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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Explosão 1, 2022. Impressão digital a jato de tinta pigmentada sobre papel baritado, 27 x 40,5 cm. © Manuela Marques


Ilha 4, 2022. Impressão digital a jato de tinta pigmentada sobre papel baritado, 48 x 64 cm. © Manuela Marques


Ponto de fuga, 2019, impressão digital a jato de tinta pigmentada sobre papel baritado, 110 x 165 cm. © Manuela Marques


Transportadora 3, 2022. Impressão digital a jato de tinta pigmentada sobre papel baritado, 56 x 84 cm. © Manuela Marques


Superfícies sensíveis, 2019. Cada 112x150cm. © Marc Lenot


Onda 3, 2022. 50x75cm. © Manuela Marques


Topografias 1-9, 2022. Cada 65×97.5cm. © Marc Lenot


Sísmico, 2019. 120x70cm. © Manuela Marques

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ARQUIVO:


MANUELA MARQUES

ECHOES OF NATURE




MNAC - MUSEU DO CHIADO
Rua Serpa Pinto, 4
1200-444 Lisboa

21 OUT - 29 JAN 2023

Manuela Marques, entre ecos da natureza e da cultura: materialidade fotográfica

 


Por certo a exposição de Manuela Marques no Museu do Chiado em Lisboa (até 29 de janeiro) intitula-se Ecos da Natureza; por certo mostra imagens de paisagens e de ambientes naturais em França, Portugal (Continente) e Açores; por certo podemos olhar para ela como uma reflexão sobre o conceito artístico de paisagem, sublime, romântico, natural; por certo podemos perceber uma atenção sustentada aos fenómenos telúricos, e em particular às erupções vulcânicas, e à magia atlântica. E este é de facto o ponto de partida da artista.

Mas parece que depois as imagens (ou em todo o caso a maioria delas) lhe escaparam e adquiriram a sua própria autonomia, o seu discurso independente, que se despojaram do seu argumento natural para se tornarem puros objectos culturais: esqueça o que representamos, dizem elas, não leia as legendas, contentai-vos em nos olharem fixamente, longamente, com atenção. Nós somos objectos, matéria, esculturas planas, composições de formas e de cores abstractas; não tentem decifrar-nos, “compreender-nos” e abandonai-vos à contemplação, à meditação. Este é um rasgão branco sobre um fundo preto: mas isso não basta para saboreá-lo, para desfrutar deste recorte de renda, desta inquietude sombria que devora a luz. É um lago de montanha, é, dizem-nos, uma ilha, uma parte de arquipélago, outras são vizinhas na parede, e claro evocamos o Atlântico e os Açores, mas é necessário? Sentem-se mais ricos, mais felizes em saber que esta fotografia foi pensada e construída assim?

Esta é uma forma perfeita, eterna, arcaica, podemos imaginar uma pedra na mão de um Neandertal, ou então um ídolo primitivo, um símbolo andrógino. A sua superfície é picotada, marcada, como traços de uma história desconhecida. E ficamos quase desiludidos de ler a legenda, Onda, e de perceber que é um jogo de luz sobre a areia à beira-mar: não que não seja também uma pista interessante, transporta-nos para uma fusão sensual de elementos, mas porque não é só isso, isso limita o meu olhar, a minha fantasia, afasta-me da forma pura para me constranger a uma única leitura.

Sísmico (2019) é um magma fusional onde formas indistintas se entrelaçam num abraço infernal, e fico feliz de não compreender nada, de não saber do que se trata (e de me abster de o perguntar à Manuela): eu não quero saber, eu quero somente mergulhar nessa imagem, nessa matéria ao mesmo tempo atraente e repulsiva, e deixá-la penetrar o meu corpo, o meu cérebro e as minhas entranhas (e, graças a Deus, ela chama-se Sísmico, o que não diz nada de preciso). Da mesma maneira, uma parede de imagens a cores, intitulada Superfícies Sensíveis, oferece ao olhar uma sinfonia visual complexa, que, podendo evocar a química dos fotogramas, derrota à vontade, e isso está muito bem assim.

 

Réplica 1, 2022. Impressão digital a jato de tinta pigmentada sobre papel baritado, 65 x 97,5 cm. © Manuela Marques

 

Banhamo-nos assim durante a exposição em sombras e reflexos, em brilhos e rupturas, percorrendo as fronteiras entre líquido e sólido, entre visível e escondido, entre explícito e misterioso. Confesso ter gostado menos das raras imagens mais anedóticas onde o humano aparece, as mãos estendidas para o céu ou uma cena verde à Friedrich. Mas, já há oito anos, eu privilegiei no seu trabalho o facto deste se encontrar “algures entre o real e a sua representação, ou melhor para além da representação”.

A exposição foi apresentada anteriormente no Havre e à Kerguéhennec. Belo catálogo (recebido da assessoria de imprensa): numa caixa, um livro que contém imagens de página inteira, com um índice separado contendo toda a série com títulos e dimensões, e um caderno trilíngue (francês, português, inglês) com um texto mais “natureza” de Léa Bismuth e um texto mais “cultura” da comissária portuguesa Emília Tavares.



MARC LENOT