Links

O ESTADO DA ARTE


Emblema de Estado do Império Russo, século XVIII.

Outros artigos:

2024-12-01


O CALÍGRAFO OCIDENTAL. FERNANDO LEMOS E O JAPÃO
 

2024-10-30


CAM E CONTRA-CAM. REABERTURA DO CENTRO DE ARTE MODERNA
 

2024-09-20


O MITO DA CRIAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE A OBRA DE JUDY CHICAGO
 

2024-08-20


REVOLUÇÕES COM MOTIVO
 

2024-07-13


JÚLIA VENTURA, ROSTO E MÃOS
 

2024-05-25


NAEL D’ALMEIDA: “UMA COISA SÓ É GRANDE SE FOR MAIOR DO QUE NÓS”
 

2024-04-23


ÁLBUM DE FAMÍLIA – UMA RECORDAÇÃO DE MARIA DA GRAÇA CARMONA E COSTA
 

2024-03-09


CAMINHOS NATURAIS DA ARTIFICIALIZAÇÃO: CUIDAR A MANIPULAÇÃO E ESMIUÇAR HÍPER OBJETOS DA BIO ARTE
 

2024-01-31


CRAGG ERECTUS
 

2023-12-27


MAC/CCB: O MUSEU DAS NOSSAS VIDAS
 

2023-11-25


'PRATICAR AS MÃOS É PRATICAR AS IDEIAS', OU O QUE É ISTO DO DESENHO? (AINDA)
 

2023-10-13


FOMOS AO MUSEU REAL DE BELAS ARTES DE ANTUÉRPIA
 

2023-09-12


VOYEURISMO MUSEOLÓGICO: UMA VISITA AO DEPOT NO MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, EM ROTERDÃO
 

2023-08-10


TEHCHING HSIEH: HOW DO I EXPLAIN LIFE AND CHANGE IT INTO ART?
 

2023-07-10


BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO: REABILITAR A EMPATIA COMO UMA TECNOLOGIA DO OUTRO
 

2023-06-03


ARCOLISBOA, UMA FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM PERSPETIVA
 

2023-05-02


SOBRE A FOTOGRAFIA: POIVERT E SMITH
 

2023-03-24


ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA
 

2023-02-16


QUAL É O CINEMA QUE MORRE COM GODARD?
 

2023-01-20


TECNOLOGIAS MILLENIALS E PÚBLICO CONTEMPORÂNEO. REFLEXÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO 'OCUPAÇÃO XILOGRÁFICA' NO SESC BIRIGUI EM SÃO PAULO
 

2022-12-20


VENEZA E A CELEBRAÇÃO DO AMOR
 

2022-11-17


FALAR DE DESENHO: TÃO DEPRESSA SE COMEÇA, COMO ACABA, COMO VOLTA A COMEÇAR
 

2022-10-07


ARTISTA COMO MEDIADOR. PRÁTICAS HORIZONTAIS NA ARTE E EDUCAÇÃO NO BRASIL
 

2022-08-29


19 DE AGOSTO, DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
 

2022-07-31


A CULTURA NÃO ESTÁ FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA
 

2022-06-30


ARTE DIGITAL E CIRCUITOS ONLINE
 

2022-05-29


MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM
 

2022-04-29


EGÍDIO ÁLVARO (1937-2020). ‘LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES’
 

2022-03-27


PRATICA ARTÍSTICA TRANSDISCIPLINAR: A INVESTIGAÇÃO NAS ARTES
 

2022-02-26


OS HÁBITOS CULTURAIS… DAS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS PORTUGUESAS
 

2022-01-27


ESPERANÇA SIGNIFICA MAIS DO QUE OPTIMISMO
 

2021-12-26


ESCOLA DE PROCRASTINAÇÃO, UM ESTUDO
 

2021-11-26


ARTE = CAPITAL
 

2021-10-30


MARLENE DUMAS ENTRE IMPRESSIONISTAS, ROMÂNTICOS E SUMÉRIOS
 

2021-09-25


'A QUE SOA O SISTEMA QUANDO LHE DAMOS OUVIDOS'
 

2021-08-16


MULHERES ARTISTAS: O PARADOXO PORTUGUÊS
 

2021-06-29


VIVER NUMA REALIDADE PÓS-HUMANA: CIÊNCIA, ARTE E ‘OUTRAMENTOS’
 

