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JULIAN OPIEJULIAN OPIEGALERIA DUARTE SEQUEIRA R. da Galeria nº129, 4700-803 Braga 14 JUN - 13 SET 2025 O que faz mover o mundo
A ciência é análise espectral. A arte é síntese luminosa - Karl Kraus, Aforismos
O movimento funciona neste caso como a síntese do gesto e da presença através de uma animação pop e minimalista que sugere a acção e o tempo de um modo bastante simplificado. Existe na proposta estética de Opie um ciclo de repetição, que sem ser narrativo visa provocar no espectador uma “sensação de vida digital” que, de certa maneira, pode ser entendida como uma crítica à homogeneização do homem na era da imagem digital. Por toda a exposição perpassa um brilho frio, reflexo da estrutura modular do LED que se projecta no modo como as figuras nos retratos e nas esculturas expostas no exterior da galeria se apresentam ao espectador semelhantes a vitrines digitais com traços gráficos que reforçam a ideia de uma cultura visual onde o urbano e o público se misturam tornando assim a obra num “outdoor artístico”. A técnica, apesar de ser o meio através do qual a obra de arte se realiza enquanto modo de expressão essencial, não se pode substituir à criatividade do artista. O que torna particularmente interessante esta exposição é o modo como o recurso à tecnologia LED permite ao artista dialogar de certa maneira com Warhol ou, de um modo diferente, com Muybridge ao colocar em acção a repetição mecânica da imagem, realçando assim a iconografia de massa anglo-americana. Enquanto Warhol usava a serigrafia (técnica analógica) para produzir imagens para simplificar a figura, Opie utiliza figuras sintetizadas com traços negros e cheios, que lembram ícones ou pictogramas (técnica digital). Opie interessa-se ainda pela cultura de massas ao representar pessoas comuns que andam na rua sem recorrer, como Warhol, à publicidade directa e ao design gráfico dos cartazes e revistas.
Vídeo: Carlos França
Nas imagens em movimento dos atletas corredores, nos retratos abstractizados, nas pessoas em andamento ou nas esculturas públicas parece haver um propósito comum de desindividualização ao reduzir-se o corpo e o rosto a silhuetas padronizadas, que apagam qualquer traço sensível da identidade humana. Opie explora assim toda uma lógica de interface gráfica e digital, que remete a sua obra para o campo experimental do distanciamento emocional onde o mundo surge carregado de movimento, mas sem interacção, linguagem introspectiva ou consciência reflexiva já que ele parece ser mediado exclusivamente por relações tecnológicas. O indivíduo tem apenas liberdade para correr ou andar num mundo dominado pela dromologia [2] onde a aceleração das nanotecnologias e das nanocronologias (o tempo infinitamente pequeno) é sempre uma corrida contra o tempo. Porém, ninguém parece sair vitorioso desta corrida contra o tempo, sobretudo o tempo cronológico (Chronos) que é um tempo sequencial sem rupturas, que se exerce de forma linear e sucessiva onde tudo é controlado ao segundo e ao minuto, sendo por isso um tempo mensurável implacável que exerce pressão, neste caso, sobre as pernas do atleta levando-o a percorrer uma distância de um ponto a outro da corrida e cujo fim é cortar a meta.
Vista da exposição Julian Opie, 2025, Galeria Duarte Sequeira. © Galeria Duarte Sequeira
Vídeo: Carlos França
Nesta corrida contra o tempo, as instalações em LED de Opie sugerem uma temporalidade suspensa revelada através da imagem em movimento de figuras digitalizadas que surgem a correr no ecrã. Por outro lado, parece haver uma certa ambiguidade na linha aparentemente cronológica do movimento das figuras o que pode ser interpretado como uma tensão entre dois tempos, ou, para ser mais preciso, o tempo externo cronometrado (Chronos) e o tempo interior qualitativo (Kairós) criando assim uma espécie de exaltação automatizada em que o movimento temporal da imagem significa não só um registo de medida, mas também de vivência sensorial. O corredor de Opie oscila assim entre o tempo cronometrado e o tempo vivido da percepção, embora ambos constituam uma unidade invisível que apenas o nosso espírito consegue apreender. Estamos perante uma coreografia de movimentos opostos em que o instante vibratório da linha e o momento de contemplação da imagem se transformam numa experiência estética intensa através de uma temporalidade bifurcada entre algo que é efémero e algo que tende a eternizar-se. As figuras ou silhuetas sem contornos das obras de Opie percorrem caminhos sem destino no fluxo das grandes cidades, como se estivéssemos em presença de loops regulados por forças arquetípicas intemporais que carregam consigo a marca da percepção, da velocidade, da luz e da acção repetida.
Notas [1] Obras em LED (Díodo Emissor de Luz) é um componente electrónico usado para transformar energia eléctrica em energia luminosa. O LED desempena por isso um papel importante na arte contemporânea, enquanto ferramenta de expressão artística e como elemento funcional na iluminação de estruturas com fins artísticos.
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