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OPINIÃO


Simplified Map (2005)


Ana Amorim, em 1994, na performance Counting Seconds.


PĂĄginas de um dos livros da performance Counting Seconds (1994).


Large Embroidery Studies 2 (2013).


First Embroidery: Map Project (2013).


Valencia Embroideries (2018).


Large Canvas 4 (1991).

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2017-03-03
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LUÍS RAPOSO

2017-01-31
ESTATÍSTICAS, MUSEUS E SOCIEDADE EM PORTUGAL - PARTE 2: O CURTO PRAZO

LUÍS RAPOSO

2017-01-13
ESTATÍSTICAS, MUSEUS E SOCIEDADE EM PORTUGAL – PARTE 1: O LONGO PRAZO

SERGIO PARREIRA

2016-12-13
A “ENTREGA” DA OBRA DE ARTE

ANA CRISTINA LEITE

2016-11-08
A MINHA VISITA GUIADA À EXPOSIÇÃO...OU COISAS DO CORAÇÃO

NATÁLIA VILARINHO

2016-10-03
ATLAS DE GALANTE E BORRALHO EM LOULÉ

MARIA LIND

2016-08-31
NAZGOL ANSARINIA – OS CONTRASTES E AS CONTRADIÇÕES DA VIDA NA TEERÃO CONTEMPORÂNEA

LUÍS RAPOSO

2016-06-23
“RESPONSABILIDADE SOCIAL”, INVESTIMENTO EM ARTE E MUSEUS: OS PONTOS NOS IS

TERESA DUARTE MARTINHO

2016-05-12
ARTE, AMOR E CRISE NA LONDRES VITORIANA. O LIVRO ADOECER, DE HÉLIA CORREIA

LUÍS RAPOSO

2016-04-12
AINDA OS PREÇOS DE ENTRADA EM MUSEUS E MONUMENTOS DE SINTRA E BELÉM-AJUDA: OS DADOS E UMA PROPOSTA PARA O FUTURO

DÁRIA SALGADO

2016-03-18
A PAISAGEM COMO SUPORTE DE REPRESENTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA NA OBRA DE ANDREI TARKOVSKY

VICTOR PINTO DA FONSECA

2016-02-16
CORAÇÃO REVELADOR

MIRIAN TAVARES

2016-01-06
ABSOLUTELY

CONSTANÇA BABO

2015-11-28
A PROCURA DE FELICIDADE DE WOLFGANG TILLMANS

INÊS VALLE

2015-10-31
A VERDADEIRA MUDANÇA ACABA DE COMEÇAR | UMA ENTREVISTA COM O GALERISTA ZIMBABUEANO JIMMY SARUCHERA PELA CURADORA INDEPENDENTE INÊS VALLE

MARIBEL MENDES SOBREIRA

2015-09-17
PARA UMA CONCEPÇÃO DA ARTE SEGUNDO MARKUS GABRIEL

RENATO RODRIGUES DA SILVA

2015-07-22
O CONCRETISMO E O NEOCONCRETISMO NO BRASIL: ELEMENTOS PARA REFLEXÃO CRÍTICA

LUÍS RAPOSO

2015-07-02
PATRIMÓNIO CULTURAL E OS MUSEUS: VISÃO ESTRATÉGICA | PARTE 2: O PRESENTE/FUTURO

LUÍS RAPOSO

2015-06-17
PATRIMÓNIO CULTURAL E OS MUSEUS: VISÃO ESTRATÉGICA | PARTE 1: O PASSADO/PRESENTE

ALBERTO MORENO

2015-05-13
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Ana Cristina Alves

2015-04-12
PSICOLOGIA DA ARTE – ENTREVISTA A ANTÓNIO MANUEL DUARTE

J.J. Charlesworth

2015-03-12
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JOSÉ RAPOSO

2015-02-02
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MARIA LIND

2015-01-05
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Martim Enes Dias

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MARIA LIND

2014-11-11
O TRIUNFO DOS NERDS

Jonathan T.D. Neil

2014-10-07
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José Raposo

2014-09-08
RUMORES DE UMA REVOLUÇÃO: O CÓDIGO ENQUANTO MEIO.

