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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes


Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes


Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes


Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes


Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes


Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes


Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes


Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes


Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes


Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes


Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes

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ARQUIVO:


PAULO LISBOA

CICLÓPTICO




MAAT
Av. de Brasília, Central Tejo
1300-598 Lisboa

05 OUT - 12 FEV 2024

O movimento da Passagem

 


Acompanhados por uma murmuragem maquínica, entramos em Ciclóptico de Paulo Lisboa como quem entra num planetário. A iluminação pontual intensifica uma experiência em que o teatro da projeção do movimento cósmico serve como alegoria.

Numa primeira sala, como corpos celestes sólidos, três discos orbitam. Dois círculos de alumínio de 140 centímetros de diâmetro estão na parede, e um terceiro em vidro, ligeiramente menor, é apresentado quase rente ao chão. Neles, fluxos de partículas ínfimas de carvão irradiam a luz de holofotes.

Um movimento de rotação assiste o procedimento metodológico de Paulo Lisboa: fazendo girar os discos numa bancada que preparou para esse efeito, sedimentam-se partículas-infra de carvão em estratos horizontais. A alegoria do Planetário joga-se na óptica [1], e nota-se como as engrenagens que conduziram o processo vivem secretamente nestes discos. Um cinetismo perpassa então a rigidez da fixação geológica das partículas. Ocorre pensar em brinquedos ópticos na base da constituição do cinema, como o zootrópio ou o taumatrópio, também conhecidos como brinquedos filosóficos, ou em modelos científicos como as Orrery ou planetárias, os dispositivos mecânicos que George Graham inventou em 1713 para reproduzir a órbita dos planetas em torno do Sol. Mas a distância essencial a que se mantêm os 3 discos, a sua condição de Obra, furtam o espectador de lhes tocar – perante a sua geometria impõe-se Arquimedes, que antes de ter sido executado no cerco romano a Siracusa disse protegendo os seus teoremas: Nōlī turbāre circulōs meōs... Não perturbem os meus círculos...

Invertendo o sentido do método, um outro objeto alucina um conjunto que se supunha estável. Passivamente vertical, uma flanela, pendurada por uma mola metálica reversível do lado esquerdo e por um pionés amarelo de cabeça alta do outro, dá a ver o lado casuístico da criação. Trata-se do pano que serviu de cortina no atelier, e que foi sendo tocado pela infra-matéria que aí se depositara em 1096 dias de produção.

 

 

Vista da exposição Ciclóptico de Paulo Lisboa, MAAT, 2023. © Ricardo Geraldes

 

 

Na segunda sala, a luz dos projetores esclarece o propósito da exposição. Assumindo um carácter monumental, que remete para fenómenos originários como a formação dos planetas, a rede constituída por três discos de vidro, os cabos de aço que os suspendem e os projetores que os iluminam, dão a ver como o Universo é um grande oco onde a luz viaja por entre corpos.

O percurso da luz é notável: um feixe luminoso arranca de cada projetor, toca cada um dos discos suspensos, que tanto se projetam para a parede em frente como ressoam na parede oposta. As paredes retêm, num jogo de transformação de geometrias circulares, a forma das sombras dos discos, o desenho da luz que os atravessa, e a re-introdução da sua luz pretérita no conjunto.

Polarizando leituras, apesar da constância da redondeza das formas e do carvão como matéria, uma ruptura precipita-se – já não é a produção que conduz o produzir, é antes o processo que conduz a produção. Vão surgir objetos: os discos, como cortes operados a planetas ou a astros, e também os seus reflexos ou sombras, que são sempre atualizações de circunferências, que se re-formam indefinidamente quando impelidas por micro-movimentos do ar à passagem de um visitante.

O tipo de divisão aqui realizada remete para uma reconstrução em que os grandes vidros, funcionando como lentes gravitacionais, dão a ver uma dobra no espaço-tempo. Dispensam um ponto focal único. Podemos, como satélites em torno de um astro, circular em torno de si, para perceber que a linha de corte aproxima uma história anterior a uma história posterior. Assim suspenso, a face polida do vidro dá a ver a primeira camada de pós assentes, e que estava oculta. Essa anterioridade só pode ser vista porque o vidro, epítome da transparência, se antes fora o suporte agora torna-se no corte que divide o espaço-tempo. Do outro lado, na face iluminada do vidro, uma micro-topografia desenha-se concentricamente com os últimos grãos depositados. E a sua fina camada ulterior permanecerá disponível para a sedimentação do por vir, a sua posterioridade.

Um subtil abismo, cavado entre um lado e o outro, desenha o esquema geral das coisas e das suas imagens. Com Ciclóptico, Paulo Lisboa dá a conhecer uma matéria ativa, com estruturas e tensores que definem direções para a forma, e uma forma que não pode ser absoluta, porque se torna, ela própria, no movimento da passagem.

 

 


Catarina Patrício
Doutorada em Comunicação pela NOVA-FCSH, na especialidade Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias, realizou estudos de Pós-Doutoramento na mesma faculdade. Artista Visual, formada em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e Mestre em Antropologia pela NOVA-FCSH, é Professora no Departamento de Ciências da Comunicação e no Departamento de Cinema e Artes dos Media da ECATI [Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação], Universidade Lusófona, desde 2010. Investigadora integrada no CICANT, publica ensaios e expõe obra artística regularmente.

 

 


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Notas

[1] Vejamos com Benjamin como «O interesse primeiro pela alegoria não é linguístico, mas óptico. “As imagens, a minha grande, a minha primitiva paixão”.» Walter Benjamin, As Passagens de Paris. Edição e tradução de João Barrento (Lisboa, Assírio & Alvim, 2019) [J59, 4].



CATARINA PATRÍCIO