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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.


Vista da exposição: Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. © Casa da Cerca – António Jorge Silva.

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ARQUIVO:


DIOGO NOGUEIRA

PARA TODOS VOCÊS COM FANTASIAS




GALERIA MUNICIPAL DE ALMADA
Av. Nuno Álvares Pereira 74A, 2800-177 Almada


29 MAR - 31 MAI 2025


 


“Para todos vocês com fantasias” [1], a exposição individual de Diogo Nogueira, na Galeria Municipal de Almada, é um verdadeiro paraíso homoerótico. No meio de um plano denso e verdejante, figuras masculinas nuas esfregam o corpo. Será que se lavam com a água cuspida? Que pessoas são estas cuja intimidade é de tal modo grande e grosseira, que uma se limpa com a água que outra cospe? Que utopia esta, em que é possível limpar-se o corpo e a alma em conjunto, com a ajuda de quem nos rodeia. Poderá ser este um sonho capaz de se concretizar? No meio do caos resultante de um mundo rápido e furioso, haverá ainda a possibilidade de se viver em comunidade e verdadeiramente em paz com tudo o que nos envolve?

 

Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. [Pormenor de obra] © Casa da Cerca – António Jorge Silva.

 

Apenas num outro universo é que cuspir para alguém pode significar um ato de carinho e cumplicidade. Lembra-me aquelas brincadeiras de criança, no mar, quando o instinto de encher a boca com água e fazer pontaria ao outro se apoderava de mim e, de repente, uma luta de espadas de água se desencadeava. Por breves momentos, suspendia-se a autoconsciência, para dar espaço à alegria e à amizade. Traquinices inocentes são interpretadas como gestos de ternura e, dificilmente, algo bruto ou feio.

Ou, por outro lado, gestos de interajuda, através da reunião de esforços, revelam-se cruciais para a sobrevivência de todos os seres sencientes nestes quadros. Um homem no alto de uma figura acrobática, apaga fogos que tentam consumir as árvores envolventes, disparando um jato de água tão potente e certeiro, que parece transformar-se numa boca de incêndio.

 

Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. [Pormenor de obra] © Casa da Cerca – António Jorge Silva.

 

Num outro cenário, homens mágicos balançam-se nus e livres no plano da imagem. Suspensos pelas pernas e de cabeça para baixo, desafiam a gravidade e, como um espetáculo de circo, atiram-se de um trapézio para o outro, sem nunca cair. De mão em mão, vão-se apoiando e equilibrando mutuamente, desenhando formas dinâmicas por meio de saltos e cambalhotas no ar. Sempre me fascinou a ideia de voar, talvez este seja mais um passo nessa direção.

 

Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. [Pormenor de obra] © Casa da Cerca – António Jorge Silva.

 

Entre fundos verdes e azuis, bouças e selvas, mar e céu, aparecem corpos masculinos que nos transportam para cenários idílicos, de uma calma e serenidade que, atualmente, parecem quase impossíveis de atingir. O verde das árvores entra na pele das figuras e, homem e natureza tornam-se um. Pinceladas vigorosas e carregadas de tinta constroem lonas de grandes dimensões, que nos enchem de luz e emoção e compõem corpos em movimento; partilham o mesmo espaço, a mesma alegria e amor. Línguas de fora, beijos e brincadeiras resumem a felicidade e o prazer de se estar em conjunto. Lírios brancos e motivos florais alaranjados brilham por entre o pano de fundo esverdeado, que nos relembram “a espantosa realidade das coisas”, de mãos dadas com um idealismo romântico.

 

Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. [Pormenor de obra] © Casa da Cerca – António Jorge Silva.

 

Esboços de corpos despidos e soltos andam pela pintura e, como por surpresa, ganham vida! Materializam-se, porque os reconhecemos. Existem, porque assim acreditamos. São verdadeiros, porque nos impactam. Provocam o olhar e destabilizam o pensamento. Queria entrar dentro dos quadros, compreender aquela beleza que tanto parece estar perto, por não lhe sentir distância, como longe, por fazer parte de um outro plano, que não o meu.

A obra do artista é, por si só, um ato de amor e coragem. Mas eleva-se quando desenha a relação entre o passado e o presente e, quiçá, a projeção de um futuro (de uma possibilidade, um desejo, um sonho). São imagens que nos surpreendem, que nos fazem rir de espanto. Sem dar conta, encontramo-nos num limbo – é tanto perturbante, quanto aliciante, a ideia de acharmos graça a uma heresia ou tabu [2].

 

Diogo Nogueira, Para todos vocês com fantasias, Galeria Municipal de Almada, 2025. [Pormenor de obra] © Casa da Cerca – António Jorge Silva.

 

São escapes da realidade, “exercícios de esperança”, como diz Diogo Nogueira. Como não poderia deixar de ser, já que isso é tudo o que nos resta. É necessário saber sorrir ao medo e responder-lhe com humor. “A arte existe para que a realidade não nos destrua.” [3] e se a realidade se revela demasiado dura, então deixemo-nos mergulhar na fantasia. Se a incerteza paira sobre nós como uma nuvem negra, então façamos a luz que rompe a escuridão.

 

 


Leonor Guerreiro Queiroz
(Porto, 1999) é artista plástica e integra, atualmente, o Mestrado em Artes Plásticas, na ESAD.CR. Formada em música clássica (fagote) pelo Conservatório de Música do Porto e licenciada em Artes Plásticas (Pintura) pela FBAUP, expõe regularmente desde 2015 na companhia de artistas estabelecidos. Organizou projetos e mesas redondas com personalidades do meio artístico internacional, tendo desenvolvido publicações em revistas de arte e teatro. Trabalha como professora convidada na DTK - Fine Arts School in Bærum (Noruega), desde 2023 e com a artista Paulina Olowska, desde 2020 na Academia de Belas Artes de Praga. Na área da escrita curatorial colabora, desde 2024, com outros artistas e curadores, escrevendo textos de apoio a exposições e reflexões sobre as mesmas.

 

 

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Notas

[1] Este texto deriva de um artigo publicado no jornal if it walks like a duck and it talks like a duck, its a duck #9 (no prelo), intitulado “Cuspir é um ato de carinho”.
[2] O termo “tabu” aqui utilizado como Georges Bataille propõe - um conjunto de normas imposto pela sociedade, que nos rege no quotidiano e que existe para ser quebrado.
[3] Nietzsche, F. (1872). O Nascimento da Tragédia.



LEONOR GUERREIRO QUEIROZ