Mike Watson

2014-08-04
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Ana Catarino

2014-06-28
Project HerĂĄcles, quando arte e polĂ­tica se encontram no Parlamento Europeu

LuĂ­s Raposo

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Filipa Coimbra

2014-05-06
Tanto Mar - Arquitectura em DERIVAção | Parte 2

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2014-04-15
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FILIPE PINTO

2013-10-25
PERSPECTIVA E EXTRUSÃO. Uma História da Arte (parte 2 de 4)

FILIPE PINTO

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JULIANA MORAES

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PEDRO CABRAL SANTO

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MARCELO FELIX

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PATRÍCIA REIS

2011-03-09
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2011-02-01
WALTER BENJAMIN. O LUGAR POLÍTICO DA ARTE

UM LIVRO DE NELSON BRISSAC

2011-01-12
PAISAGENS CRÍTICAS

FILIPE PINTO

2010-11-25
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PAULA JANUÁRIO

2010-11-08
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SHAHEEN MERALI

2010-10-13
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PEDRO PORTUGAL

2010-09-22
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FILIPE PINTO

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TERESA CASTRO

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FILIPE PINTO

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PEDRO DOS REIS

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PEDRO DOS REIS

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PEDRO DOS REIS

2008-04-04
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ROGÉRIO RIBEIRO (1930-2008): O PINTOR QUE ABRIU AO TEXTO

JOANA LUCAS

2008-02-18
RUY DUARTE DE CARVALHO: pela miscigenação das artes

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LÍGIA AFONSO

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SÍLVIA GUERRA

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PARA ALÉM DE PARIS

MARCELO FELIX

2007-09-20
TRANSNATURAL. Da Vida dos Impérios, da Vida das Imagens

LÍGIA AFONSO

2007-09-04
skulptur projekte mĂŒnster 07

JOSÉ BÁRTOLO

2007-08-20
100 POSTERS PARA UM SÉCULO

SOFIA PONTE

2007-08-02
SOBRE UM ESTADO DE TRANSIÇÃO

INÊS MOREIRA

2007-07-02
GATHERING: REECONTRAR MODOS DE ENCONTRO

FILIPA RAMOS

2007-06-14
A Arte, a Guerra e a Subjectividade – um passeio pelos Giardini e Arsenal na 52ÂȘ BIENAL DE VENEZA

SÍLVIA GUERRA

2007-06-01
MAC/VAL: Zones de Productivités Concertées. # 3 Entreprises singuliÚres

NUNO CRESPO

2007-05-02
SEXO, SANGUE E MORTE

HELENA BARRANHA

2007-04-17
O edifício como “BLOCKBUSTER”. O protagonismo da arquitectura nos museus de arte contemporñnea

RUI PEDRO FONSECA

2007-04-03
A ARTE NO MERCADO – SEUS DISCURSOS COMO UTOPIA

ALBERTO GUERREIRO

2007-03-16
GestĂŁo de Museus em Portugal [2]

ANTÓNIO PRETO

2007-02-28
ENTRE O SPLEEN MODERNO E A CRISE DA MODERNIDADE

ALBERTO GUERREIRO

2007-02-15
GestĂŁo de Museus em Portugal [1]

JOSÉ BÁRTOLO

2007-01-29
CULTURA DIGITAL E CRIAÇÃO ARTÍSTICA

MARCELO FELIX

2007-01-16
O TEMPO DE UM ÍCONE CINEMATOGRÁFICO

PEDRO PORTUGAL

2007-01-03
ArtĂłria - ARS LONGA VITA BREVIS

ANTÓNIO PRETO

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A MOLDURA DO CINEASTA

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VICTOR PALLA (1922 - 2006)

JOÃO SILVÉRIO

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VIENA, 22 a 26 de Março de 2006


ANA AMORIM: MAPAS MENTAIS DE UMA VIDA-OBRA



DONNY CORREIA

2019-07-18




 

 

 

“A arte é um jogo entre todos os homens de todas as épocas”.
(Marcel Duchamp)

 

A Sociedade do Cansaço e do desvelo exagerado (HAN, 2005) e, por que não pornográfico, em sua dinâmica quotidiana em busca do espelho de Narciso tem provocado profunda exaustão do ímpeto criativo na vida, de maneira mais abrangente e, do ponto de vista da criação, na arte contemporânea. Por vezes, a forma relacional que Bourriaud (2009) propõe entre o ato artístico e o receptor resulta num círculo de incompletude da fruição que esvazia o domínio da técnica e a volição da forma. Admitamos que, num mundo de crises da identidade ontológica conflagradas, cujos seres erram a esmo com certezas vazias e perguntas mal formuladas, o aparato “arte” tende à repetição que não faz eco; à incisão que não provoca sangramento; à descarga de ímpeto que se choca com sensibilidades moucas. Em meio a isso, pela primeira vez em exposição na galeria Espavisor, em Valência, Espanha, a obra da brasileira Ana Amorim propõe uma discussão multifacetada do ambiente artístico, das apreensões estéticas e do próprio organismo da Arte.

