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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição Blue Angel, de Miguel Branco. Galeria Pedro Cera, 2023.
© Bruno Lopes / Cortesia Galeria Pedro Cera.


Vista da exposição Blue Angel, de Miguel Branco. Galeria Pedro Cera, 2023.
© Bruno Lopes / Cortesia Galeria Pedro Cera.


Miguel Branco, S’il est vrai, Chloris, que tu mánimes (très lent), 2023. Óleo sobre madeira, 23 × 20 cm. © Fred NS / Cortesia Galeria Pedro Cera.


Vista da exposição Blue Angel, de Miguel Branco. Galeria Pedro Cera, 2023.
© Bruno Lopes / Cortesia Galeria Pedro Cera.


8Vista da exposição Blue Angel, de Miguel Branco. Galeria Pedro Cera, 2023.
© Bruno Lopes / Cortesia Galeria Pedro Cera.


Vista da exposição Blue Angel, Miguel Branco. Cortesia do artista e Galeria Pedro Cera.


Vista da exposição Blue Angel, Miguel Branco. Cortesia do artista e Galeria Pedro Cera.


Miguel Branco, Io sono l’amore, 2023. Óleo sobre madeira, 20 cm (ø). © Fred NS / Cortesia Galeria Pedro Cera.

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ARQUIVO:


MIGUEL BRANCO

BLUE ANGEL




GALERIA PEDRO CERA
Rua do Patrocínio, 67 E
1350-229 Lisboa

15 SET - 04 NOV 2023


 


Em Blue Angel, Miguel Branco transporta-nos para uma outra dimensão, a existência humana numa era de incerteza e de destruição. Apresenta-nos uma instalação pictórica cujas pinturas, em suporte de madeira, nos vislumbram pela beleza a ruína do ser.

Através do olhar, o observador contempla o assombro.

 

Astonishment, as I have said, is the effect of the sublime in its highest degree; the inferior effects are admiration, reverence and respect. (Burke, E. [2008]. A Philosophical Enquiry into the Sublime and Beautiful, p. 57).

 

O artista sensibiliza-nos com uma experiência estética da sensação, nos diferentes modos de ver e de contemplar, reinterpreta a História da Arte, mas a desconstrói através de um rizoma alegórico contemporâneo. Nesta exposição, avistamos a ruína e o assombro na obra de arte. Mergulhamos na existência do ser através de pequenas e pequeníssimas imagens, preciosamente detalhadas, ora redondas ora retangulares, em vários tamanhos, numa ténue parede colorida. Alude-nos a um palco estético da sensação, a cor da parede transporta-nos ao “puro sentir”, um direito ao qual qualquer experiência estética tem vindo a reivindicar.

Ao vaguear pelo espaço, o espectador pertence a este palco cenográfico, em que o olhar é despertado por uma oscilação deambulante do corpo. Sentimos a efemeridade perante a perceção alegórica. Captamos o belo pela sensibilidade, por ínfimas formas pictóricas, configuradas em sentidos ocultos do instante.

Na contemplação, sobressaem-nos imagens perdidas de metadiscursos de um mundo alienado, compondo, assim, uma espécie de drama-cenográfico, mas não-narrativo, cujos significados quase que desvanecem em múltiplos intervalos. Entre eles, emergem da incerteza ecos refratados e fragmentos existenciais, que se espalham em vórtices do imaginário do ser. Lembra-nos o que afirma Bernardo Pinto de Almeida (2023, Folha de sala):

 

Miguel Branco remete justamente quer para apresentação de um Atlas, que a meu ver simboliza não apenas o espaço próprio do seu esforço de tornar visível o tempo actual, como, também para a ideia de uma passagem para o mundo imaginário (…) ao mesmo tempo que reintroduz a figura tutelar do anjo, símbolo por excelência desse que transporta a mensagem e a traz até nós.

 

Em Blue Angel, operam-se imagens imaginárias que irradiam o assombro, a escuridão, a solidão e o silêncio. Aponta-se uma era apocalíptica pela vivência existencial do horror, numa reflexão obscura do pensamento contemporâneo. Todavia, as pinturas expressam um modo de revelação, um olhar eterno sobre o abismo do ser, suspende no espaço o drama trágico, na ruína dos significados, um expectante encontro com a transcendência - a catarse regeneradora. Em delicadas pinceladas e a subtileza de tonalidades de cor e de luz, nascem formas voláteis de anjos e flores.

Nas obras de Miguel Branco, aspira-se o desconhecido. Através do estado da vigília, rompe-se no instante o invisível que se trespassa pela ruína do ser. Uma distorção da tradição da pintura dada pelo assombro da contemporaneidade.

O espectador, em Blue Angel, reencontra anjos e demónios, flores e esqueletos, caracóis e caveiras, fragmentos enigmáticos como imagens alegóricas de transitoriedade entre logos e mythos, a razão e o imaginário, a consciência e a alienação. Evoca-nos a divine madness, uma espécie de visões arrebatadoras que se se apresentam mais como um espírito demoníaco da obscuridade ou um estado transcendente da consciência, à semelhança da poesia de William Blake, poeta e pintor pré-romântico inglês. Apreciamos um dos seus trechos em I Heard an Angel:

 

I heard an Angel singing
When the day was springing
Mercy Pity Peace
Is the worlds release.

 

Thus he sung all day
Over the new mown hay
Till the sun went down
And haycocks looked brown

 

Ao voltar à tradição, Miguel Branco anuncia um estado de consciência, mas também uma necessidade do devir, que se destrói e se recria, uma evidência conceptual ao espírito dionisíaco nietzschiano. Nesta exposição, o artista resgata o não-ser antes do ser, eleva-o à sua superação, ao devir cósmico como uma vontade de reafirmação da profundeza do ser através da alegoria contemporânea.

Recorda-nos Benjamin, na obra Origem do drama trágico alemão (2004), quando argumenta que a alegoria exprime a transitoriedade, o sofrimento e a ruína. Com ela o ser revela-se dilacerado pela sua finitude. “Para resistir à queda na contemplação absorta, o alegórico tem de encontrar formas sempre novas e surpreendentes” (Benjamin, 2004, p. 199).

Contemplemos, então, Blue Angel. O anjo que transcende as sombras, renasce da criação.

Alegorias, sombras e aparições cujo reflexo culmina em tempos conturbados, de guerra e de sofrimento, abrem-se, assim, brechas de múltiplos significados, um modo de sentir em tornar visível a essência, desmistificar falsos castelos de pensamentos, desconstruir o conhecimento e as mitologias contemporâneas, para dar lugar a metáforas sombrias de um lugar ontológico do ser.

Diante delas, o espectador devaneia numa anuência entre a esperança e o sofrimento, a vida e a morte, os anjos e os demónios, o belo e a tragédia, a alegoria e a ironia, quase num indistinguível imperativo ético que ascende para além da consciência e da ignorância do ser.

Um olhar sobre a humanidade.

 

 

Joana Consiglieri
Vive e trabalha em Lisboa. Artista plástica, teórica de arte, investigadora, professora do ensino superior e Design (Cocriadora de AMAZ’D art studio). Doutoramento em Ciências da Arte. Mestrado em Teorias da Arte e licenciada em Artes Plásticas – Escultura.

 



JOANA CONSIGLIERI