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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista de exposição My Pleasure, Joana Villaverde. Pavilhão Branco, 2024. © Bruno Lopes


Joana Villaverde; Verde alto; 2024; 338 x 200 cm; Óleo sobre tela; Cortesia da artista. © Bruno Lopes


Joana Villaverde; Verde com pingos; 2024; 127 x 304 cm; Óleo sobre tela; Cortesia da artista. © Bruno Lopes


Joana Villaverde; Uma espécie de Fragonard V; 2024; 198 x 339 cm; Óleo sobre tela; Cortesia da artista. © Bruno Lopes


Joana Villaverde; A cena dos violinos; 2024; 198 x 339 cm; Óleo sobre tela; Cortesia da artista. © Bruno Lopes


Joana Villaverde; A cena dos violinos; 2024; 198 x 339 cm; Óleo sobre tela; Cortesia da artista. © Bruno Lopes


Joana Villaverde; Azul; 2024; 339 x 198 cm; Óleo sobre tela; Cortesia da artista. © Bruno Lopes


Joana Villaverde; Verde; 2024; 198 x 338 cm; Óleo sobre tela; Cortesia da artista. © Bruno Lopes


Vista de exposição; My Pleasure; Joana Villaverde; Pavilhão Branco; 2024. © Bruno Lopes.


Joana Villaverde; Vermelho; 2024; 339 x 197 cm; Óleo sobre tela; Cortesia da artista. © Bruno Lopes


Joana Villaverde; Vigia; 2024; 203 x 122 cm; Óleo sobre tela; Cortesia da artista. © Bruno Lopes

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ARQUIVO:


JOANA VILLAVERDE

MY PLEASURE




GALERIAS MUNICIPAIS - PAVILHÃO BRANCO
Campo Grande, 245
1700-091 Lisboa

30 OUT - 09 FEV 2025


 

 

PLEASURE, hail, thou welcome theme,
Chief pursuit of mortal race,
Pleasing phantom, fairy dream,
Lead me to thy dwelling place.

 

On Pleasure de Mary Alcock (1742–1798)

 

 

 

Contemplamos My Pleasure de Joana Villaverde. Da sensação da cor, que emerge da fluidez da pincelada em telas de enormes dimensões, apresenta-se a imensidão da paisagem, quase como uma pintura abstrata se tratasse. Partindo do mote teatral inspirado em “Les hasards heureux de l’escarpolette”, conhecido por “O Baloiço”, pintura de Jean Honoré Fragonard, a artista modela a paisagem com “puro prazer”, captando-a de certo modo em pinceladas dinâmicas e soltas, com a fluidez do movimento, entre volúpias de dobras das cores, expressa, assim, o informe, através do qual se liberta da ideia original que Fragonard explorou na sua pintura.

Joana Villaverde acentua esta conceção estética contemporânea, em que o olhar contemplativo da paisagem se manifesta através da perceção dada pelo fragmento: “o resultado do que eu vejo da minha janela do Alentejo”.

O fragmento visto pela janela transcreve essa possibilidade de fazer surgir no pensamento uma reflexão sobre o campo visual da perceção, em certa medida num discurso disruptivo da beleza contemporânea. Nisto, através da imensidão da cor, a artista convoca ao observador o ato contemplativo, no informe e na vastidão. A paisagem deixa de o ser e o observador mergulha no êxtase interior entre as pinceladas e o dinâmico gesto, um deleite da sensação cromática.

A fronteira do olhar que se desvanece na cor de quem contempla é estabelecida pela noção de “entre” o ser e a paisagem, derivando no movimento criado pela ação do gesto. O espectador visualiza o informe no fragmento, onde a paisagem se transmuta em abstracto e o observador apreende o “movimento das coisas e de si próprio” (Maillard, 2018, p. 67). O corpo é a própria paisagem, e descentraliza o “eu” na obra de arte.

 

Joana Villaverde; Céu e terra 3; 2024; 305 x 138 cm; Óleo sobre tela; Cortesia da artista. © Bruno Lopes

 

A fluidez da cor encontra-se na transitoriedade desse diálogo contemplativo entre a obra e o ambiente, o Alentejo. Assim, observamos o que a artista descreve “[c]ontinuando com a mesma paleta, as pinturas vão-se transformando. Começam como imagino que começam as pinturas abstractas por uma ponta. Vou desenrolando a tinta como se fosse um rolo de alcatifa, o corpo vai andando desenrolando. Depois, descubro as coisas que reconheço, umas vezes vou lá e dou a ver.”

