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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Fotografia: Francisco Pereira Gomes ©Fundação Eugénio de Almeida


Fotografia: Francisco Pereira Gomes ©Fundação Eugénio de Almeida


Fotografia: Nuno Lourenço


Fotografia: Nuno Lourenço


Fotografia: Francisco Pereira Gomes ©Fundação Eugénio de Almeida


Fotografia: Francisco Pereira Gomes ©Fundação Eugénio de Almeida


Fotografia: Francisco Pereira Gomes ©Fundação Eugénio de Almeida


Our Founding Fathers 044, 2018. Tinta flashe e guache sobre papel marmoreado_112x76 cm_©FEA-Pedro Calhau


Fotografia: Nuno Lourenço


Fotografia: Francisco Pereira Gomes ©Fundação Eugénio de Almeida


Série Cosmos, 2019. ©FEA-Francisco Pereira Gomes


Cosmos p39-41, 2019. Guache e tinta flashe sobre papel_50x70cm_©FEA-Pedro Calhau


Fotografia: Nuno Lourenço


Fotografia: Nuno Lourenço

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ARQUIVO:


PEDRO CALHAU

DO INESGOTÁVEL




FUNDAÇÃO EUGÉNIO DE ALMEIDA - CENTRO DE ARTE E CULTURA
Largo do Conde de Vila Flor
7000-804 Évora

07 NOV - 31 JAN 2021

O mundo inteiro por Pedro Calhau

 


Abrir a mente de modo a que os seus próprios mecanismos possam sondar, tanto o mundo das pequenas formas como o que está imensuravelmente distante, através do potencial de diversas linguagens e anulando a fronteira entre terra e cosmos, tal parece ser a ambição de Pedro Calhau. Talvez por esta razão a exposição do seu trabalho no Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida, sob curadoria de Mariana Marin Gaspar, se intitule “Do inesgotável”. Os resultados ali expostos não são determinados por um plano prévio bem traçado, mas, são antes fruto de uma incansável experimentação percorrendo desenho, gravura, fotografia, instalação e texto, originada por esse ilimitado desejo de unir o inferior e o superior ao todo universal.

 

Fotografia: Nuno Lourenço

 

Para além do método experimental, outro elemento desempenha aqui um importante papel: a aplicação de sólidos conhecimentos técnicos. Está lá toda a gramática das artes visuais: os pontos brilhantes, a precisão das linhas, as manchas nebulosas, as margens bem delineadas, a qualidade do papel, a perfeita caligrafia a lápis de carvão, o rigor do desenho, o equilíbrio da composição e os cuidadosos fundos adamascados ou marmoreados tal como os vemos nas contracapas dos livros encadernados. A lição foi aprendida com distinção, porque, a observação de Pedro Calhau é de igual modo global e detalhista. Esta bivalência confirma-se na difícil representação das paisagens noturnas das séries “Nous” e “Estrelas”, permitindo ao espetador gozar de um verdadeiro espetáculo cósmico à frente do seu nariz. Por um lado, as estrelas refletem em pormenor a luz sobre a superfície de cada objeto, em contraste, com um breu profundo e os vulcões explodem no máximo da sua intensidade encadeando toda a folha. Na série “Our founding fathers” inspirada nos fundadores dos Estados Unidos da América, a pesquisa lança-se igualmente nas duas direções. Numa, o estudo analítico da perspetiva com sugestões de arte africana na representação dos bustos dos fundadores; noutra, as texturas resultantes dos efeitos estéticos da pedra e das cores da terra dominando os amplos fundos das gravuras.

 

Fotografia: Nuno Lourenço

 

Estamos ainda no plano da competência, mas, Pedro Calhau vai mais longe ao roçar o patamar da genialidade na série “Cosmos”. Aqui, dá-se a fusão do conhecimento criativo com o pensamento filosófico. Olhar para esta série é mergulhar num atlas de intensa busca do conhecimento. Ilustrações de mapas e constelações entram em debate com textos de crítica sobre diversas correntes filosóficas. Cada uma destas “páginas”, ou seja, destes trabalhos artísticos, trata-se de um convite tertuliano para refletir sobre a episteme como manual de instruções sobre a felicidade neste mundo. Assim, ao lado de um rio cartografado, Pedro Calhau fala-nos da velha querela entre a escola britânica e a escola continental de filosofia, opondo o empirismo clássico ao racionalismo clássico. Um desenho com diversos alvos de espingarda tem como legenda um texto sobre o contraste entre o pessimismo e o otimismo epistemológico, análogos ao tradicionalismo e ao racionalismo epistemológico. Seguem-se, depois, mapas associados ao conceito da anamnesis; desenhos de fotografias de satélite para consulta meteorológica postas em diálogo com a teoria da verdade manifesta e, também, registos orográficos ilustrando a teoria pessimista de Platão sobre a natureza de quase todos os homens, bem como das suas consequências na formulação das leis. Por isto, deixar-nos deliciar, unicamente, pelas magníficas imagens ou pelo efeito das palavras mais chamativas e não lermos os textos, seria desrespeitar o verdadeiro alcance deste processo criativo, no qual se aponta para a filosofia como a arte da prosa, lembrando a caracterização hegeliana das artes. Num dos seus melhores textos, Pedro, o artista-filósofo, chega a concluir que a maior parte do conhecimento é mediado através de modelos tradicionais e do que nos foi transmitido oralmente. Mas, apesar de não existir conhecimento sem tradição, esta encontra-se sempre sob escrutínio, ao ponto de poder ser destruída. Aonde poderá, então, pairar a verdade? Algures entre a alternância do continuar e do romper.

O trabalho artístico de Pedro Calhau lembra-nos bem que as respostas já existem na imensidão do mundo, apenas temos de as ativar ousando perguntar. As descobertas serão, então, inesgotáveis ao explorarmos os percursos emaranhados das relações entre o tempo e o espaço. De tamanha curiosidade não há que ter vergonha. Basta assumi-la, como declara o artista num texto-legenda da série “Nous”: “(…) O interesse alargado do meu trabalho é o mundo em toda a sua diversidade (…)”.

Assim, deseja um corajoso!

 



NUNO LOURENÇO