VASCO ARAúJORITORNAREGALERIA FRANCISCO FINO Rua Capitão Leitão, 76 Marvila, Lisboa 01 OUT - 16 NOV 2024 INAUGURAÇÃO: 1 de outubro, a partir das 22:00, na Galeria Francisco Fino, em Lisboa RITORNARE de Vasco Araújo 1 de outubro a 16 de novembro Conforme sugerido pelo título, RITORNARE, a exposição reflete sobre questões de revisitação e reinvenção identitária, convocando para esse exercício o imaginário visual e conceptual da ideia de diva e da própria obra do artista. Numa exposição composta por escultura, vídeo, instalação e fotografia, Vasco Araújo remete para o passado como esteira para pensar o presente, aliado à transformação e liberdade. Em baixo, um texto de Vasco Araújo, em modo carta aberta dirigida ao público. Cares Todes, Como é que se começa uma carta sobre o tema Ritornare, ou melhor, voltar atrás, talvez pelo princípio, que não será o verbo neste caso, mas sim a razão que me levou a voltar atrás, a Ritornare. Penso que quando se regressa a algo que já se fez, é sempre uma revisitação do passado, que contribui para uma tomada de consciência, ou mesmo, para uma clarificação do que fizemos, do que fomos ou do que somos. Neste sentido, Ritornare é o regresso ao que realmente fui e ainda sou, é o regresso à minha identidade e à construção da mesma através da voz, é o regresso ao corpo, ao corpo do passado, do presente e do futuro. É também fingir, o que ajuda a imitar figuras do passado que podem permitir uma maior consciência da nossa existência. A imitação é também uma forma de luto pela identificação: imitamos sempre aquilo que gostaríamos de poder explicar, ou aquilo que nos serve para desejar e expandir a compreensão do ser humano e as suas dobras. Ritornare é revelar o forro das coisas, é um trabalho sobre a revisitação motivada pela necessidade de investigação sobre o próprio Self, no sentido da exploração das raízes não conscientes, não individuais, mas cuja existência se molda na pós-memória. Estes trabalhos, focados no mundo das cantoras de ópera, nos mitos do Star System, na vida íntima, nas carreiras artísticas, nas identidades não-binárias, naquilo que sou, que somos, que fomos, o que gostaríamos de ter sido, e que talvez já sejamos, questionam a possibilidade de nos reinventarmos a partir daquilo que já tínhamos construído ou apontado. Questionam também a possibilidade de reconstruir a nossa identidade sem restrições, levando-nos a um local de maior liberdade e aprendizagem. E no fim surge sempre a questão: Quem sou eu? Podia contar muitas coisas, narrar diversas histórias sobre a minha carreira e percurso, mas isso seria, talvez, muito aborrecido. O que posso dizer é que, no final de todo este percurso, houve momentos em que me olhei ao espelho e senti que estava a olhar para outra pessoa, alguém que, de maneira espontânea, representava ou representei nos teatros... agora, por vezes, ainda não sou capaz de me reconhecer. Quem sou eu? Quem? Parece-me talvez que o artifício, as encenações, tomaram conta do meu, do nosso mundo, e já não vivemos em outra realidade, ou que essa passou a ser a realidade, ou ainda que a realidade é uma grande encenação onde actuamos, é como cantar. Veja, escute. Olhe, esta sou eu a cantar, a interpretar e a viver em artifício dentro da realidade que passa a ser a minha vida, e todos somos assim, não há mais nada... e, no final, fica a pergunta: quem somos? Como voltar atrás não é em vão, muito menos inocente, espero que este novo/velho caminho seja revelador daquilo que gostaria de continuar a fazer e a praticar. E que este seja um contributo para um processo de transformação, de mudança, para uma nova saída cada vez mais livre. Ritornare para voar mais longe. Lisboa, 8 de Junho, 2024 |