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FEIRA DE ARTEPARIS PHOTO 2025GRAND PALAIS Avenue Winston Churchill 75008 Paris 13 NOV - 16 NOV 2025
Photography is a love affair with life. Burk Uzzle
Bienvenue à tous, à 28ª edição do Paris Photo 2025, o maior e mais prestigiado evento internacional dedicado à fotografia, e que decorreu entre 13 e 16 de novembro, em Paris. Muito mais do que uma feira, este encontro anual é um observatório fundamental para conhecer as tendências e os artistas contemporâneos, revisitar autores firmados e descobrir novos valores emergentes. Tal como em 2024, o evento teve lugar no Grand Palais (depois das grandes obras que receberam os Jogos Olímpicos), o Paris Photo volta a evidenciar a vitalidade, a pujança e também a pluralidade da criação fotográfica contemporânea. É impossível não reconhecer a importância e relevância deste enorme evento que recebeu 179 galerias de 33 países (incluindo 60 estreantes). Podemos ver ao lado dos ‘clássicos’ e dos vintage, as novas linguagens no campo da experimentação digital. O Paris Photo acolhe o que a conhecida revista Artnet designa como “a diversidade de galerias, expositores e editoras que promovem o diálogo entre obras de arte e artistas através do tempo e do espaço (…)”. O sector livreiro (com 43 expositores), que continua a ser um dos maiores atractivos para o público, inclui este ano 8 novas editoras com muitas centenas de títulos entre edições de autor, edições limitadas, publicações especiais e livros raros (que regressam pela 2ª vez este ano, pela mão da Dirk K. Bakker Boeken, e da La Chambre Noire entre outras). Num momento em que a imagem ocupa um lugar central na cultura global — e em que a inteligência artificial desafia as fronteiras tradicionais deste media — o Paris Photo é, porventura, o evento mais importante de reflexão sobre a fotografia e a própria concepção difusa do que é a Arte.
Cinco sectores Tal como em 2024, a edição deste ano apresenta-se dividida em 5 sectores. O sector Principal reúne as galerias mais proeminentes do mercado e integra, com o sector Prismes, uma selecção de projectos de grande envergadura. Destaques no sector principal para a série de inéditos de Sally Mann [1], assim como para o trabalho de índole coreográfica e íntima de Tania Franco Klein. No Prismes cabe referir os projectos de grande dimensão que reflectem as propostas mais ambiciosas de artistas e galerias. É o caso de uma instalação de 36 metros de comprimento da vencedora do Prémio Hasselblad 2025, Sophie Ristelhueber, que nos faz lembrar o trabalho muito inovador da iraniana Gohar Dashti, e que destacámos em 2024.
Sophie Ristelhueber, Pont Allenby #2, 2016 – Cortesia da artista & Galerie Poggi
Sophie Ristelhueber (1949, Paris) é uma artista francesa cuja obra passa por uma abordagem peculiar da “fotografia de guerra”: em vez de retratar pessoas, ela cria imagens das cicatrizes deixadas nos lugares que fotografa — crateras, trilhos, ruínas e paisagens arrasadas. O seu trabalho, que inclui além da fotografia, o vídeo e instalação, já foi exibido em museus prestigiados como o MoMA (NY) ou o Centro Georges Pompidou (Paris). Após o seu lançamento em 2024, o sector Voices apresentou-se agora na nave central. São trabalhos sobre paisagens de artistas estreantes no Paris Photo. A selecção mostra-nos trabalhos realizadas em países (descentrados), que vão da Índia ao Egipto, Irão, Líbano, Roménia e Polónia, numa abordagem documental ou mais pessoal e experimental. Destacamos Mohammad Ghazali (n. 1980, Irão), ou Ioana Cîrlig (n. 1987, Roménia). O setor Émergence revela 20 projectos solo de artistas emergentes de diferentes geografias, ao todo nove países. Entre eles, destacam-se Bérangère Fromont, Atong Atem, Mia Weiner e Louis Porter, revelam o que há de mais inovador na arte contemporânea. Desde as questões sociais e culturais actuais até à utilização e experimentação de novas técnicas, este sector mostra a energia e a criatividade de uma nova geração de artistas. Já o sector Digital, revela a fusão entre imagem similar a fotografia e novas tecnologias, com projetos de artistas como Cole Sternberg que apresenta “(…) mais de um milhão de composições digitais únicas criadas por meio de um algoritmo personalizado que combina dados de conectividade à Internet, flora indígena e um arquivo de fotografias botânicas do século XIX.”, pode ler-se no comunicado de imprensa do Paris Photo.
Dos clássicos à vanguarda É muito interessante perceber que na fotografia as tendências mais experimentais e abstratas não são as preferências, quer dos visitantes amadores/aficionados da fotografia quer dos profissionais (os experts, os colecionadores, imprensa). E aqui coloco obviamente o ‘experimental’ na área do digital e da IA (Inteligência Artificial Generativa). É curioso perceber que este sector não cresceu do ano passado para este ano, mantendo a presença das mesmas 15 galerias. De facto, é o trabalho figurativo criado por artistas humanos que convoca a maioria das atenções, ficando o abstraccionismo IA/digital num plano muito secundário. Exemplo disto é o que a famosa revista Wallpaper escreve num editorial online: “Se procura ‘joias’ de Walker Evans, Berenice Abbott, Lee Friedlander, Irving Penn, Seydou Keïta, William Klein, Weegee, Sally Mann, Sebastião Salgado ou Hiroshi Sugimoto, veio ao lugar certo.” É também muito interessante saber o que alguns meios referem existir (não só entre o público, mas junto dos artistas) um interesse crescente por algumas técnicas fotográficas clássicas como, por exemplo, os daguerreótipos, usadas no séc. XIX. Esta tendência mostra que o concept da IA/computer produced work está a experimentar um certo declínio. Na minha opinião, quanto mais se massificar a produção de peças criadas por máquinas – mais a ideia de artesanato/criação por humanos – e no caso da fotografia, a de imagens criadas através de uma camera, será (re)valorizada. A minha posição está bem patente no artigo que escrevi em 2024, precisamente sobre o Paris Photo. “Essa ideia de apropriação de algo tangível no contexto tempo-espacial é impossível de ser gerado pela IA. Se a IA ‘inventa’, não capta o existente. Como defendeu Susan Sontag, no famoso livro On Photography, (1977), «fotografar é apropriarmo-nos da coisa fotografada». Mesmo quando alguns artistas usam técnicas ou materiais diferentes nos seus trabalhos ‘fotográficos’, existe uma realidade anterior, que é física.” [2]
Paulo Roberto
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Notas [1] Sally Mann (n. 1951, Lexington, Virgínia, EUA) conhecida pelo seu trabalho a preto e branco de grande formato, que retrata uma visão intimista das gentes e do southwest americano, é considerada um dos mais influentes nomes da fotografia contemporânea. Embora envolto em controvérsia, nos anos 90 por exibir imagens de nudez infantil, o trabalho de Sally Mann voltou a ser elevado pela crítica e pelo mundo artístico, como foi o caso da recente exposição no conhecido Modern Art Museum of Fort Worth.
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