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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição R!™0, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


Vista da exposição R!™0, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


R: 0-8, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


Vista da exposição R!™0, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


Vista da exposição R!™0, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


Vista da exposição R!™0, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


R: al, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


Vista da exposição R!™0, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


R: CdM, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


Vista da exposição R!™0, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


R: memória, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


Vista da exposição R!™0, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


Vista da exposição R!™0, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC


Vista da exposição R!™0, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC

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ARQUIVO:


PEDRO TUDELA

R!TM0




MUSEU INTERNACIONAL DE ESCULTURA CONTEMPORÂNEA DE SANTO TIRSO
Av. Unisco Godiniz 100
4780-368 Santo Tirso

27 OUT - 18 FEV 2024


 


Não nos deixemos enganar à primeira pelo título convencional - ritmo -, pois logo se percebe que está codificado linguística e visualmente. Em R!TM0, cada letra desdobra-se num símbolo que ultrapassa a semântica da palavra havendo, logo à partida, uma tentativa de conversão de linguagens. Também não nos deixemos enganar à segunda: talvez a construção do vocábulo tenha sido efeito e não causa.

Na folha de sala, são-nos apresentadas hipóteses para o significado de cada uma. Mas nem por isso o espetador deixa de ser livre de interpretar os seus vários sentidos consoante aquilo que vê e ouve nesta exposição que parte da repetição – tema que continua basilar na produção artística de Tudela e sobre a qual se expressa a partir da multiplicidade de meios que já lhe é comum numa carreira de mais de três décadas – a instalação, a escultura, o desenho, com a presença plástica e conceptual do som. Esta repetição na qual as obras perduram, é transversal aos múltiplos tempos que definem a nossa existência, a começar pelos dias marcados pela rotina, muitas vezes capaz de nos sugar o tempo necessário para a reflexão ou de nos manter alheados e acríticos face ao mundo em redor. Não obstante, ela própria pode ser alvo de contemplação se assim decidirmos.

 

R: 0-8 (2023), Pedro Tutela, MIEC. © MIEC

 

E Tudela decide. Com R começam todos os títulos das obras expostas (à exceção das que foram realizadas na residência artística em Siracusa, em 2019, aqui apresentadas noutro contexto e suscetíveis a outras leituras), manifestando o seu carácter serial, algumas ancoradas ao ready-made e outras sem hipótese de serem reproduzidas. O percurso começa com a (belíssima) peça R: 0-8 (2023) onde 8 esferas de ferro espelhado pousam em 8 mísulas de cerâmica em formato miniatura. Recuo ao espelho de Van Eyck e ao seu manifesto autoral no Retrato do Casal Arnolfini (1434) ou à Fonte (1917) de Duchamp. A distorção da nossa imagem e a do espaço em, pelo menos, 8 vezes (infinito), encapsula o nosso reflexo numa série de ciclos que pensamos controlar e nos mostra que estamos aqui e além. Esta métrica linear introduz a exposição para logo a seguir ser rematada por R: al (2023): uma gota de vidro soprado cristaliza esse movimento e esse tempo que não sabemos qual(ificar), e que está na origem das esferas anteriores. A transparência, a superfície refletora e o rigor formal fazem jus à acutilância do título: al(l), como possível tradução de tudo, ou até mesmo lendo RAL, a conhecida tabela de cores e, por isso, referindo a luz, o espectro. Se a exposição começa com obras sem a intervenção do som tão característica de Tudela, elas inauguram a tendencial da rotina nos seus dois antónimos: a regra e a exceção, a sequência e a pausa.

 

R: al (2023), Pedro Tutela, MIEC. © MIEC

 

O que primeiro me cativou nesta exposição foi simplesmente o ato (ou a vontade?) de contar e estar atento (assim também avisa o !) ao número das coisas e à sua frequência. Este contar numérico em voz alta, hoje uma ação quase obsoleta pela autonomização do número no controlo das nossas ações/movimentos, é o que marca a perceção humana de tempo. Não obstante, considerá-lo uma quantidade numérica que se gasta – consumível – é distorcido, havendo um conflito ou uma incompatibilidade (por vezes irresolúvel) entre desejo e ação, no que André Barata designou como “a ditadura do tempo”.

Visitar uma exposição de Tudela é também estarmos cientes do intercâmbio entre a simultaneidade da imagem e a sucessividade do som. Enquanto experiências conjuntas (nem sempre dependentes), a visual e a auditiva está associada a um espaço que reverbera sempre uma (im)possível troca. No piso 0, na cadência dos janelões e das namoradeiras da nave monástica, a peça R:C-E_Loop (2023) e Rastos (1997) (separadas por um intervalo temporal de 26 anos) convivem nessa coincidência. Vários objetos sucedem-se pelo espaço que, pela sua extensão, faz de pauta musical: uma casota de madeira sem entrada ou saída, uma corneta, uma escada de ferro seccionada sem começo ou fim, interligados por três canais de som que fluem pelo pavimento, e intercalados por um poste (deitado), isoladores de vidro e porcelana, e olhos cuja íris é substituída por um alto-falante. A aparente deslocação destes objetos, e o contraste de sensações e matérias reportam a várias paisagens; e o som parece acumulativo, um ruído em que não importa muito que se distinga quais os emissores, mas a sua reverberação nos objetos. (Entretanto, os sinos do mosteiro tocam as badaladas das horas, reclamando o seu lugar na exposição). Os objetos capturam a memória e a pergunta que me ocorre é: Como se ouve uma imagem? / Como se lembra um som?

 

Vista da exposição R!™0, Pedro Tutela, 2023, MIEC. © MIEC

 

O elo entre memória e esquecimento torna-se evidente, sendo que a repetição tem essa capacidade reversível de tanto recordar o que julgámos olvidar, ou esquecer o que é presente constantemente. Este encadeamento manifesta-se nas obras distribuídas pelo piso -1 do museu, ao qual a peça R: CdM (2023) convida e apresenta algumas pistas. Tudela revisita GT_S – Orecchio del Suono (2019), apresentada no âmbito da sua residência artística em Siracusa. A apropriação das Teste di Moro sicilianas, aqui desfiguradas, sinistras na sua brancura e coroadas com pinhas pretas, altera o tom da exposição. Sem dúvida mais sombrio. Na peça R: memória (2023), é a vez da cabeça de uma águia petrificar uma expressão de agonia ou rejubilo ao lado de um delicado sino de vidro que emite som (e não só).

A última sala está entregue ao desenho na sua vertente mais clássica. Um pentagrama percorre 30 folhas de papel desencontradas simulando um espetro sonoro, povoado por círculos e circunferências (0) de diferentes dimensões. Na parede oposta, onze círculos espelhados refletem esta pauta gráfica como discos riscados. A rotatividade versus a linearidade do som é assumida num equilíbrio simultâneo, que encontra na passagem do tempo do fazer desenho a fisicalidade do movimento.
Em suma, uma desafiante exposição com muitas nuances para repensarmos (ou apenas revermos) o ritmo, os padrões e as quebras que definem os vários campos da nossa vida e daí contemplarmos o que é belo e/ou terrível.

 

 
 
 

Cláudia Handem
(n. 1992, Murtosa) Licenciada e mestre em Arquitetura pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, e licenciada em Artes Plásticas - Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Desenvolve prática artística no campo do desenho e da pintura, e escreve, de forma independente, sobre exposições de arte.



CLÁUDIA HANDEM