2021-05-24


FRESTAS, UMA TRIENAL PROJETADA EM COLETIVIDADE. ENTREVISTA COM DIANE LINA E BEATRIZ LEMOS
 

2021-04-23


30 ANOS DO KW
 

2021-03-06


A QUESTÃO INDÍGENA NA ARTE. UM CAMINHO A PERCORRER
 

2021-01-30


DUAS EXPOSIÇÕES NO PORTO E MUITOS ARQUIVOS SOBRE A CIDADE
 

2020-12-29


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO - PARTE II
 

2020-11-29


11ª BIENAL DE BERLIM
 

2020-10-27


CRITICAL ZONES - OBSERVATORIES FOR EARTHLY POLITICS
 

2020-09-29


NICOLE BRENEZ - CINEMA REVISITED
 

2020-08-26


MENSAGENS REVOLUCIONÁRIAS DE UM TEMPO PERDIDO
 

2020-07-16


LIÇÕES DE MARINA ABRAMOVIC
 

2020-06-10


FRAGMENTOS DO PARAÍSO
 

2020-05-11


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO
 

2020-04-24


QUE MUSEUS DEPOIS DA PANDEMIA?
 

2020-03-24


FUCKIN’ GLOBO 2020 NAS ZONAS DE DESCONFORTO
 

2020-02-21


ELECTRIC: UMA EXPOSIÇÃO DE REALIDADE VIRTUAL NO MUSEU DE SERRALVES
 

2020-01-07


SEMANA DE ARTE DE MIAMI VIA ART BASEL MIAMI BEACH: UMA EXPERIÊNCIA MAIS OU MENOS ESTÉTICA
 

2019-11-12


36º PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
 

2019-10-06


PARAÍSO PERDIDO
 

2019-08-22


VIVER E MORRER À LUZ DAS VELAS
 

2019-07-15


NO MODELO NEGRO, O OLHAR DO ARTISTA BRANCO
 

2019-04-16


MICHAEL BIBERSTEIN: A ARTE E A ETERNIDADE!
 

2019-03-14


JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO – O JOGO DO INDIZÍVEL
 

2019-02-08


A IDENTIDADE ENTRE SEXO E PODER
 

2018-12-20


@MIAMIARTWEEK - O FUTURO AGENDADO NO ÉDEN DA ARTE CONTEMPORÂNEA
 

2018-11-17


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL. A COLEÇÃO PINTO DA FONSECA
 

2018-10-09


PARTILHAMOS DA CRÍTICA À CENSURA, MAS PARTILHAMOS DA FALTA DE APOIO ÀS ARTES?
 

2018-09-06


O VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA BIENAL DE BERLIM
 

2018-07-29


VISÕES DE UMA ESPANHA EXPANDIDA
 

2018-06-24


O OLHO DO FOTÓGRAFO TAMBÉM SOFRE DE CONJUNTIVITE, (UMA CONVERSA EM TORNO DO PROJECTO SPECTRUM)
 

2018-05-22


SP-ARTE/2018 E A DIFÍCIL TAREFA DE ESCOLHER O QUE VER
 

2018-04-12


NO CORAÇÂO DESTA TERRA
 

2018-03-09


ÁLVARO LAPA: NO TEMPO TODO
 

2018-02-08


SFMOMA SAN FRANCISCO MUSEUM OF MODERN ART: NARRATIVA DA CONTEMPORANEIDADE
 

2017-12-20


OS ARQUIVOS DA CARNE: TINO SEHGAL CONSTRUCTED SITUATIONS
 

2017-11-14


DA NATUREZA COLABORATIVA DA DANÇA E DO SEU ENSINO
 

2017-10-14


ARTE PARA TEMPOS INSTÁVEIS
 

2017-09-03


INSTAGRAM: CRIAÇÃO E O DISCURSO VIRTUAL – “TO BE, OR NOT TO BE” – O CASO DE CINDY SHERMAN
 

2017-07-26


CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?
 

2017-06-30


"LEARNING FROM CAPITALISM"
 

2017-06-06


110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,… VENDIDO!
 

