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EXPOSIÇÕES ATUAIS


MMP | MNSR ©Rui Pinheiro


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ARQUIVO:


COLECTIVA

CENTRO DE ARTE CONTEMPORÂNEA – 50 ANOS: A DEMOCRATIZAÇÃO VIVIDA




MUSEU NACIONAL DE SOARES DOS REIS
Palácio dos Carrancas Rua D. Manuel II
4050-342 Porto

07 JUN - 29 DEZ 2024

50 anos do CAC, “A democratização vivida”

 


Em 1976 inaugurou o Centro de Arte Contemporânea (CAC), no Porto, com o fim de responder à ausência de um museu nacional de arte moderna. Como tal, o projeto veio dar palco à criação artística contemporânea, na qual incluiu conteúdo internacional, considerando fundamental o cruzamento entre o que se desenvolvia dentro e fora do território nacional. Mas, sem dúvida, o CAC foi sobretudo orientado para acolher, representar e apoiar a comunidade artística portuguesa.

Hoje, apresenta-se a exposição “CAC 50 anos – A democratização vivida”, na galeria das esculturas do Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez. Trata-se de uma notável mostra, densa, rica e estimulante, que conta com obras de alguns dos mais relevantes artistas portugueses que consolidaram a instituição do CAC, tais como Alberto Carneiro, Álvaro Lapa, Ângelo de Sousa, Artur Rosa, Augusto Gomes, Helena Almeida, Jorge Pinheiro, Júlio Pomar, Emília Nadal e Eduardo Nery.

Sendo a exposição, por si só, meritória e imprescindível de visitar, com uma exímia curadoria que honra os nomes que a compõem, reconhece-se, igualmente, que o seu valor está intrinsecamente ligado ao seu contexto histórico.

Recorde-se, pois, que o Centro de Arte Contemporânea funcionou até 1980 nas imediações do Museu Nacional Soares dos Reis e que a sua criação, liderada por Fernando Pernes, Etheline Rosas e Mário Teixeira da Silva, constituiu um importante passo no processo de democratização desencadeado pelo 25 de Abril. Aliás, a exposição agora patente integra o programa das Comemorações dos 50 anos da Revolução.

Ocorre que, face ao quadro socio-político da época, marcado pela luta pela democracia e por acontecimentos tais como o Maio de 68, o panorama artístico portuense florescia no sentido de uma arte cada vez mais livre, radical e universal. Porém, apesar das relevantes e fundamentais iniciativas da Escola Superior de Belas-Artes do Porto e do surgimento de plataformas alternativas tais como o Teatro Experimental do Porto, continuava a faltar um espaço dedicado a reunir e a expôr a criação artística contemporânea.

No dia 10 de junho de 1974, o Museu Nacional Soares dos Reis foi lugar de uma manifestação enunciada como o “Enterro do Museu Nacional de Soares dos Reis”, ocasião essa que constituiu um ponto de partida para a atual exposição.

Como assinala Miguel von Hafe Pérez, “não se havia cumprido ainda dois meses da Revolução dos Cravos e já no Porto uma ação de rua inscreve um momento inédito na história da construção de centros culturais e espaços museológicos dedicados à criação contemporânea”.

Cinquenta anos depois, o curador conduz-nos numa exposição que remete para o referido momento, recordado e ilustrado através de arquivos fotográficos, aos quais se juntam documentação e catálogos do CAC, na ala onde se inicia e finaliza a exposição.

Recorrendo às palavras do curador, o CAC é “um museu que nasce de uma ação popular”, “de uma reclamação da cidade”, “para desenvolver e implementar um programa que, olhando retrospetivamente, pareceria impossível de concretizar”. Como também indica, tratou-se de uma “abertura do Porto à internacionalização da arte”.

O Museu Nacional Soares dos Reis foi então palco de novas práticas e expressões artísticas, bem como de inovadoras propostas curatoriais, algumas das quais convocadas pelo curador na atual exposição. Rememoram-se, também, exposições concretizadas pela valiosa parceria entre o CAC, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa, da qual resultaram inúmeros projetos. Aliás, foi justamente a colaboração com outras instituições que possibilitou o sucesso do CAC.

