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SNAPSHOT. NO ATELIER DE...




Vista do Atelier.


Vista do Atelier. Fotografia: Rui Dias Monteiro


Vista do Atelier.


Eunice Gonçalves Duarte no seu atelier.


Cristovão Crespo no seu atelier.


Atelier de Daniel Malhão.


Pedro Faria no seu atelier.


Inês Teles no seu atelier.


Exposição Formatter, de Inês Teles, na Sala de Projecto.


Francisco Pinheiro na Sala de Projecto.


Lançamento do Colectivo West Coast, com obra de Francisco Pinheiro, na Sala de Projecto.


Apresentação Bristol Diving School na Sala de Projecto.


Apresentação Bristol Diving School na Sala de Projecto.


Apresentação Bristol Diving School na Sala de Projecto.


Apresentacao do colectivo de curadores Komplot, na Sala de Projecto.


Concerto de Sei Miguel, Unit Core, na Sala de Projecto.


Projeccao Arquivo e Nostalgia, filme de José Maçãs de Carvalho, na Sala de Projecto.

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ATELIER CONCORDE

LIZ VAHIA



O Atelier Concorde é um espaço de trabalho colectivo que reúne artistas de áreas disciplinares distintas distribuídos por 3 pisos num edifício entre a Graça e Santa Apolónia, em Lisboa. Fundado em 2010, o Atelier já viu muitos artistas em estadias mais ou menos prolongadas e em residências, portugueses e estrangeiros. Dispõe de uma sala de projecto para acolher propostas de programação, que podem passar por exposições, performances, apresentações públicas de projectos e o que mais o Atelier decidir acolher.

A Artecapital foi conhecer o espaço e falar com alguns dos artistas.


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A visita ao Atelier Concorde tinha de ser feita entre as 16h e as 17h desse dia porque só nesse período é que seria possível contar com todos os artistas presentes. É difícil conseguir reunir 14 pessoas com actividades e ritmos diferentes, “daí a especificidade da hora”, justificou Pedro Faria (PF) no nosso contacto preparatório. Foi ele também que me recebeu à porta e fez de interlocutor oficial. Na sala de entrada, que é a copa ao serviço de todos os artistas, estava ainda Eunice Gonçalves Duarte (EGD) a preparar um chá. A conversa inicial obviamente começou pela origem do projecto.

 

PF: Isto começou em Janeiro de 2010 com um grupo de quatro artistas: Pedro Faria, Nuno Gueifão, Francisca Carvalho e Ana Santos. Fomos os “sócios fundadores”. Obviamente, vieram logo 15 pessoas ocupar o espaço, incluindo o Nuno Godinho, a Glória Oliveira, o Pedro Batista, o Cristovão Crespo, a Constança Arouca... A Oficina do Cego também esteve por aqui... O grupo inicial dos 4 "fundadores" foi tendo algumas mudanças, sendo que actualmente o único que se mantem aqui sou eu. Isto porque a Francisca Carvalho foi fazer uma residência por 2 anos a Baltimore e o Nuno saiu mesmo e foi para outro atelier. A Ana Santos continua aqui mas é mais em espírito, continua como associada. A flutuação de artistas é constante, de 2 em 2 meses ou de 3 em 3 há um artista que sai ou entra. A Eunice por exemplo veio há um ano, o Francisco Pinheiro veio há 3 meses. Hoje estive aqui com um artista que veio ver o espaço e que provavelmente se juntará a nós.
O modo de organização também já evoluiu ao longo destes anos, já experimentámos todos os tipos de organização possíveis, mais verticais, mais horizontais, mais diagonais, e neste momento o que está em vigor é: eu faço a gestão prática das coisas, a produção por assim dizer, e depois tudo o que são decisões artísticas ou propostas artísticas são decididas colectivamente. Ou seja, não há um trabalho colectivo, não é um colectivo de todo, é uma associação de artistas individuais, cada um com a sua prática e com a sua identidade. Toda a gente é livre de propor o que quer que seja, actividades, exposições, etc. Há uma sala de exposições onde acontecem os eventos abertos ao público. Por exemplo, o Francisco Pinheiro juntou-se há 3 meses e imediatamente fez uma exposição que foi o lançamento do seu Colectivo West Coast; a Inês Teles, que está cá há 2 anos mais ou menos, organizou uma residência com uns artistas ingleses que conhecia. A gestão artística é colectiva, nesse sentido. Toda a gente é consultada e toda a gente se manifesta, raramente contra porque as propostas costumam ser razoáveis e praticáveis. As entradas no atelier também é assim que se processam, é anunciado através da mailing list, Facebook, etc., as pessoas manifestam-se e depois colectivamente escolhe-se a pessoa, sabendo que geralmente em média há 2 ou 3 interessados e depois decide-se quem é que é o próximo colega. O processo é assim bastante longo e cuidadoso, por um lado para garantir que há algum tipo que afinidade artística mínima, não há ninguém que vá chocar frontalmente com outra pessoa já presente, para evitar que 18 pessoas num espaço de 600m2 se engalfinhem todas; e por outro lado para garantir a máxima abertura possível, que não seja só um grupo de amigos e amigos de amigos, mas que haja sempre pessoas completamente novas. Das coisas mais interessantes é haver cruzamentos de pessoas que não se conhecem, por isso é que se anuncia o mais possível ao exterior e se procura que haja muita variedade. Acho que neste momento é bastante assim, provavelmente todas as áreas artistas devem estar aqui representadas. Há pessoas da performance, como a Eunice, há pessoas mais ligadas à escultura, artes plásticas, vídeo, como eu ou a Inês Teles, o Daniel Malhão é fotógrafo, há joalharia, com o Artur e a Miriam, a Inês Jacques também vem da performance, dança, e por aí adiante.