2017-05-18


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 2: "UMA HISTÓRIA DA VISÃO E DA CEGUEIRA"
 

2017-04-26


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 1: «O REAL É SEMPRE AQUILO QUE NÃO ESPERÁVAMOS»
 

2017-03-29


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO CONTEMPORÂNEO DE FEIRA DE ARTE
 

2017-02-20


SOBRE AS TENDÊNCIAS DA ARTE ACTUAL EM ANGOLA: DA CRIAÇÃO AOS NOVOS CANAIS DE LEGITIMAÇÃO
 

2017-01-07


ARTLAND VERSUS DISNEYLAND
 

2016-12-15


VALORES DA ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA CONVERSA COM JOSÉ CARLOS PEREIRA SOBRE A PUBLICAÇÃO DE O VALOR DA ARTE
 

2016-11-05


O VAZIO APOCALÍPTICO
 

2016-09-30


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 2
 

2016-08-25


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 1
 

2016-06-24


COLECCIONADORES NA ARCO LISBOA
 

2016-05-17


SONNABEND EM PORTUGAL
 

2016-04-18


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (II)
 

2016-03-15


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (I)
 

2016-02-11


FERNANDO AGUIAR: UM ARQUIVO POÉTICO
 

2016-01-06


JANEIRO 2016: SER COLECCIONADOR É…
 

2015-11-28


O FUTURO DOS MUSEUS VISTO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
 

2015-10-28


O FUTURO SEGUNDO CANDJA CANDJA
 

2015-09-17


PORQUE É QUE OS BLOCKBUSTERS DE MODA SÃO MAIS POPULARES QUE AS EXPOSIÇÕES DE ARTE, E O QUE É QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO?
 

2015-08-18


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 2
 

2015-07-29


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 1
 

2015-06-06


O DESAFINADO RONDÒ ENWEZORIANO. “ALL THE WORLD´S FUTURES” - 56ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DE VENEZA
 

2015-05-13


A 56ª BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA
 

2015-04-08


A TUMULTUOSA FERTILIDADE DO HORIZONTE
 

2015-03-04


OS MUSEUS, A CRISE E COMO SAIR DELA
 

2015-02-09


GUIDO GUIDI: CARLO SCARPA. TÚMULO BRION
 

2015-01-13


IDEIAS CAPITAIS? OLHANDO EM FRENTE PARA A BIENAL DE VENEZA
 

2014-12-02


FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
 

2014-10-21


UM CONTEMPORÂNEO ENTRE-SERRAS
 

2014-09-22


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II
 

2014-09-03


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I
 

2014-07-16


ARTISTS' FILM BIENNIAL
 

2014-06-18


PARA UMA INGENUIDADE VOLUNTÁRIA: ERNESTO DE SOUSA E A ARTE POPULAR
 

2014-05-16


AI WEIWEI E A DESTRUIÇÃO DA ARTE
 

2014-04-17


QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÁTICA SOCIAL
 

2014-03-13


A ECONOMIA DOS MUSEUS E DOS PARQUES TEMÁTICOS, NA AMÉRICA E NA “VELHA EUROPA”
 

2014-02-13


É LEGAL? ARTISTA FINALMENTE BATE FOTÓGRAFO
 

2014-01-06


CHOICES
 

2013-09-24


PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU
 

2013-08-13


VENEZA OU A GEOPOLÍTICA DA ARTE
 

2013-07-10


O BOOM ATUAL DOS NEGÓCIOS DE ARTE NO BRASIL
 

2013-05-06


TRABALHAR EM ARTE
 

2013-03-11


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (III)
 

2013-02-12


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (II)
 

2013-01-07


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (I)
 

2012-11-12


ATENÇÃO: RISCO DE AMNÉSIA
 

2012-10-07


MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS
 

2012-06-12


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (II)


 

2012-05-16


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (I)
 

2012-02-06


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (III - conclusão)
 

2012-01-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (II)
 

2011-12-07


PARAR E PENSAR...NO MUNDO DA ARTE
 

2011-04-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (I)
 

2010-10-29


O BURACO NEGRO
 

2010-04-13


MUSEUS PÚBLICOS, DOMÍNIO PRIVADO?
 