Neste gesto da cor, onde “desenrola” as “coisas”, a artista esboça o fluxo da natureza e compreende o caráter orgânico dela mesma. Ela abandona gradualmente a perceção do campo visual, para expressar uma compreensão estética do “organismo vivo da paisagem” (Bockemuhl, 1993, p. 85). A cor e a luminosidade determinam a composição pictórica, expressando, assim, uma interconexão de todas as coisas através da fluidez do movimento e do gesto no campo de ação.

Em My Pleasure, a artista combina as cores através da experiência estética com a sensação, cria a “paisagem”, que deixa de o ser, e o ser transmuta-se pela sensação. A cor revela-se de certo modo fenomenológica, por expandir o movimento do corpo no espaço, quase como uma passagem etérea que se solta e se desenrola do ínfimo ao infinito. Neste movimento, Joana Villaverde descentraliza o ser da imensidade espácio-temporal, evocando, desta forma, nas pinturas de enormes dimensões, uma sensação multidimensional, onde o ser humano se dissolve na vastidão da cor.

Movimentamos pelo espaço, o observador afasta-se e aproxima-se das telas de enormes dimensões. Villaverde desencadeia o infinito, a magnitude, a solitude e o êxtase, mas também a luz, a alegria, a leveza e a aspiração de querer alcançar algo indefinido, o “puro prazer”, a liberdade. Estabelece um constante ritmo que é intensificado com a deslocação do olhar no campo de visão. Percecionamos várias vistas da sensação contemplativa, de modo a podermos sentir o que a artista intenta expressar - my pleasure.

 

Joana Villaverde; Amarelo e vermelho; 2024; 198 x 339 cm; Óleo sobre tela; Cortesia da artista. © Bruno Lopes

 

Ao contemplar, o observador necessita de estar atento aos pequenos detalhes que normalmente nos escapa, mas também à expansão tonal que nos provoca o “puro prazer”, dado pelo deleite, a alegria e o êxtase que se estendem em tonalidades suaves e frias, assim também por cores fortes e quentes, por vezes arrebatadoras, em grandes vermelhos ou laranjas, sentimos o belo.

Dos vários modos de ver, o corpo projeta-se em diferentes possibilidades da sensação. Da verticalidade, sentimos o desvanecer da janela, nas obras Céu e terra, 1, 2, 3 e 4, 2023/2024, o ínfimo pormenor da terra entre tons brancos e azuis, ou delicados pingos soltos na vastidão, Verde com pingos, 2024. Também, projeta-nos para o alto onde ilumina entre brancos, cinzas, azuis e verdes claros, mas também transmuta as cores em fortes contrastes tonais de pura sensação de Vermelho, 2024. Da horizontalidade, nasce dos verdes, brancos e azulados grande pinceladas esbatidas, dos laranjas a vermelhos a cor redopia como vórtices de sensação. Do infinito, sentimos o movimento, o fluxo, do pormenor, apontamentos das coisas-em-si da paisagem. Observamos um detalhe numa escultura de tons castanhos, a Cabeça do cão, 2023, dando-nos a sensação “árida” que o animal emergisse da própria terra. Por vezes, o espectador perceciona um ambiente de intimidade, pela captação do ínfimo, no qual nos faz sentir uma espécie de “voyeur” da natureza.

 

Joana Villaverde; Cabeça de cão; 2023; 21 x 18 x 8 cm; Barro de Avis; Cortesia da artista. © Bruno Lopes

 

Nesta oscilação e dinamismo estético que nos é convocado pela fruição do belo, numa beleza contemporânea, apreciamos o prazer contemplativo da sensação da pura cor. Lembra-nos o que diria Umberto Eco (2004) sobre a complexa dialética do gosto, o belo ser um modo de “libertação da mente das névoas do obscurantismo.” (p. 239).

Através do “puro prazer”, contemplamos o deleite que expressa bem o que Joana Villaverde nos leva a sentir, como um sentimento estético de beleza, diríamos melhor o que Edmund Burke (2008, p. 36) afirmou: “As I make use of the word Delight to express the sensation which accompanies the removal of pain or danger; so what I speak of positive pleasure, I shall for the most part call it simply Pleasure.”

 

 

 

Joana Consiglieri
Vive e trabalha em Lisboa. Artista plástica, teórica de arte, investigadora, professora do ensino superior e Design (Cocriadora de AMAZ’D art studio). Doutoramento em Ciências da Arte. Mestrado em Teorias da Arte e licenciada em Artes Plásticas – Escultura.



JOANA CONSIGLIERI