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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição A Revolução na Noite, 2023, Centro de Arte Oliva. © Ana Anacleto


Vista da exposição A Revolução na Noite, 2023, Centro de Arte Oliva. © Ana Anacleto


Vista da exposição A Revolução na Noite, 2023, Centro de Arte Oliva. © Ana Anacleto


Vista da exposição A Revolução na Noite, 2023, Centro de Arte Oliva. © Ana Anacleto


Vista da exposição A Revolução na Noite, 2023, Centro de Arte Oliva. © Ana Anacleto


Jorge Barradas, Composição, 1970. Colecção Millenium bcp


Jaime Fernandes, Sem título, c. 1960-1969. Colecção Treger Saint Silvestre.

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COLECTIVA

A REVOLUÇÃO NA NOITE




CENTRO DE ARTE OLIVA
Oliva Creative FactoryrnRua da Fundição, 240
3700-119 S. João da Madeira

21 OUT - 12 MAI 2024

O aniversário do Centro de Arte Oliva em Revolução na Noite.

 


No passado fim de semana de 21 e 22 de outubro, o Centro de Arte Oliva comemorou o seu décimo aniversário com a inauguração de três exposições, a coletiva A Revolução na Noite, a individual Jaime Fernandes nas coleções do CAO e Matéria Impressa, esta última apresentando publicações editoriais portuguesas de artistas, designers, editoras e instituições culturais. Destaco e debruço-me sobre a primeira mostra, uma notável obra de curadoria de Ana Anacleto a partir de três coleções, a Coleção Millennium BCP e as duas em depósito no Centro de Arte Oliva, ou seja, a Coleção de Arte Moderna e Contemporânea Norlinda e José Lima, e a Coleção de Arte Bruta e Forasteiro Treger Saint Silvestre.

A exposição A Revolução na Noite apropria-se do título de uma das primeiras pinturas de Max Ernst, de 1923, também conhecida como La Piéta pois, nela, o corpo do artista, nos braços do seu pai, remete para a figura de Cristo e Maria. Num segundo plano, vê-se um homem, ferido na guerra, que será representativo ou do psicanalista Sigmund Freud, ou do poeta Guillaume Apollinaire. Assim se cruzam os universos do privado e do público, revelando-se ideais revolucionários a partir do foro psicológico do artista. Tais ideais, sustentados nos valores da liberdade e da expressão, são tão centrais no presente quanto o foram no passado.

A pintura de Ernst é representativa dos princípios do Surrealismo, movimento literário e artístico emergente na Europa, em grande medida por reação à Primeira Guerra Mundial. Foi, justamente, da corrente surrealista que a curadora extraiu princípios, problemáticas e temáticas, especialmente aqueles que identifica serem, de certo modo, transversais à criação artística na medida em que já se manifestavam antes do respetivo período cultural e histórico e se projetaram posteriormente. A partir daqui a exposição A Revolução na Noite recupera o campo de ação do Surrealismo e convida-nos a explorar os domínios do onírico, do sonho e do consciente, numa contínua relação com o campo da psicanálise tanto quanto com a mitologia, a cultura popular e a poesia.

Relembro que o primeiro Manifesto Surrealista fora publicado em 1924, pelo escritor e poeta André Breton, e que a imagética deste movimento artístico é, na sua maioria, exploratória e ilustrativa da complexidade da mente humana, de acordo com as teorias freudianas.

Sobre o projeto expositivo de Ana Anacleto, o mesmo resulta de uma abordagem ampla mediante a qual o espectro temporal, contextual e disciplinar explorado é, ele mesmo, abrangente, estabelecendo e expondo inúmeros elos e associações que atravessam a criação artística do séc. XX até aos dias de hoje. Daqui emerge uma impressionante, extensa e densa mostra de obras que se distribui no espaço do centro de Oliva.

A exposição constitui uma ocasião rara na qual se reúnem artistas tais como Almada Negreiros, Álvaro Lapa, Francisco Tropa, Graça Morais, Isabel Simões, Jorge Molder, João Maria Gusmão e Pedro Paiva, Paula Rego, Picasso e Sara Bichão. E se alguns núcleos de obras se afiguram como que orgânicos, tal como é o caso de Cindy Sherman, Júlia Ventura e Nan Goldin, outros são mais inesperados, nomeadamente os dois Ângelo de Sousa que se fazem acompanhar de um Cruzeiro Seixas. Distingo, precisamente, a segunda modalidade expositiva, que introduz uma dada obra num sistema de relações menos expectável, pois sugere renovadas leituras, interpretações e experiências estéticas. Deste modo, os objetos expandem-se para lá das suas próprias plásticas e respetivas circunscrições expressivas e simbólicas.

Igualmente a enaltecer é o modo como estes encontros e diálogos se ocasionam e articulam, suportados por uma arquitetura inteligente e dinâmica, a nível formal e estrutural, mas também a nível cromático, sendo sobretudo as cores das paredes e dos painéis que convocam o olhar e o orientam.

É, portanto, por meio de inteligentes estratégias curatoriais, tão práticas quanto discursivas, que Ana Anacleto assinala não só o aniversário do Centro de Arte Oliva, como também o centenário de Mário Cesariny e os cem anos do primeiro Manifesto Surrealista, os quais se completam em 2024. Assinalo ainda que de Cesariny se expõem seis obras, uma das quais, de 1984, consiste numa homenagem ao reconhecido artista Arpad Szenes. Deste último, por sua vez, contam-se dois óleos, Les cyclistes (1955) e Le Fleure le Soir (1965).

A Revolução na Noite permanece passível de visitar até ao próximo dia 12 de maio.

Sobre a mostra de Jaime Fernandes, começo por referir que embora se trate de um dos mais relevantes autores de arte portuguesa bruta, ou outsider, permanece pouco reconhecido, o que se deverá, em parte, ao seu tardio início de carreira artística, somente aos sessenta e seis anos. Em 2021, o Centro de Arte Oliva realizou uma exposição individual do artista, no âmbito da qual se recuperaram vários dos seus desenhos. Desde então, vinte e três permanecem em arquivo nesta instituição, dos quais se exibe, agora, um valioso conjunto.

Ainda a visitar no Centro, até ao dia 30 de dezembro, Teatro Anatómico, comissariado por João Sousa Cardoso a partir da Coleção Treger Saint Silvestre. Enquanto projeto curatorial de um encenador e realizador, a exposição é teatral, da ordem do espetáculo, com cortinas pretas, jogos de luzes e diferentes personagens. Anula a habitual distância entre o público e o palco do teatro, propondo, antes, uma acentuada proximidade e um confronto aos quais não é possível permanecer indiferente.

Desta forma, na ocasião do seu décimo aniversário, o Centro de Arte Oliva reforça um dos seus princípios basilares: a afirmação da arte enquanto plural, dinâmica, em contínua expansão e lugar de práticas colaborativas. Com efeito, trata-se de um desígnio fundamental, no sentido de um campo artístico cada vez mais extenso, híbrido e inclusivo.

 


Constança Babo
É doutorada em Arte dos Media e Comunicação pela Universidade Lusófona. Tem como área de investigação as artes dos novos media e a curadoria. É mestre em Estudos Artísticos - Teoria e Crítica de Arte, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e licenciada em Artes Visuais – Fotografia, pela Escola Superior Artística do Porto. Tem publicado artigos científicos e textos críticos. Foi research fellow no projeto internacional Beyond Matter, no Zentrum für Kunst und Medien Karlsruhe, e esteve como investigadora na Tallinn University, no projeto MODINA.



CONSTANÇA BABO