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MAAT INAUGURA 'DETOUR': A RETROSPECTIVA DE PEDRO CASQUEIRO QUE TRANSFORMA DESVIOS EM EXPERIÊNCIA2025-11-15A partir de 12 de novembro e até 6 de abril de 2026, o MAAT apresenta “Detour”, uma ampla retrospectiva dedicada a Pedro Casqueiro (Lisboa, 1959), um dos nomes mais inquietos e singulares da pintura portuguesa das últimas quatro décadas. Com curadoria de João Pinharanda, a exposição reúne cerca de 80 obras produzidas entre os anos 1980 e 2024, propondo uma travessia pelo trabalho que nunca escolheu o caminho mais direto, preferindo sempre o desvio, esse território fértil onde a pintura se reinventa. Sem obedecer a uma ordem cronológica, “Detour” desenha um mapa de tensões, mudanças e derivas. O visitante é lançado em um labirinto de cores intensas, padrões desalinhados, palavras e expressões soltas, figuras inesperadas e composições que parecem sempre desafiar qualquer tentativa de fixação. As primeiras telas, densas e vibrantes, dos anos 80, revelam o momento em que o artista emergiu com um vocabulário próprio, onde a cor ganha corpo, fricção e energia única. Em outra fase, esse impulso inicial transforma-se: o gesto exuberante dá lugar a uma precisão quase gráfica, as texturas espessas cedem às superfícies planas, com linhas nítidas e cores mais suaves, às vezes quase tímidas. Mas o humor irônico, essa pequena sabotagem que torna a obra de Pedro Casqueiro tão particular, permanece. Ele aparece nos erros propositados, nos enquadramentos que parecem deslizar, nos padrões que se recusam a ser regulares e nos textos neutros que, apesar de simples, despertam ambiguidades. Entre referências à cultura visual contemporânea, ecos da banda desenhada, sinais do cotidiano e frases arrancadas do murmúrio urbano, Casqueiro constrói imagens que oscilam entre o retrô e o modernista, entre o gesto livre e a composição rigorosa. É uma pintura que brinca, mas nunca de forma leviana: por trás da aparência “fútil”, há sempre uma melancolia discreta, talvez um espelho do tédio moderno que o artista parece reenquadrar, desmontar e recompor obsessivamente. O título da exposição, “Detour”, aponta precisamente para essa lógica: desviar é recusar o caminho único, é permitir-se dedicar tempo, olhar de lado, abandonar o percurso principal para descobrir o que resta fora da rota prevista. No MAAT, esse desvio se revela como experiência, convidando o visitante a traçar o seu próprio trajeto e a entrar na obra de Pedro Casqueiro não como quem percorre uma linha reta, mas como quem aceita perder-se, e nesse movimento descobre outras formas de ver, ler e sentir a pintura. Por Julia Ugelli |