2010-03-11


MUSEUS – UMA ESTRATÉGIA, ENFIM
 

2009-11-11


UMA NOVA MINISTRA
 

2009-04-17


A SÍNDROME DOS COCHES
 

2009-02-17


O FOLHETIM DE VENEZA
 

2008-11-25


VANITAS
 

2008-09-15


GOSTO E OSTENTAÇÃO
 

2008-08-05


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO II – O DISCURSO NO PODER
 

2008-06-30


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO I
 

2008-05-21


ARTE DO ESTADO?
 

2008-04-17


A GULBENKIAN, “EM REMODELAÇÃO”
 

2008-03-24


O QUE FAZ CORRER SERRALVES?
 

2008-02-20


UM MINISTRO, ÓBICES E POSSIBILIDADES
 

2008-01-21


DEZ PONTOS SOBRE O MUSEU BERARDO
 

2007-12-17


O NEGÓCIO DO HERMITAGE
 

2007-11-15


ICONOLOGIA OFICIAL
 

2007-10-15


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
 

A CULTURA NÃO ESTÁ FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA

VICTOR PINTO DA FONSECA

2022-07-31




 

A quem possa interessar:

 

A Cultura serve para fundar a Consciência Ética

Agosto!, chegámos ao sexto mês da invasão russa em grande escala na Ucrânia, o sublimar do armamento, da ameaça nuclear e da destruição do planeta - a verdade é que o século XXI europeu está num extremo momento de fragilidade ao enfrentar a guerra da Ucrânia, marcada pela devastação russa -, e aos recordes de temperatura, e pergunto-me o que pode a cultura fazer contra a expansão militarista russa que está em processo de destruir a Ucrânia? — É contra a invasão russa e o “fervor patriótico” da Rússia que escrevo este texto. (Parece-me sem valor manter-se um tom estritamente neutro, na guerra da Ucrânia*)

 

Uma Guerra que não é apenas sobre Poder e Território, mas também sobre Identidade Cultural

Historicamente as colonizações avulsas que reivindicam obediência e território não são novas evidentemente. A história está plena de colonizações, guerras e invasões, desde o princípio. A novidade nesta guerra é que não é apenas sobre poder e território, mas também sobre o sentimento de cultura. O autossacrifício heróico do povo ucraniano, face à potência da Rússia, significa, primeiro que tudo, não prescindir da sua história e da sua identidade cultural, ou, literalmente, da sua cultura - com a Rússia a tentar activamente apagar a identidade nacional da Ucrânia, a literatura, a música, os filmes, as artes, os museus e os monumentos deste país são campos de batalha - e língua ucranianas. Não existe distinção entre a sobrevivência do povo e do território da Ucrânia e a sobrevivência da sua herança cultural. 

 

Violência, Terror, Vontade

Tal como os nossos antepassados, conseguiremos resolver qualquer problema, e toda a nossa história enquanto país indica isto. Vladimir Putin, no Dia da Rússia, 12/06/2022.

É profundamente significativo que Putin tenha feito esta declaração ao povo russo no Dia da Rússia. Para Putin a força motriz principal da história russa é a vontade e aqueles que têm poder e vontade são capazes de triunfar. Não é de espantar por isso, que o discurso patriótico de celebração da grandeza da Rússia aponte, na prática, para o “Triunfo da Vontade” de Leni Riefenstahl. 

Simplificando, com Putin a invasão da Ucrânia autoriza-se a si mesma. O termo ‘Triunfo da Vontade’ deve ser entendido, aqui, referindo-se a um mundo russo, em que a Rússia eterna só pode ser experienciada e concretizada em todo o seu poder aceitando-se a crença que a cultura russa deve ser expurgada da civilização ocidental para se manifestar em todo o seu poder (o que verdadeiramente poucos entendem). É preciso que todas as pessoas que pertencem ao povo russo, incluindo supostamente os ucranianos, vivam da mesma forma, o “mundo russo”. Ou seja, um claro movimento de volta às origens ao mundo soviético. (E uma vez que não é uma revolução, mas uma restauração, é triste e deprimente em espírito - é uma colonização que tomou um rumo militar violento -, parece necessariamente ‘irracional’ na sua falta de consideração pela independência e liberdade da Ucrânia, na sua finalidade apocalíptica. Esta verdade é agora sabida por todos nós.)

