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ENTREVISTA


Carolina Grilo Santos, Diana Geiroto Gonçalves e Luísa Abreu.


Edifício Central do IGUP.


Estação Sísmica (Bunker).


Registador e Sismograma (Estação Sísmica).


Parque Meteorológico (estação automática - IPMA).


Mapa das Estações Sísmicas Standard - WWSS.


Termómetro de radiação.


Syringa Chinesis do Jardim Fenológico.


Mapa do IGUP, desenvolvido para o Serviço Educativo.


Parque metereológico - abrigos para ferramentas diversas.


Instrumento de radiação.


Carolina Grilo Santos, ISOCHRONE (0200), 2020, Vinil. Fotografia: Espaço Mira.


Vista do estúdio de Carolina Grilo Santos com a peça Sem título (Série Atlas), 2019, Acrílico s/ madeira. Fotografia: Carlos Mensil.


Diana Geiroto Gonçalves, Nó - Mapas circulares, série Living in the edge, 2018.


Diana Geiroto Gonçalves, Plano para planificação de duplos, série Duas mesas e meia da Sabino, 2013.


Luísa Abreu, A Corrida - Vista do estúdio, 2020. Fotografia: Filipe Braga.


Luísa Abreu, A Corrida - Vista do estúdio, 2020. Fotografia: Filipe Braga.


Luísa Abreu, Auto-estrada, acrílico sobre madeira, 81 x 81 cm, 2019. Fotografia: Filipe Braga.

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NOÉ SENDAS



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SOLANGE FARKAS



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JOÃO RENDEIRO



MARGARIDA VEIGA




PROJECTO PARALAXE: LUÍSA ABREU, CAROLINA GRILO SANTOS, DIANA GEIROTO GONÇALVES


 27/05/2020

 

 

 

Paralaxe é o nome do projecto que Luísa Abreu, Carolina Grilo Santos e Diana Geiroto Gonçalves têm em comum, sobre o qual conversámos, tal como das suas práticas individuais e da sua adaptação ao período de confinamento. O projecto Paralaxe, por flexibilidade da DGArtes, da qual tem apoio, por envolver uma forte componente presencial e de criação de públicos, encontra-se agora em fase de recalendarização e de desenvolvimento da componente virtual prevista desde o início: o projecto terá um site onde propostas de artistas e teóricos serão publicadas, assim como outros materiais que Luísa, Diana e Carolina se encontram a desenvolver, como é o caso dos folhetos do serviço educativo associados ao lugar onde o projecto toma parte, o Instituto Geofísico da Universidade do Porto, em Gaia. A conversa decorreu por videochamada, pelo que o texto que se apresenta é uma adaptação da mesma.


 

Por Catarina Real

 

 

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CR: Podemos talvez começar por falar um pouco de projectos individuais que ficaram parados neste período, para termos um panorama do que andam a pensar...
Queres começar, Carolina?

CGS: Há três coisas que ficaram pendentes. Inaugurei uma exposição no espaço Birra, aqui no Porto, uma semana antes de começar o confinamento, que ficará agora suspensa. Esta exposição consiste numa série de trabalhos de pintura que representam para mim um voltar à pintura depois de ter desistido dela há uns anos. Relacionam-se com a imagética cartográfica, geográfica e paisagística assim como os seus simbolismos e métodos. São pinturas sobre madeira, reflexões que encontram relação com um poema de Elisabeth Bishop, The Map:

 

Land lies in water; it is shadowed green.

Shadows, or are they shallows, at its edges
showing the line of long sea-weeded ledges
where weeds hang to the simple blue from green.

Or does the land lean down to lift the sea from under,
drawing it unperturbed around itself?

Along the fine tan sandy shelf
is the land tugging at the sea from under?



The shadow of Newfoundland lies flat and still.

Labrador's yellow, where the moony Eskimo
has oiled it. We can stroke these lovely bays,
under a glass as if they were expected to blossom,

or as if to provide a clean cage for invisible fish.
The names of seashore towns run out to sea,

the names of cities cross the neighboring mountains
-the printer here experiencing the same excitement

as when emotion too far exceeds its cause.

These peninsulas take the water between thumb and finger
like women feeling for the smoothness of yard-goods.



Mapped waters are more quiet than the land is,

lending the land their waves' own conformation:

and Norway's hare runs south in agitation,
profiles investigate the sea, where land is.