Orientado por esse sistema que cimentou e promoveu a criação artística portuguesa, Miguel von Hafe Pérez concebeu diversas secções expositivas, na sua maioria correspondentes a exposições passadas, das quais recuperou alguns dos respetivos cartazes. Como esclarece, “tentei responder à memória das várias exposições de quando o centro foi criado”.

Comece-se por referir a primeira exposição coletiva do CAC, concretizada, precisamente, no Museu Soares dos Reis e, depois, exibida na Sociedade de Belas-Artes. Intitulada “Levantamento da Arte do Século XX do Porto”, esteve patente de julho a outubro de 1975 e nela participaram mais de 100 artistas nortenhos, com o intuito de retratar as tendências plásticas do norte do país. Um dos nomes em causa foi Nadir Afonso, agora representado através das obras “Jazz Band” (1971) e “Les Ponts de Paris” (n.d.). Também de Nadir Afonso é lembrada a sua mostra individual, na galeria do Jornal de Notícias, em junho de 1979, com obras expressivas, cujas forma e geometria são sempre admiráveis e desafiantes.

Uma outra mostra recordada, “O Erotismo na arte moderna portuguesa”, de 1977, que também decorreu no Soares dos Reis, foi expressão manifesta de uma ousadia revolucionária e do desígnio de rutura com o conservadorismo prevalecente na esfera artística da época. Dessa exposição, Miguel von Hafe Pérez recupera uma obra de Paula Rego, “O príncipe azul” da série “A Bela Adormecida” (1974), e um singular trabalho de Álvaro Lapa, “Os treze cartões de arte moderna” (1973).

Constata-se, assim, na atual exposição, serem várias as obras representativas do espólio de arte contemporânea portuguesa. Assinalem-se ainda “Curvatura/Variação 5D” (1971), de Zulmiro de Carvalho, cuja dimensão e cor vermelha sobressaem no espaço, ou, mais discreto mas igualmente cativante, o trabalho fotográfico “The Waves” (1978), de Julião Sarmento, que remete para a reconhecida obra literária de Virgínia Wolf. Também imprescindível de referir, a “Mensagem inequívoca VI” (1977), de Jorge Pinheiro.

Indique-se, ademais, que algumas das peças agora expostas integram o acervo do Museu Soares dos Reis, tal sendo o caso de uma belíssima tela de Ângelo de Sousa, de 1972. Porém, e tome-se precisamente esta obra como exemplo, o curador colocou-a em diálogo com diferentes autores, nomeadamente, Alberto Carneiro e a sua magnífica série “Operação estética em Vilar do Paraíso” (1973), a qual, por sua vez, não pertence à coleção do museu.

Na totalidade, nesta exposição, exibe-se um impressionante e rico conjunto de obras que atravessam as décadas de 70 e 80. Simultaneamente, a mostra reforça o lugar do Museu Soares dos Reis no atual contexto artístico contemporâneo.

Enquanto tal, a exposição concebida por Miguel von Hafe Pérez consiste numa rara oportunidade de recordar e celebrar uma das mais importantes épocas de afirmação da criação artística portuguesa, em especial portuense, ao mesmo tempo desdobrando-se e revelando-se sob a forma de uma curadoria inteligente, dinâmica e, efetivamente, contemporânea.

 

 

 

Constança Babo
É doutorada em Arte dos Media e Comunicação pela Universidade Lusófona. Tem como área de investigação as artes dos novos media e a curadoria. É mestre em Estudos Artísticos - Teoria e Crítica de Arte, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e licenciada em Artes Visuais – Fotografia, pela Escola Superior Artística do Porto. Tem publicado artigos científicos e textos críticos. Foi research fellow no projeto internacional Beyond Matter, no Zentrum für Kunst und Medien Karlsruhe, e esteve como investigadora na Tallinn University, no projeto MODINA.

 



CONSTANÇA BABO