Mas voltemos à nação ucraniana: a nova geração ucraniana de Zelensky está familiarizada com toda a civilização e pensamento europeus: Pedir que a Ucrânia ceda o seu território em troca de paz é uma forma de rendição da consciência, de abrir mão do que há de diferente ou especial em cada um dos ucranianos. Não há ambiguidade no comportamento da Ucrânia em afirmar a sua soberania nacional: não vejo a consciência dividida dos ucranianos no que se refere a não capitularem. O anseio da América capturar esta guerra explica-se depois. A vontade da sociedade ucraniana em libertar-se da estrutura imperial soviética e pertencer ao mundo democrático ocidental vai muito mais fundo. (A Ucrânia precisa do dinheiro americano? — É verdade que precisa para continuar a combater pelo seu território e identidade nacional.)

 

Da Rússia Czarista a Estaline… e Regresso

Em relação a 1917, começaremos por recordar, por lembrar, a verdadeira história da Revolução de outubro e, claro, a sua regressão para o estalinismo. 

Analisemos mais atentamente de um ponto de vista histórico como a colonização russa da Ucrânia emergiu a partir das condições iniciais do czarismo: a primeira coisa a ter em conta aqui é que a época de ouro da identidade nacional ucraniana não foi a da Rússia czarista (durante a qual a autodeterminação da Ucrânia como nação foi derrotada), mas a primeira década da União Soviética, quando foi estabelecida a sua identidade plena. “Até a entrada da Wikipédia acerca da Ucrânia na década de 1920 diz: 

 A guerra civil que acabou por levar o governo soviético ao poder devastou a Ucrânia. Fez mais de um milhão e meio de mortos e centenas de milhares de pessoas desalojadas. Além disso, a Ucrânia soviética teve de enfrentar a fome de 1921. Vendo uma Ucrânia exausta, o governo soviético manteve-se muito flexível durante a década de 1920. Assim, sob a égide da política de ucranização perseguida pela chefia comunista nacional de Mykola Skrypnyk, a direção soviética encorajou o renascimento nacional  na literatura e nas artes. A cultura e a língua ucranianas foram alvo de recuperação, à medida que o processo de construção do país se tornou numa implementação local da abrangente política soviética de Korenização (ou, literalmente, “indigenização”). Os bolcheviques estavam também dedicados à introdução de serviços de saúde universais, educação e benefícios de segurança social, assim como ao direito ao trabalho e à habitação. Os direitos das mulheres também se alargaram exponencialmente, graças a novas leis criadas para criar séculos de desigualdade. A maior parte destas políticas inverteu-se, em grande medida, no início da década de 1930, depois de Estaline ter gradualmente consolidado o seu poder até se tornar de facto no líder do partido comunista.” Slavoj Zizek In LENINE 2017, p.24.

 

Esta “indigenização” seguiu os princípios formulados por Lenine em termos consideravelmente claros:

O proletariado não pode senão lutar contra a retenção forçada das nações oprimidas dentro das fronteiras de um determinado Estado, e é exactamente isto que a luta pelo direito à autodeterminação significa. O proletariado deve exigir o direito de secessão política para as colónias e para as nações que “a sua própria” nação oprime. Caso não o faça, o internacionalismo proletário manter-se-á como uma frase sem significado e a confiança mútua e a solidariedade de classes entre os trabalhadores das nações opressoras e oprimidas será impossível. V.I.Lenine, “The Socialist Revolution and the Right of Nations to Self-Determination” (janeiro/fevereiro de 1916), Collected Works, Vol.22, Moscovo, Progress, 1966, p.147.

Lenine foi fiel a esta posição até ao fim. Na sua última batalha contra o projecto de Estaline para uma União Soviética centralizada, Lenine defendeu, uma vez mais, o direito incondicional de secessão (neste caso, estava em jogo a Geórgia), insistindo na total soberania das entidades nacionais que compunham o Estado soviético.

O que Estaline fez no início da década de 1930 foi, então, um simples regresso à política externa e nacional czarista (como exemplo desta viragem, temos o modo como a colonização russa da Sibéria e da Ásia muçulmana deixou de ser condenada como expansão imperialista e, sim, elogiada como a introdução de uma modernização progressiva que tinha posto em movimento a inércia destas sociedades tradicionais). 