LV: E o facto de alguns dos espaços serem abertos leva-vos a procurar artistas que estejam à vontade em partilhar o mesmo “espaço visual”?

PF: Podes alugar um espaço privado ou em open space, é como quiseres. Só se manifestam interessados os que querem esse tipo de contacto. Há pessoas que só querem uma coisa privada. Há espaços para todos os gostos.

EGD: Eu como tenho que dar a volta a vários ateliers antes de chegar ao meu, vou vendo o que os outros estão a fazer, e isso é muito bom, porque de certa maneira também te inspira, também te estimula a criatividade o facto de ir vendo o trabalho dos outros, não ficas só centrada nas tuas coisas.

PF: Estive 4 anos num espaço ali mesmo no centro da oficina, e depois apeteceu-me estar mais privado e recuei para um espaço que está aqui por cima de nós.

LV: Porque o teu trabalho mudou?

PF: O trabalho mudou depois de eu ter feito a mudança! O espaço possibilitou outras coisas. Ao fim de 4 anos apeteceu-me experimentar uma coisa diferente.

LV: A vossa relação com os artistas exteriores ao atelier, como é? Estão abertos a receber propostas para a vossa sala de projecto?

PF: O modo como a sala funciona é também numa gestão colectiva. Todas as pessoas que têm aqui atelier são livres de expor ou convidar pessoas a expor. Depois a sala está sempre aberta a propostas externas, qualquer pessoa pode escrever para o Atelier e propor-se a fazer algo. Por exemplo, há uma artista belga, a Lola, que teve conhecimento do Concorde e propôs-se passar cá 1 mês em residência e foi aceite. Agora estão cá em residência os Bristol Diving School, que são um colectivo artístico de que ouvimos falar e que convidámos a virem cá. Também há concertos. O modus operandi é bastante colectivo, não há um director artístico, não há uma organização vertical centralizada, qualquer pessoa do atelier pode propor uma coisa, qualquer pessoa externa pode propor também. Só é aceite se houver algum consenso.

LV: Têm sempre um espaço disponível para residência?

PF: É a própria sala de exposições. E também convém mencionar que temos tido a colaboração simpática da Câmara Municipal de Lisboa (CML) que tem ajudado a arranjar alojamento. Já cá houve 5 residências e em 4 delas os artistas ficaram alojados na Boavista. Por isso quero manifestar o agradecimento à Divisão de Galerias e Ateliers da CML.

