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CHRISTIAN ROSATO PAINT IS TO LOVE AGAINKUBIKGALLERY Rua da Restauração, 2 4050-499 Porto 05 JUL - 31 AGO 2024
Christian Rosa nasceu no Rio de Janeiro, mas cresceu em Viena de Áustria, onde atualmente reside. Conta com várias exposições, das quais algumas individuais que foram concretizadas em galerias conceituadas tais como a White Cube de Londres, em 2015. No contexto de mostras coletivas, integrou importantes ocasiões, como é o caso da Bienal de Veneza de 2013. Paralelamente, teve uma forte presença em grandes feiras de arte, incluindo a Art Basel, de Miami e de Los Angeles, e a Frieze de Londres, sendo a sua obra particularmente apreciada por inúmeros colecionadores. Sobre a sua formação, na Academia de Belas Artes de Viena, embora inicialmente inscrito em fotografia, Rosa completou o curso de pintura, tendo tido a oportunidade de estudar com o aclamado pintor alemão Daniel Richter. A mudança de rumo foi-lhe sugerida por professores, o que poderá imaginar-se ter advindo do perfil autónomo, expansivo e até mesmo indomável do artista, que eventualmente se veria limitado pelas especificidades técnicas, pelo rigor e pela precisão que a prática fotográfica exige. Ora, como se veio a constatar, o artista detém uma aptidão nata para o jogo da tinta na tela. Na pintura de Rosa ergue-se um universo biomórfico, ainda que sob a forma de um campo pictórico abstrato, no qual as cores e as formas existem em potência e interagem, com ritmo, umas com as outras, com a tela e com o que as rodeia, desde o espaço no qual se situam àquele que as observa. Num domínio estritamente formal, o trabalho de Rosa tende a remeter para um dos mais reconhecidos nomes da arte moderna, Joan Miró, a recordar, um artista que embora não integrasse uma vanguarda específica, foi sucessivamente enquadrado no surrealismo, nomeadamente porque recorria a técnicas do automatismo. próprio Christian Rosa considera que a sua obra se “encontra em harmonia” com a desse incontornável artista espanhol. Com efeito, os dois artistas partilham uma linguagem visual definida por figuras simples, traços largos e confiantes, e cores primárias fortes. No entanto, esta comparação é apenas útil e justa, mediante um quadro de análise formal. Não somente as motivações e os ímpetos divergem, como há algo de notoriamente original nos seus trabalhos, apesar da originalidade ser, cada vez mais, um valor escasso, face à excessiva infinitude de expressões, práticas, temas e imagens na qual nos encontramos imersos. Em Rosa, embora uma sólida coerência atravesse toda a sua obra, os elementos não se repetem e há sempre algo de novo que surpreende o olhar. Sobre o seu processo prático e plástico, não se cinge e demarca por pincéis e técnicas da pintura. Pelo contrário, a obra de Rosa emerge, como que livremente, instintivamente, até mesmo de improviso, através quer do pincel, quer do tubo de tinta, ou de outros materiais aos quais o artista recorre para introduzir e trabalhar a tinta sobre a tela. Nas obras expostas pela Kubikgallery, é da pigmentação de óleo e carvão que resultam planos e linhas subtis, em cores primárias contrastantes com fundos brancos. Sugerem-se formas orgânicas, curvas, espirais e linhas sinuosas que, embora inesperadas e independentes umas das outras, se reúnem e conjugam no espaço com uma particular naturalidade. Como tal, a obra de Rosa instiga uma percepção desafiante, mas, simultaneamente, inteligível e captada com uma subjacente familiaridade. Mais ainda, é cativante. As telas, sobretudo as maiores, convocam o espectador e dialogam com ele, reclamando a sua atenção, como que se tratando de entidades vivas. Enquanto um todo, a exposição de Rosa desenrola-se como uma despretensiosa e dinâmica narrativa pictórica. Mais especificamente, como enuncia o próprio artista, criam-se “narrativas líricas semi-abstratas”. Na atual exposição é-lhe dado um adequado palco, com uma sobriedade e uma luminosidade que jogam em benefício do seu trabalho. E embora os limites do espaço tenham sido anunciados como desafiantes, considerando a larga dimensão de algumas peças, o resultado não o reflete. Pelo contrário, as várias obras respiram e habitam, na plenitude, a galeria. A maioria das peças foram produzidas entre 2020 e 2023, somente uma delas não sendo recente, datada de 2014. Distingue-se, justamente, essa obra, instalada na última sala da exposição, e que se distancia das outras pela sua sobriedade e aparente contenção. Embora de equivalentes dimensões, é composta por tons cinza, preto e azul-escuro, sobre um fundo que não é o habitual branco, mas o bege original, cru, da tela. De estética semelhante, somente um outro trabalho, de pequeno formato, de 2022. Situado algures entre a pintura e o desenho, o trabalho de Christian Rosa expande-se pela desenvoltura com o pincel, a criatividade e a estimulante experiência visual que propicia. Como tal, embora recorrentemente reconhecido pela sua sui generis persona, é a qualidade plástica da obra (e do artista) que impõe esta exposição enquanto relevante de visitar, até 31 de agosto. Porque Pintar, é amar novamente.
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