Ana não é uma artista que se preocupa com a palpabilidade do ofício da criação para efeitos imediatos ou fins utilitaristas. O trabalho ora exposto é fruto de um processo que lhe consumiu, às vezes com intermitências, outras vezes com pragmatismo, os últimos trinta anos. Dessa forma, não é exagero especular que a esta altura, vida e obra já lhe formam uma amálgama indissociável e intransferível, tal qual um nome, um número de documento ou linhas de uma biografia. Algo muito próximo de uma estética situacionista, que é o aspecto que mais rápido salta às vistas do atento espectador.

Nascida na cidade de São Paulo, em 1956, Ana Amorim se graduou, nos anos 1980, na renomada escola de artes da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde lecionaram figuras icônicas da arte brasileira, como Nelson Leirner e Regina Silveira. Em seguida, partiu para os Estados Unidos para iniciar um projeto de mestrado. A poética que propunha consistia na realização de mapas mentais desenhados em livros, sempre ao final de cada dia. Em seguida, a artista transferia os mapas para diferentes suportes, reproduzindo sua impressão dos caminhos e das rotinas vividas, transpostos para o papel como a cristalização do típico viandante de uma grande metrópole. O projeto, intitulado 10 Year Performance Project, iniciado em 1988, teria a duração de uma década e formaria não só o inventário de uma arte urbana e desprendida, mas abduziria para o suporte artístico a vida mesma. Por esse motivo, mencionei o Situacionismo de Guy Debord há pouco, porque é entre a vanguarda das artes conceituais e dos processos imbricados que se situa a chave de interpretação para a imensa produção de Ana. Debord, em seu manifesto de 1960 urge aos artistas que se livrem das cisões que existem entre aquilo que se produz e aquilo que se vive. Em Ana Amorim, talvez pelas influências de figuras como Vito Acconci e Richard Long, não existe margem para a distinção entre a atitude estética e a visão de sobrevoo, de contatos superficiais. O que há é um convite à entrega, à reflexão de um estatuto muito maior, que transcende processos limitantes e puramente objetivos.

Preocupada com a forma pessoal de documentação do tempo, perenidade da memória e concreção de uma vida-arte, Ana ainda incorporou mais um elemento à sua poética, a performance. Com Counting Seconds, título da ação, passou a ocupar locais públicos com uma caneta em apostos uma folha em branco para lhe servir de súmula. De tempos em tempos, punha-se a contabilizar o número de minutos transcorridos durante sua permanência nesses locais. Criou um sistema simbólico com a finalidade de catalogar aquilo que para um benjaminiano “homem da multidão” se esvai à revelia: a corporeidade do tempo. Seus mapas e suas coordenadas temporais fundem-se, assim, para criar um organismo maior, uma unidade que suplanta generalizações históricas.

 

Pintar seria se inscrever na história através de escolhas plásticas. Estamos na presença de uma estética de tribunal, segundo a qual o artista se coloca perante a história da arte na autarquia de suas convicções, uma estética que rebaixa a prática artística ao nível de uma crítica histórica processual: o “julgamento” prático assim emitido, peremptório e irrecorrível, é a negação do diálogo, único a conferir à forma um estatuto produtivo, o de um “encontro fortuito” (BOURRIAUD, 2009, p.31).

 

Em dado momento, seu engajamento autoral rendeu-lhe certo ruído no ambiente das Artes Visuais, sobretudo quando optou por não atrelar suas obras a nenhuma logomarca corporativa, oferendo um documento às instituições intitulado Contrato de Arte, no qual explicitava tal cláusula. Esse contrato – que configurou mais uma de suas performances – foi utilizado entre 2001 e 2016, e intentava uma mediação alternativa nas relações entre a artista e o Sistema de Arte. Dessa forma, suas exposições não poderiam engajar patrocinadores, direta ou indiretamente. As portas institucionais que se fecharam, no entanto, não diminuíram o rigor de sua lavra. Ao contrário, potencializaram a capacidade que cada obra tem de traduzir aquilo que Debord já bem explicara quanto à posição do ser diante de um sistema de produção falho.

 

O homem, “o ser negativo que é apenas na medida em que suprime o Ser”, é idêntico ao tempo. A apropriação pelo homem de sua própria natureza é também sua apropriação do desenrolar do universo. “A própria história é uma parte real da história natural, da transformação da natureza em homem (Marx). Inversamente, essa “história natural” só tem existência efetiva através do processo de uma história humana, da única parte que encontra esse todo histórico, como o telescópio moderno cujo alcance recupera no tempo a fuga das galáxias para a periferia do universo. [...] A temporalização do homem, tal como se efetua pela mediação de uma sociedade, é igual a uma humanização do tempo (DEBORD, 2013, p. 87).