Não é pois surpreendente que, em 18 março de 2014, Vladimir Putin enfatizasse a questão da relação entre a Rússia e a Ucrânia ao caracterizar aquele que considerou ser o maior erro  de  Lenine: Os bolcheviques, por várias razões - e cabe a Deus julgá-los -, acrescentaram partes substanciais daquilo que era, historicamente, o sul da Rússia à República da Ucrânia. Fizeram-no sem qualquer consideração pela composição étnica da população, e essas áreas, hoje em dia, constituem o sudeste da Ucrânia. Discurso do Presidente da Federação Russa de 18 de março 2014, disponível em en.kremelin.ru.

A direcção que Putin já estava a tomar era clara, observando o modo como a ideia de dar autonomia às regiões, no final, levou à ruína da União Sovietica. Segundo ele, a seguir à Revolução socialista de 2014, foram os bolcheviques a causar dano à Rússia: Governar usando as ideias como ponto orientador é correto, mas só quando essas ideias conduzem aos resultados certos, e não como aconteceu com Vladimir Ilyich. No final, essa ideia levou à ruína da União Soviética. E foram muitas as ideias assim: dar autonomia às regiões, por exemplo. Eles puseram uma bomba atómica debaixo do edifício chamado Rússia, e essa bomba viria mais tarde a explodir.
Russia’s Putin Accused Lenin of Ruining the Soviet Union”, In Newsweek, 22 de janeiro 2016, disponível em europe.newsweek.com

Lenine era culpado de levar a sério a autonomia das diferentes nações que compunham o império russo e, dessa forma, de questionar a hegemonia russa: Resumindo, a política externa contemporânea de Putin é uma clara continuação da Rússia czarista e da linha estalinista de sujeitarem nações não-russas ao domínio russo. 

 

A necessidade de uma compreensão binária do mundo numa tentativa de traçar uma História Alternativa

Por trás do imperativo de condenar o envolvimento do Ocidente nesta guerra, reside o fascínio pela tipologia do povo russo de modo a ver o mundo a partir de um ângulo habitual - como uma ficção moral -, que consideram visões corretas, mantendo-se uma particular distância em relação ao assunto, por meio da cobertura retórica que é a neutralidade. Técnicas de retórica política para compartimentar as coisas… o desejo de que um argumento extraído do contexto e arranjado possa sustentar praticamente a expansão militarista russa para afastar a ideia que a Ucrânia é uma nação e um estado separado; uma anestesia de modo a sentirmos cada vez menos a realidade dolorosa e horripilante do povo ucraniano, a ponto que as suas vítimas são invisíveis... E outra coisa na invasão russa: quando as pessoas voltam as suas mentes para a URSS, elas esquecem-se que era um estado socialista. A Rússia contemporânea é um país capitalista, um país movido pelo dinheiro. Ninguém quer voltar ao socialismo, incluindo a atual liderança russa. Aqueles que mantêm o passado czarista-estalinista vivo e activo simbolicamente - se a cultura ocidental for removida, a sabedoria divina do espírito russo brilhará com a sua própria luz - ignoram a constelação presente. A verdade é que Putin traduz uma nova versão das ideias do fascista psicológico que era Hitler. Não devemos temer identificar o autoritário Putin caracterizando os ucranianos como não-pessoas à semelhança do que Hitler fez com o judeus; o que foi o recurso de Hitler ao “terror” radical senão uma espécie de histeria, sinal da sua incapacidade de vencer; e não podemos dizer o mesmo de Putin? Esta é a lição que podemos aprender com Hitler hoje em dia. Moscovo será a capital simbólica do imperialismo, como antes foi Berlim, se preferirmos. (É um facto que agora estamos a lidar com uma explosão de violência irracional descontrolada que veio da Rússia.)

 

Recordar

Em relação à herança imperial soviética, também começaremos por recordar, por lembrar, que na era soviética ninguém pedia às pessoas em Angola ou no Peru que vivessem da “forma russa”. Essa é a diferença entre a Rússia de hoje e a União Soviética, porque naquela época havia organizações e partidos comunistas em todos os países do mundo. A União Soviética queria que todos vivessem sob o socialismo. Era um conceito universal dirigido ao mundo inteiro. Naquela época, havia um impasse ideológico. Mas esse confronto era compreensível. Todos no Ocidente entendiam o que era o socialismo, que tipo de sistema económico era. Todo o mundo sabia sobre Marx, e Lenin e Trotsky também foram lidos. A ideologia comunista era compreensível e bem conhecida. Tudo estava claro. 

