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ENTRE LUZ, LABIRINTOS E FLUXOS: TRÊS EXPERIÊNCIAS IMERSIVAS CHEGAM AO MAAT EM OUTUBRO

2025-10-05




Por Julia Ugelli
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Luz e som em movimento

Dando início ao ciclo expositivo do MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, “Formas no Espaço… através da Luz (no Tempo)” marca a primeira exposição individual em Portugal do artista britânico Cerith Wyn Evans. A mostra, em exibição de 5 de outubro de 2025 a 16 de fevereiro de 2026, reúne cerca de 30 obras, entre esculturas luminosas, instalações sonoras e vídeos, revelando a amplitude de uma prática que cruza arte, linguagem e tecnologia. Na Galeria Oval, uma grandiosa rede de neon branco suspensa redesenha o espaço em linhas de luz e sombras, transformando-o em um território em constante mutação. Sem um trajeto definido, a experiência assume um caráter coreográfico, em que cada deslocamento do visitante oferece novos enquadramentos e percepções. A interação entre luz e som compõe harmonias fluidas que se manifestam de modo singular a cada olhar, instigando o público a relacionar formas, ritmos e movimentos com sensações, vivências e reflexões pessoais. Entre camadas de sentidos e perspectivas variadas, a exposição propõe uma imersão sensorial contemplativa, em que a arte se afirma como experiência viva e transformadora.


Labirinto de corpos e memórias da migração

Já no exterior do MAAT, a Praça do Carvão recebe “Coral dos Corpos sem Norte”, de Kiluanji Kia Henda, no âmbito da BoCA - Bienal de Artes Contemporâneas. A instalação, que pode ser visitada até 3 de novembro, é a maior obra do artista angolano em Portugal e ergue-se como uma imponente estrutura metálica em forma de labirinto, feita de grades geométricas usadas tradicionalmente como barreiras urbanas. Este espaço penetrável, habitado por cabeças espalhadas no chão como restos de um naufrágio, convida o público a percorrer entradas, becos e saídas que remetem às tensões da migração, da diáspora e da herança colonial. O trabalho, simultaneamente monumental e poético, questiona a “geometria do medo” presente nas cidades e no imaginário político, tornando a experiência do visitante uma metáfora da deriva, da exclusão e da busca por libertação. Em diálogo com estas ideias, a obra será ativada por três performances de entrada livre, nos dias 5, 12 e 19 de outubro, que expandem a reflexão sobre deslocamento e resistência no contexto atual.


Fluxos urbanos e o peso da cidade

Completando a programação do MAAT, a exposição “Fluxes” integra a 7.ª Trienal de Arquitetura de Lisboa, intitulada “How Heavy Is a City?”, que transforma Lisboa em um ponto de convergência do pensamento e da prática arquitetónica. Com curadoria de Ann-Sofi Rönnskog e John Palmesino, da Territorial Agency, a mostra está aberta de 5 de outubro de 2025 a 19 de janeiro de 2026 e oferece aos visitantes a oportunidade de refletir sobre os fluxos de materiais, energia e informação que atravessam e modificam os territórios urbanos, revelando como quase 30 bilhões de toneladas de matéria se acumulam em edifícios, ruas e infraestruturas que moldam a vida contemporânea. “Fluxes” propõe uma leitura poética da trama urbana como corpo vivo: feito de fissuras e erosões, mas também de renovações e interligações. Entre modelos, imagens e filmes, a exposição questiona como medir o peso de uma cidade e como detectar nele os sinais do Antropoceno, reconfigurando a imersão na paisagem urbana em uma alegoria do futuro coletivo. A mostra integra um programa mais amplo da Trienal, que inclui as exposições “Spectres”, no MUDE (Museu do Design), e “Lighter”, no MAC/CCB (Museu de Arte Contemporânea e Centro de Arquitetura), além de três dias de conferências internacionais na Fundação Calouste Gulbenkian (29 a 31 de outubro), quatro dias de atividades para escolas, famílias e crianças no Palácio Sinel de Cordes (16 a 20 de outubro) e vários projetos independentes distribuídos por diferentes espaços da cidade.


“Formas no Espaço… através da Luz (no Tempo)”, “Coral dos Corpos sem Norte” e “Fluxes” desenham caminhos múltiplos para experienciar a arte, repensar o mundo e desafiar a percepção de espaço e tempo.



Julia Ugelli / para a Artecapital