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Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão


Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão


Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão


Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão


Jeff Wall, Tattoos and Shadows (2000). Transparência em caixa de luz; 195,5 × 255 cm. Cortesia do artista.


Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão


Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão


Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão


Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão


Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão


Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão


Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão


Vista da exposição Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias 1980-2023. Cortesia Fundação EDP/MAAT. © Daniel Malhão

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ARQUIVO:


JEFF WALL

TIME STANDS STILL. PHOTOGRAPHS, 1980–2023




MAAT
Av. de Brasília, Central Tejo
1300-598 Lisboa

23 ABR - 01 SET 2025


  

 

art-photography was compelled to be both anti-aestheticist and aesthetically significant, albeit in a new "negative" sense, at the same moment (Wall, 1995, p. 34). [1]

 

 

Em Time Stands Still. Photographs, 1980–2023, Jeff Wall mostra-nos uma visão oblíqua do que se apreende do modo de ver da imagem, cujo olhar advém do significado da conexão das múltiplas linhas subtis dos diferentes campos percetuais estéticos.

A imagem rompe com a tradição do modo de ver da fotografia, visitando, assim, o tableau photography. O momento da narração e da personagem que surge na fotografia não se trata apenas de um reconhecimento de combinações estéticas ou de um revivalismo da História da Arte. Wall produz uma obra de arte que ultrapassa os limites conceptuais da natureza da fotografia e da pintura.

A sua obra desdobra-se em múltiplos pictóricos, interligando conceptualmente a obra nas suas diversas variantes artísticas. Jeff Wall cruza a fotografia com a estética da pintura, do cinema, do teatro e da literatura, sustem a perceção contemplativa como se fosse um rizoma artístico, enaltecendo o discurso conceptual e reconstruindo o pensamento estético na obra de arte contemporânea.

A imagem desconstrói-se a si própria, convergindo, deste modo, a narração com a suspensão temporal, criando uma anti-narração, que nos projeta, enquanto observadores, para cenas de composição pictóricas construídas e nos fazem ponderar.

Afinal, o que se entende de fotografia contemporânea? O artista designa-as de “cinematografia”. Todavia, a narração permanece fragmentada pelo tempo e pela cristalização da história, produz uma anti-narração. O artista capta o instante, o fragmento da imagem-movimento como nos lembra Deleuze (1983), quando reconstitui ao cinema o idealismo em querer “a ordem da consciência com puros movimentos materiais” (p. 83).

A iluminação dada pela caixa de luz sugere suaves contrastes em pôr as “imagens na consciência, e os movimentos no espaço” (Deleuze, 1983, p. 83), desdobrando-se umas nas outras, a obra reflete a dimensão espácio-temporal. A alusão cinematográfica da imagem permite-nos a abertura em contemplar outros conceitos e perceções. A imagem vive por ela mesma, ou melhor, o espaço da imagem é onde o artista estabelece o simulacro na representação.

 

Jeff Wall, After “Invisible Man” by Ralph Ellison, the Prologue (1999–2000). Transparência em caixa de luz; 174 × 250,5 cm. Cortesia do artista.
 

 

Wall enfatiza a alegoria na arte contemporânea, descontextualiza o sentido original da imagem e do conceito de modo a apontar outros significados. Contemplamos o estigma de invisibilidade na fotografia como obra de arte, um olhar reflexivo do preconceito racial, no qual iremos recordar as palavras de Michael Fried (2008):

 

My sense is that the viewer cannot but think – and probably is meant to think – of that activity of collection as he or she stands before the picture. An exhaustive inventory of the contents of the room seems beyond the viewer’s capacity, but one can at least mention the uncountable array of lightbulbs, lit and unlit, that hang down from fixtures attached to the ceiling (…) and finally resting on the top of the back of a green padded chair, sections of what appears to be a manuscript – presumably the manuscript of Invisible Man (Fried, 2008, p.46). [2]

 

A obra After "Invisible Man" by Ralph Ellison, the Prologue, 1999-2000, inspirada no romance de Ralph Ellison transpõe-nos para o mundo da literatura. Nesta obra, o momento enaltece a contrarreação da invisibilidade, pendurando centenas de lâmpadas no ambiente onde a personagem vive, de modo a iluminar o seu mundo, como um manifesto à sua existência. Todavia, ele coexiste com uma amálgama de objetos, fundindo o ser com as luzes. A invisibilidade metamorfoseia para outra dimensão, como se estivessem ambos ao mesmo nível, a coisa e o ser negam-se a si próprios, ambos invisíveis e visíveis, divergindo em outras leituras conceptuais ao sistema desumanizado.

Do drama ao anti-drama, constrói-se uma anti-teatralidade do momento, o espectador sente o paradigma do instante, enquanto obra de arte. O reflexo do questionamento conceptual irradia a própria imagem, cuja caixa de luz ilumina o espaço, onde emerge o anti-drama, como se de um “instante-movimento” captasse. Então, o instante desponta no discurso estético, o fragmento entre o imaginário e o real. Funde-se na passagem do tempo, a luz, a sombra e a cor.

 

Jeff Wall, Insomnia (1994). Transparência em caixa de luz, 172 × 213,5 cm. Coleção privada, London
 

 

Em Insomnia, 1994, o artista suscita na obra uma outra conceção estética, lembrando uma construção quase Renascentista (Cotton, 2004), pelos seus diferentes ângulos de perspetiva, colocação de objetos e da figura no espaço. Todavia, Wall repensa a tradição pictórica ao elaborar outra perspetiva espacial.

