmo tempo?

ACN: No meu caso foi muito bom, foi uma forma de compreender melhor como funcionam as coisas e a galeria era muito profissional. Consegui ter acesso a formas de trabalhar de outros artistas e tive muito apoio para que continuasse o meu trabalho artístico. A faculdade está desligada do que é a realidade, por isso tive muito para aprender, ao ver as coisas a funcionar. Às vezes coisas básicas como fazer um portfólio em condições.

  

CR: Talvez pudéssemos acabar a falar um bocadinho da série “La Nueva Normalidad” de 2020, uma vez que obra mais actual é impossível. [riso]

ACN: É ainda um início de trabalho, de uma série de trabalhos.
Fascinei-me muito por estas palavras: Nova Normalidade. É uma expressão muito especial, que eu acho que funciona muito bem porque é cativante, e ao mesmo tempo acho que há algo nela que é contraditório. É muito difícil que haja algo novo no normal. E ver mudar as coisas, as relações sociais, o funcionamento de um mundo pandémico, como tudo isto está em mudança...! e como tudo vai continuar mudado nos próximos anos. Ando a reflectir sobre isso,e embora seja algo que ainda quero aprofundar ao nível das ideias, estou já a fazer alguns desenhos relacionados com esse fascínio.

CR: Queres dizer-nos um pouco mais sobre os elementos que vais recolhendo e a forma como te relacionas com eles; que é nova e velha ao mesmo tempo também? Há a recorrência dos papéis e recortes, material mediático, e a ironia...

ACN: Vem tudo das séries anteriores. Há o fascínio dos papéis, antigos, já utilizados, de jornais, livros. Recontextualização, reciclagem. Está sempre presente. A partir deles comecei a fazer algumas colagens, que criam a sensação de uma paisagem destruída, quase catastrófica, que funciona muito bem na dinâmica da criação pela destruição. Nesta série essa dinâmica de destruir e construir faz todo o sentido, por isso te falava que esta nova normalidade é uma assumpção de que a realidade anterior acabou e que agora estamos a reconstruir uma nova a partir dos destroços. A estética da destruição está plasmada, assim como a acumulação; cromática, matérica... O mundo está a construir e destruir todos os dias, e nós também, a deixar o nosso rasto.

 

CR: Na lógica do espelho - de que “ La Nueva Normalidad” faz uso - que características achas que vão ter as obras de arte produzidas durante a pandemia? O que terão de particular?

ACN: É complicado porque ninguém sabe o que poderá acontecer amanhã.
Pode acontecer que a arte se desloque mais para o espaço digital, não só ao nível da produção mas também na sua difusão e se calhar a própria temática - tal como acontece comigo - vai entrar nas obras. Um crescimento do pensar sobre a sociedade e as suas mudanças. Consequência políticas, demográficas, tudo é uma incógnita, mas prevejo que muitos reflictam sobre isso.

 

CR: Há mais alguma consideração sobre o mundo artístico - ou outros! - com que queiras acabar?

ACN: Acho que nenhuma em particular!, poderíamos falar sobre tantas outras...

 

CR: Então, terminarei eu com uma consideração: há muitas coisas que são difíceis de formular em relação com o teu trabalho. A grande característica que ele tem - para além da tão referida ironia - é a capacidade comunicativa. A mensagem é muito eficaz. Embora tenhas camadas não só construtivas mas também simbólicas, o teu trabalho tem a capacidade de imediatamente causar uma reação. Funciona como o humor. Neste sentido sinto mais dificuldade em construir perguntas para te colocar, porque o trabalho responde.

ACN: Essa capacidade comunicativa vem também das minhas influências... E da minha primeira licenciatura, de onde retirei e assimilei várias técnicas comunicativas, muitas em relação com o marketing e a publicidade.
Há uma coisa que me afecta imenso também - não diria que gosto - que é a propaganda política espanhola e da União Soviética. E depois, a Internet. Memes. São coisas que funcionam muito bem ao nível da comunicação porque a partir do humor conseguem ligar muita gente. Muitas vezes podem soar banais mas vejo-lhes outras dimensões. E depois há também a minha mãe, que costuma dizer que é melhor dizer as coisas más “rindo e cantando”, como dizemos em galego. Quando temos de partilhar alguma coisa má, é sempre melhor fazê-lo com o humor. O humor ajuda a aliviar e a dar realidade, e a criar identificação também. Uso também muito a palavra para criar nexo, e ligar elementos que sem a palavra podiam-nos levar por outro caminho.