Mas o atual “caminho russo” não é universal. Em segundo lugar, não faz sentido para ninguém. É incompreensível até para o povo russo, do ponto de vista cultural, e ainda mais incompreensível fora da Rússia, porque ninguém entende o que é essa concepção da identidade etnocultural russa e do mundo russo. No caso do Islão, podemos apreender essa identidade, mas é simplesmente incompreensível no caso da Rússia.

Que defesa dos valores tradicionais? A sua versão da sociedade - esses mesmos valores tradicionais e conservadores defendidos por Putin - é defendida por qualquer partido popular de direita conservadora no Ocidente que se oponha ao pensamento crítico, à imigração, ao aborto, aos gays, à ecologia e assim por diante. Esta é apenas uma concepção patriotica normal da Europa Ocidental. Não há nada especificamente russo nisso. Não vejo de outra maneira.

 

Ninguém entende o que a Rússia pretende alcançar  

Os russos iniciaram uma guerra com o Ocidente em território ucraniano, mas o objetivo da guerra não está claro. Qual é o objetivo? Por que fizeram eles isso? Qualquer explicação serve para as pessoas, em certo sentido. Mas não há explicação, ninguém pode encontrar uma. É impossível detectar qualquer razão prática em tudo isto. Não está claro como isto pode terminar. Não está claro qual é o objetivo e como ele pode ser alcançado.

Contudo, mesmo que a invasão seja bem-sucedida, e a República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhansk forem ocupadas e anexadas à Rússia, o que isso significaria? — A Rússia ficaria isolada do mundo inteiro. Não sabemos se será capaz de controlar esses territórios mesmo depois de vencer esta guerra. Viveria no meio de uma crescente repressão. E em algum momento, as pessoas cansar-se-ao disso. Aquilo que estou a sugerir é, na prática, a Ucrânia é demasiado grande para a Rússia actual.

A única explicação é que é uma tentativa de traçar uma fronteira entre a Rússia e o Ocidente; além disso, uma fronteira que não será mais possível de atravessar. Não será uma fronteira no sentido militar, mas uma fronteira que tornará impossível para os ocidentais irem à Rússia vender mercadorias que corrompem a população russa, e para os russos virem para o Ocidente e aqui contactarem com ideias nocivas. Será uma fronteira entre o Ocidente e a Rússia ao nível da interação humana que ninguém gostaria de cruzar.

Talvez por isso seja verdade, que esse confronto geopolítico entre a Europa Ocidental e a NATO, e a Rússia, que o regime russo vem tentando construir como base de um conflito real, ao ordenar a campanha militar na Ucrânia - “a desnazificação e a dismilitarizacao da Ucrânia, no sentido de haver ameaças à segurança russa” -, realmente é uma ficção russa, um argumento totalmente escrito por um sistema político de idosos (para além dos recrutas azarados), em que todos têm as mesmas coisas a dizer, todos parecem falar em moldes iguais, o que torna especialmente difícil vermos essas pessoas como indivíduos. É, isso sim, a Rússia a tornar-se vítima da sua própria invasão!

 

Escalar uma Montanha Alta

A Rússia nada tem para oferecer à nova geração: a ausência de liberdade de expressão traduz-se em silêncio. Em público [na Rússia] não aparecem jovens a manifestarem-se pró-Putin e/ou antiguerra. Encontramos um sistema de abrigos seguros, de relações feudais - para resistir, para sobreviver. Eles sustentam-se, directa ou indirectamente. Sem jovens, não há nada de novo na Rússia. 