Are they assigned, or can the countries pick their colors?

-What suits the character or the native waters best.

Topography displays no favorites; North's as near as West.

More delicate than the historians' are the map-makers' colors.

 

É curioso para mim encontrar a poesia nos mapas, e acabei por utilizar este poema e textos de análise do mesmo, como sinopse do que apresentei. Os espaços são o que são mas também são o que nós existimos neles.

CR: Sentes que há alguma diferença na tua afecção por estas cartografias e mapas agora que, de alguma forma, não existimos no território, ou seja, que a nossa experiência de espaço passou a ser muito mais virtualizada?

CGS: É curioso que perguntes. Uma das coisas que influencia a imagética do trabalho de pintura que fiz é o facto de estar constantemente a ver mapas digitais. Às vezes sofro um pouco de agorafobia e então começo a fazer viagens virtuais. Há projectos que acabam por acontecer por essa razão, e a própria imagem que se reflecte nas pinturas é a do mapa digital. Para mim essa mudança para a virtualidade do contacto com o território é bastante inexpressiva porque eu já a tinha de uma forma constante. Por outro lado, a minha relação com a paisagem tem mudado por causa da minha varanda. Tenho-me apercebido dos vazios que agora existem e do contrário também; enquanto que a ponte que vejo daqui está com muito menos fluxo, consigo ver com frequência os vizinhos que nunca via.
Os espaços e a memória e a relação que temos com eles interessa para que eles sejam cartografados. Não só como os vemos, mas também como os sentimos, por isso tem sido curioso para mim assistir a estas mudanças sensíveis na e da paisagem, assim como assistir à alteração da dualidade do pensamento sobre o espaço físico e virtual, decorrente do confinamento que vivemos.

Realizei também um trabalho para as comemorações do 25 de Abril, organizado pelo Espaço Mira, uma comemoração que apenas terá expressão virtual, com partilha no Youtube. Neste trabalho decidi voltar às colecções, algo que tinha muita expressão em trabalhos que fiz anteriormente. As colecções aconteciam como se fossem um palco de onde os objectos entravam e saíam.
Uma das colecções que tenho pertencia à minha avó. Há nela uma agenda com mapas de uma altura em que Portugal ainda ocupava as colónias, mas encontrei também um caderno da época de Salazar, e decidi optar, neste trabalho e celebração, por uma brincadeira com o verbo falar, que era uma acção quase proibida. Voltei a essa colecção e a esse caderno e intervencionei-o. É um trabalho que é apenas virtual, é uma imagem digital estática realizada propositadamente para este contexto.
Ficou também pendente o Open Studio que ia acontecer a 18 de Abril no atelier colectivo onde trabalho, o Campanice, em Campanhã. Talvez aconteça em Outubro. Estou a aproveitar o tempo extra para fazer algumas candidaturas. Trouxe também alguns materiais para casa, tintas e madeiras e já estive até a fazer carpintaria na varanda, mas estou sobretudo a avançar com ideias.

 

CR: Diana, quais os teus projectos cancelados ou forçosamente parados?

DGG: Tirando o projecto que temos em comum, o Paralaxe, não tive nenhuma data a ser cancelada ou exposição a ser interrompida. Alguns projectos colaborativos ainda embrionários ficaram parados porque estamos com timings muito diferentes. Uma das pessoas com quem estava a trabalhar é italiana, e uma vez que viajou para Itália muito pouco tempo antes de tudo rebentar, não chegou sequer a conseguir voltar. Estávamos na fase de troca de materiais, de pergunta-resposta, temos falado um bocadinho sobre possíveis desenvolvimentos mas ainda não voltámos ao trabalho e às suas possibilidades.
Quanto à minha adaptação a este período, confesso que ainda não fui capaz de ser produtiva. Quando percebi que íamos ter de ficar em casa passei pelo atelier, que é onde trabalho sempre, e trouxe algumas coisas em que estava a trabalhar... Uma série de desenhos que pensei continuar em casa... Mas a caixa onde trouxe esse material continua fechada.

CR: Essa série de desenhos, queres falar um pouco mais deles?