 

Ao apropriar-se da existência e do tempo, Ana Amorim oferece uma reflexão muito maior em sua atual exposição do que, creio, poderia ter logrado, caso não fizesse de sua poética uma profissão de fé e um testamento da contemporaneidade pela simples materialização minimalista de suas ideias. Assim, desvela ao espectador um jogo de interações em que tão importante quanto o ato da criação, é o ato da interpretação em campos abertos, como sugere Bourriaud (id, ibid): “No quadro de uma teoria ‘relacionista’ da arte, a intersubjetividade não representa apenas o quadro social da recepção da arte, [...] mas se torna a própria essência da prática artística”.

Numa etapa seguinte de seu projeto, Ana Amorim passou a transferir seus mapas desenhados para tecidos que seriam bordados pela própria artista, a seguir, o que pode ser lido como um processo de fixação e consolidação de um método, com vistas a uma reificação de paisagens mentais, agora eternizados num material menos perecível e mais acessível. Há uma longa série desses trabalhos, que compila em extensos cortes de panos pretos os mapas realizados no decurso de anos inteiros, como a peça First Embroidery, uma reunião de memória, arte e evolução técnica para além da mera objetificação de uma ideia, já que isso não daria conta do complexo jogo fenomenológico que envolve seus processos. De maneira mais direta, como escreveu Maurice Merleau-Ponty,

 

As coisas não são, portanto, simples objetos neutros que contemplaríamos diante de nós; cada uma delas simboliza e evoca para nós uma certa conduta, provoca de nossa parte reações favoráveis ou desfavoráveis, e é isso que os gostos de um homem, seu caráter, a atitude que assumiu em relação ao mundo e ao ser exterior são lidos nos objetos que ele escolheu para ter à sua volta, nas cores que prefere, nos lugares onde precisa passear (MERLEAU-PONTY, 2004, p. 23).

 

Ao rechaçar as obviedades institucionais que orbitam o universo da arte, e optar por uma vida “em trânsito”, Ana Amorim ainda assimilou outras experiências no vasto repertório que utiliza como matéria-prima. Foi montanhista e incorporou os desafios da atividade ao mapeamento de sua história. Foi também tradutora de movimentos sociais no Brasil e em diversos países, e registrou as experiências de uma intérprete simultânea na performance Transcomunicadora.

Neste momento de sua carreira, em que expõe em larga escala o acúmulo de suas memórias e seu tempo capturado, Ana Amorim entra em uma nova fase, mostrando que sua obra transpira mutabilidades a que esse mesmo tempo capturado está sujeito, numa época que revolve a semente da criação em solos imprevistos. Portanto, quanto mais atrelada a um processo expográfico, mais sua obra se remete à totalidade do processo de criação e extroversão, como se pudesse ser resumida no postulado de Jean Tinguely, que vem à mente:

 

Everything moves continuously. Immobility does not exist. Don’t be subject to the influence of out-of-date concepts. Forget hours, seconds and minutes. Accept instability. Live in Time. Be static – with movement. For a static of the present movement. Resist the anxious wish to fix the instantaneous, to kill that which is living. Stop insisting on “values” which can only break down. […] You are movement and gesture. Stop building cathedrals and pyramids which are doomed to fall into ruin. Live in the present, live once more in Time and by Time – for a wonderful and absolute reality (TINGUELY, in DANCHEV, 2011, p. 337).

 

A exposição de Ana Amorim segue até 13 de setembro de 2019 na Galeria Espavisor.

 

 

 

Donny Correia
Mestre e Doutor em estética e história da arte pela Universidade de São Paulo e crítico de cinema e arte. Também é escritor e poeta, tendo publicado, entre outros, Corpocárcere (2013), Zero nas veias (2015) e Cinematographos de Guilherme de Almeida (2016). Em 2013, tornou-se o primeiro brasileiro a ter um poema selecionado pela NASA para ser enviado a Marte a bordo da sonda MAVEN. Publica ensaios e resenhas em periódicos como O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e Psicologia em foco (PUC-PR). Também atua como professor de História e Linguagem do Cinema em instituições diversas. Sua obra mais recente é Cinefilia crônica – comentários sobre o filme de invenção (2018), uma compilação de artigos sobre a estética do filme experimental.

 

 

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Referências

BOURRIAUD, Nicolas. Estética relacional. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto: 2013.
DANCHEV, Alex. 100 Artist’s Manifestoes: from de Futurists to the Stuckists. Londres: Penguin Random House UK, 2011.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. São Paulo: Editora Vozes, 2015.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Conversas – 1948. São Paulo: Martins Fontes, 2004.