E, no entanto, lembro que as manifestações antiguerra foram um motor da cultura popular no final dos anos sessenta. A maior parte da cultura popular dos anos 70 – cultura hippie, art rock – baseava-se nesses símbolos de libertação e luta contra o regime norte-americano. Era uma situação revolucionária. Nada disso existe na Rússia. O que precisará de acontecer para que um corpo de arte e cultura cresça na Rússia em torno do que está a passar-se, em circunstâncias nas quais não podemos nem dizer a palavra “guerra” e sair para protestar? Ouvirmos diariamente clichés e ameaças ao melhor estilo da máfia siciliana, que as novas gerações deixaram para trás há muito tempo, pode explicar a razão de não encontrarmos jovens nas estruturas políticas da Rússia?

Os russos sabem que estão contra a parede? Seremos capazes de compreender e avaliar o que os russos tinham em mente quando decretaram guerra à Europa? Viver na Rússia dói muito aos jovens, sem esperança de renovação geracional? É obsoleto lermos a “Ilíada”, “O Príncipe”, e os clássicos russos para conhecermos a natureza da obsessão pessoal de Putin em destruir e russificar a Ucrânia? 

 

As Guerras Iluminam a maneira como o Homem se Vê

Homero: sabemos através da narração da “Iliade” que durante os anos da guerra de Tróia se cometeram raptos, violações, assassinatos, roubos, torturas e todas as espécies de abusos, barbaridades e atrocidades. Não há novidade na guerra da Ucrânia hoje para nenhuma série de abusos que podem equivaler a “crimes de guerra” praticados pelos russos. Não temos hoje uma visão da guerra muito diferente dos gregos antigos: pelo contrário, a nossa visão contemporânea da invasão da Ucrânia é um prolongamento do conflito empreendido para a conquista de Tróia. Encontramos na “Ilíada” todas as espécies de abusos, barbaridades e atrocidades cometidas pelos russos nas áreas da Ucrânia que controlam, porque não encontramos diferença na natureza humana antes e agora, se olharmos bem para dentro de nós. A distinção entre o mundo antigo e o mundo contemporâneo consiste exclusivamente na evolução tecnológica estendida também à guerra, de modo a aumentar a eficácia no modo como matamos: o que isto significa é a utilização massiva de mísseis guiados por satélite, como se não houvesse amanhã. Não é pois, a Educação, a Cultura, a aventura do amor sexual e a esperança que valorizamos, mas questões de poder - mais precisamente aumento de poder.

Sensibilidade: Alguém terá a mínima ideia de todo o sofrimento do povo ucraniano, e o que significa o extremo da atrocidade do lançamento de mais de dois mil mísseis no território ucraniano, com a literal destruição aldeia a aldeia, vila a vila, cidade a cidade, destruição dos campos de cereais e milhares de desalojados e refugiados (pessoas que já não têm controle sobre a sua própria vida)? O que sabemos de facto sobre a continuada evolução e intensidade destas experiências? Que noção temos da realidade social dos ucranianos? Que dose de mísseis pode suportar um país? A invasão é simplesmente uma atrocidade! Não tem outro significado. Confrontados com essa desumanidade, olho para os ucranianos e o que observo é coragem: pura e simplesmente admiro-os. 

 

Uma História Diferente

— Mostrar a coragem de outros é também uma oportunidade de os compreender. A cultura deve e tem de dar a sua contribuição para a total soberania das entidades nacionais. Se não lutarmos incondicionalmente pela cultura, que outro motivo haverá para combater? Defender os amigos, mesmo se forem “os colonizadores” a ficar no poder?

 

 

victor pinto da fonseca

victor pinto da fonseca, é director da artecapital e da Plataforma Revólver - Independent Art Space.

 

:::


* Na era de um conflito militar que divide a Rússia do continente europeu, recusar a ideia de que se deve escolher um lado, mantendo-se, por meio da cobertura retórica que é a neutralidade, uma particular distância em relação ao assunto, é o resultado errado nesta guerra (embora nos pareça estarmos muito distante das aldeias e cidades ucranianas bombardeadas com mísseis). Em tal situação, não há lugar para uma terceira posição pretensamente neutra e impessoal, sem dúvida, simplesmente à espera que a luta chegue ao fim para decidir que lado tomar. Não há dúvidas que permanecer neutro significará perder a amizade e o respeito do vencedor e a reação de indiferença do derrotado. Depois, já será demasiado tarde qualquer que seja a posição. (Temos de encontrar um lado: Exactamente como nos ensina Maquiavel no “Príncipe”).