 

The layout of interior acts as a set of clues to the events that could have led up this moment the man’s movements around the sparse kitchen in the restless state, unsatisfied, resigned to crumpling on the floor in desperation to achieve sleep (Cotton, 2004, pp.50-51). [3]

 

A conceptualidade da imagem envolve-nos num discurso estético da tradição compositiva pictórica. O modo de ver transmuta-se no “modo de pensar”. Nisto, Time Stands Still dilacera a cena suspensa no fragmento, o instante, de modo a eclodir no anti-drama.

A imagem permanece cristalizada na caixa de luz, como se o drama se ausentasse de uma dimensão espaço-tempo. Ganha a abstração e um novo significado dado pela profundidade espacial. Porventura, ela causa-nos a inquietação, enquanto espectadores, pela captação do instante-momento, mas, simultaneamente, sentimos o intervalo temporal, ora pela retenção da ação, ora pela iluminação da cena compositiva, ora pelos contrastes de luz-sombra, ora pela relação entre objetos e personagens. Por vezes, contemplamos a alegoria entre objetos. Quase como uma celebração à transitoriedade, Wall reconstrói algumas imagens à lembrança da pintura setecentista, as vanitas ou as naturezas-mortas no mundo contemporâneo, a título de exemplo vemos nas obras An Octopus e Some Beans, 1990.

Em Milk, 1984, a caixa de luz reflete o intervalo. Observamos um homem que veste uma camisa com calças escuras e sapatos pretos, sem meias nem atacadores, sentado no chão de um passeio, no qual sentimos algo estranho, na tensão corporal, no olhar e na explosão do líquido vibra a raiva de uma era esquizofrénica. O líquido, o leite, projeta-se no ar como se fosse o “intervalo” de uma cena cinematográfica. Na suspensão do tempo, o ser e a coisa, o líquido, habitam no espaço e no tempo, ambos são captados pelo instante, permanecendo eternamente nesse intervalo, mas o momento prevalece na eternidade, como se o instante ecoasse o absurdo, transmuta-se em alegoria contemporânea, dado que a raiva expressada na ação e no gesto se apresenta como um símbolo de desespero urbano.

Wall desconstrói e descontextualiza o real, num reflexo estilhaçado pelo tempo, cria uma dramatização que é anti-drama, visto que o rompe o ser à semelhança de Samuel Beckett. De imagem para imagem, o espectador experimenta o fragmento como processo de modus vivendi, ele abre a possibilidade do múltiplo significado através da captação do observador.

Jeff Wall interroga o significado da imagem. Elas desdobram-se em múltiplos, ou melhor, em duplos, cujas personagens aludem em volta ao instante. Este instante não permanece fixo, move-se e oscila constantemente entre jogos de narração e de composição pictórica numa multidimensão espacial, que, em certa medida, afloram em personagens como peças de um jogo de xadrez, cujo labirinto parece desempenhar um papel relevante na cena final do tríptico, quando contemplamos a obra Giardini /The Gardens; Appunto / Complaint; Disappunto / Denial; Diffida / Expulsion order, 2017. As personagens vivem no espaço multidimensional-matemático. Deslocam-se e desdobram-se em múltiplos, cuja sensação, no espectador, continua a ser fugaz e enigmática, na medida em que o conceito não se encerra, não possibilita um fim.


O observador poder-se-á constantemente questionar: a fluidez do líquido habita no intervalo-tempo? A personagem emerge do absurdo? O objeto vislumbra a beleza contemporânea no espaço? A imagem manifesta-se como o “interregno” do anti-drama? Ou, o intervalo multiplica o ser na passagem do tempo?

Time Stands Still.

 

 

Joana Consiglieri
Vive e trabalha em Lisboa. Artista plástica, teórica de arte, investigadora, professora do ensino superior e Design (Cocriadora de AMAZ’D art studio). Doutoramento em Ciências da Arte. Mestrado em Teorias da Arte e licenciada em Artes Plásticas – Escultura.

 

:::

 

Notas

[1] Wall (1995 p. 34) [tradução livre de JV]: “a arte-fotografia foi impelida a ser tanto significativa anti-estética como esteticamente, embora simultaneamente num novo sentido “negativo”.”
[2] Fried (2008, p. 46) [tradução livre JV]: A minha noção é que o espetador não pode deixar de pensar - e que provavelmente é suposto pensar - nessa atividade de captação quando se encontra perante o quadro. Um inventário exaustivo do recheio da sala parece estar para além da capacidade do espetador, mas podemos pelo menos mencionar o incontável conjunto de lâmpadas, acesas e apagadas, suspensas e presas por candeeiros ao teto (...) e, finalmente, repousa no topo das costas de uma cadeira com almofadada verde partes do que parece ser um manuscrito - presumivelmente o manuscrito do “Homem Invisível”.
[3] Cotton (2004, pp. 50-51) [tradução livre JV]: A disposição do interior funciona como um conjunto de pistas para os acontecimentos que podem ter conduzido a este momento: os movimentos do homem pela cozinha escassa, no estado de inquietação, insatisfeito, resignado a esmagar-se no chão em desespero para conseguir dormir.



JOANA CONSIGLIERI