 

Metemos pelo corredor, passámos materiais empilhados, derivações e zonas de trabalho até chegarmos ao espaço de Eunice, que está no Atelier há mais ou menos 1 ano (não sabe precisar com exactidão) e recentemente se juntou também à associação. Diz que desde que está aqui já passou por vários desenvolvimentos.

 

EGD: O que eu estou a trabalhar neste momento é a performance e a tecnologia e estou muito mais centrada na manipulação da imagem em tempo real. Por isso foi importante conseguir um espaço em que pudesse começar a trabalhar nesse conceito. Eu recupero tecnologias mais antigas de visualização de imagem, neste momento uma caixa tipo lanterna mágica e filme dos anos 1940, propaganda do Estado Novo, que era usada para ensinar história às crianças. É uma história peculiar que começa com o nascimento de Jesus Cristo e eu tento criar uma série de alternativas a essa história que foi criada. Geralmente, eu trabalho muito a temática da história, não só a história, mas a forma como se conta, essencialmente através da manipulação da imagem. Comecei muito mais dentro do teatro, eu estudei na University College em Dublin em Drama Studies, por isso passei por um período de teatro “a sério”, da linguagem, do significado das palavras, mas com o qual nunca me identifiquei, por isso tentei descobrir outras formas de criar história e emoção. Demoro muito tempo a trabalhar, faço muita investigação. Sobre esta história tenho estado a reescrever outra história, já que que contam uma história, então há aqui elementos que eu posso substituir e fazer uma história alternativa.

 

Enquanto vai falando mostra-nos a máquina de projectar, feita manualmente, e o rolo em papel com o filme de teste que produziu e que a máquina “já aceita” - é uma cópia do original que estava a precisar de restauro. Depois mostra-nos o dispositivo que usa para criar outras narrativas: um computador e uma webcam móvel com a qual percorre uma parede de recortes com imagens várias, entre elas uma tira com um trilho de comboio e outra com uma estrada. Usando a câmara e uma luz percorre a parede e cria um encadeado de imagens que compõem uma possível história, como um longo traveling cinematográfico. O público deste espectáculo ainda em concepção verá a criadora a manipular e ao mesmo tempo a projecção.

 

EGD: Tudo influencia o modo como a imagem está a ser transmitida, a minha respiração - se estou muito ofegante, se estou muito ansiosa - a câmara reflecte isso. Uso sempre focos de luz, lanternas, candeeiros no chão, para ter uma luz precisa e estar feita para determinadas zonas. Isto [apontando para a parede de recortes] é a história da Europa. Uma história de viagens escritas, imagens de família, postais antigos (desde e Primeira Guerra Mundial até aos anos 1960).

 

Entretanto, chegou Inês Teles. O horário afinal não tinha conseguido reunir todos os artistas, imprevistos de última hora, afazeres súbitos, etc. Subimos ao encontro do espaço de Inês Teles, que é pequeno e irregular, no cimo de uma escada, antecedendo o atelier de Daniel Malhão.

 

LV: O que é que estás a desenvolver neste momento? Alguma coisa que tenhas aqui?

IT: Vou ter uma exposição em Abril, na Galeria da Direcção Regional da Cultura, dentro do âmbito da programação da Companhia de Dança Contemporânea de Évora, com curadoria de João Pinharanda. É uma exposição individual. Estou a trabalhar nalgumas pinturas e desenhos que têm todos esta ideia de “acumulação até à redução”, são várias camadas de tinta onde as cores vão variando mas são repetidamente sobrepostas, acabando por haver uma profundidade. As cores passam umas para as outras e eu vou insistindo nesse processo.

LV: É um processo que está em experimentação ou já tinhas trabalhado nisto?

IT: A primeira vez que usei esta metodologia foi na Slade School of Art, numa parede que lá havia. Eu estava a trabalhar num canto que era mínimo (costumava dizer que era o canto mais pequeno da Slade), que tinha uma parede que era torta, então decidi fazer na parede uma espécie de pintura rombóide, um losango que transmitisse a ideia de ilusão e que fosse à escala humana O que acabou por ser uma reacção ao espaço de trabalho. Por outro lado, cheguei àquela forma porque estava a ler um texto do Robert Irwin [1] que falava sobre as formas que nos são confortáveis e as que são desconfortáveis. Na mesma altura estava a fazer uma pintura da qual não gostava, não conseguia olhar para ela. Este autor dizia que as formas quadradas e rectangulares nos são confortáveis e que os rombóides e losangos nos causavam alguma tensão corporal, pois a imagem que surge a partir desse objecto provoca tensão e pressão. Depois de ler isto olhei para a pintura e percebi que estava a rejeitar a pintura porque a tela não era direita, era um quadrado torto! A partir deste episódio começou a interessar-me esse desconforto da forma; como é que se podiam criar imagens que nos afectassem corporalmente, que provocassem quase um “twist” interno. Continuei a explorar estas formas em pinturas maiores, outras mais pequenas.

Mostra várias pinturas em papel dispostas numa mesa, trabalhos que tem efectuado recentemente.

IT: A ideia de acumulação e transformação da matéria é também explorada através da “técnica” do pó. São pinturas que eu destruo, lixo a superfície da pintura, arranco a pele de tinta e pulverizo-a com a ajuda de trituradores. Esse pó é posteriormente aplicado noutras superfícies, numa espécie de reorganização da informação pictórica.
O pó é importante no meu trabalho e vou possivelmente voltar a ele nesta exposição. A ideia do pó relaciona-se com o meu interesse na materialidade dos objectos e na ideia de transformação. O pó é um elemento que circula em tantas formas, em tantos estados, circula no ar, pode diluir-se , solidifica-se com pressão, e interessa-me porque espelha a ideia de destruição e transformação da matéria.
 

Descemos depois para a cave onde visitámos os ateliers ali instalados. Os Aurora Joalheiros trabalhavam concentrados num projecto, por isso fomos falar com o grupo em residência na sala de exposições localizada mesmo ao lado. Os 4 britânicos Bristol Diving School (BDS) vieram para uma residência de uma semana no Atelier Concorde e preparavam uma apresentação pública quando os apanhámos entre a sala e o hall que conecta os vários espaços da cave.

 

BDS: Nós fazemo-nos representar por esta denominação e creditamos todos os trabalhos em nome de Bristol Diving School. Todos relegamos a nossa identidade em favor do nome oficial do grupo. Propomos diferentes abordagens e interpretações de diversas ideias, que se manifestam em vários media, excepto pintura, nós não pintamos... Colaboramos juntos há cerca de 5 anos. Cada um tem os seus próprios interesses e não vivemos na mesma cidade, temos as nossas próprias redes, é uma simbiose entre o que somos como indivíduo e o que damos ao grupo. Este trabalho que estamos a fazer é uma continuação do diálogo surgido no último projecto e é a primeira vez que nós os 4 ocupamos o mesmo espaço e partilhamos tempo junto [2]. Os nossos projectos podem ter 20 pessoas ou 3.

 

A visita acabou por aqui, havia trabalho a fazer. Cada artista integrante do Atelier ficou de enviar uma fotografia do seu espaço, com ou sem a sua presença.

 

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Artistas actualmente com estúdio no Atelier: Aurora Joalheiros, Cristóvão Crespo, Daniel Malhão, Eunice Gonçalves Duarte, Francisco Pinheiro, Inês Jacques, Inês Teles, João Bento, Martha Colburn, Natalie Woolf, Paulo Miguel Lopes, Pedro Faria, Rui Xavier.
Artistas associados:
Ana Santos, Francisca Carvalho, Nuno Godinho, Rui Dias Monteiro


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Notas

[1] Notes Toward a Conditional Art (2011). Inês Teles recomenda também as entrevistas ao autor reunidas em "Seeing is Forgetting the Name of the Thing One Sees: Over Thirty Years of Conversations with Robert Irwin".

[2] O Bristol Diving School compreende cerca de 20 membros que se organizam para projectos específicos. Os projectos são realizados através de contactos à distância ou por períodos de trabalho concretos em que se reúnem todos ou parte dos membros.

 

[a autora escreve de acordo com a antiga ortografia]