DGG: São desenhos de pequena dimensão que vêm, tal como as pinturas da Carolina, de referências cartográficas. Mas ao contrário da Carolina vêm da ideia de mapa como planificação. Inicialmente fiquei frustrada perante a minha incapacidade de trabalho mas com o tempo fui começando a revisitar projectos, textos e ideias soltas. Voltei à fotografia, o que já não fazia há algum tempo, e estou agora a fotografar um conjunto de objectos muito pequeninos. Tem sido um tempo que utilizo sobretudo para rever tudo o que estava em stand by. Este projecto por exemplo, já está on and off há muito tempo. Começou em 2013, voltei a revisitá-lo em 2018, quando realizava o meu mestrado e agora, talvez por o meu espaço de trabalho ser tão circunscrito, esta leitura ínfima de cada coisa, que acho que o projecto representa, voltou.
Relaciono-me muito com o que a Carolina disse: redescobri a vista da minha varanda. Apercebo-me muito do silêncio e do som dos pássaros que ocupam o terreno baldio em frente a minha casa, dos quais nunca me tinha apercebido.

 

CR: Luísa...?

LA: A pandemia trocou-me as voltas. Para além do Paralaxe também a minha exposição individual “A Corrida” na Galeria Sala 117, aqui no Porto, não inaugurou. Foi cancelada uma semana antes de inaugurar, num período em que eu estava mesmo a dar tudo para que acontecesse da melhor forma possível. Sinto que dei um mergulho neste período de paragem. Depois de ultrapassadas as dúvidas e angústias por certas coisas não estarem a acontecer, e pelas saudades que tenho delas e das pessoas com quem as faço, este tempo tem sido bom para mim. Acho até que estou a viver numa bolha um pouco perigosa, porque tenho consciência do quão complicado é este momento, mas este espaço da quarentena tem sido de completa reclusão. Canalizei a energia para coisas que queria mesmo muito fazer e que ainda não tinha conseguido dedicar tempo suficiente.
Tenho um projecto com a Maria Bernardino, de quem sou muito próxima, e com quem estudei nas Caldas da Rainha, a partir das ideias de jogo que a exposição “A Corrida” também utiliza.
Esta quarentena permitiu-me usar o novo espaço-tempo que temos para me aproximar mais da Maria, por incrível que pareça, e para que pudesse revisitar este projecto que só agora foi possível começar a avançar. Este projecto chama-se “Didáctico Obscuro” e é um projecto que irá provavelmente acontecer no final deste ano. Temos lido juntas uma série de livros, trocado referências, construímos um espaço virtual partilhado na Drive onde temos acumulado tudo; poemas, imagens e outras coisas completamente disparatadas. Temos documentos coloridos, há uma espécie de caos a acontecer nessa pasta que talvez faça parte da ludicidade que partilhamos. Este projecto relaciona-se com o envolvimento no jogo e com a sua investigação teórico-pratica. O que nos interessa no jogo é a sorte e o azar, o lançar de dados, as regras, o mergulho e todo o estado emocional que é necessário para se estar dentro do jogo, o território do jogo... Vamos a partir daqui produzir objectos juntas: jogos que são nossos e que se relacionam com a nossa forma de pensar. Este projecto é a minha consequência boa da quarentena. Mas é claro que não vejo este período, nunca, como uma oportunidade. É necessário que nos adaptemos, e eu fui tentando que me trouxesse coisas positivas, como o desenvolver deste projecto. É muito bom estarmos a comunicar agora mas será ainda melhor o dia em que nos pudermos juntar para partilhar isso corpo-a-corpo, uma característica que, em si, o jogo também tem.

CR: Parece que estás a descrever uma bóia de salvação, um projecto que te faz acreditar no futuro, e que te dá alento neste período. Soa a uma forma muito benéfica de trabalhar neste momento.

LA: De alguma forma é fazer batota a isto tudo. O facto de termos tempo a mais às vezes faz-nos olhar demasiado para trás, para o passado, e para dentro. E ficamos a repensar e remoer coisas. Este é um mecanismo para escapar a isso também, e para ser capaz de ver as coisas um bocadinho mais para o outro lado, o da frente e do futuro. E torna-se muito bom pensar o futuro de uma forma tão hilariante, produtiva, cómica...
De resto, o trabalho que estou a fazer é muito mais burocrático. No Sol [colectivo de que a Luísa faz parte] estamos agora a pensar como podemos organizar a nossa programação.

 

CR: Antes de chegarmos ao projecto Paralaxe, pergunto-vos como é que vocês chegam a ele: o que é que vos faz construir um projecto e ter a vontade de, a vocês, juntar ainda mais pessoas?

LA: Uma série de circunstâncias que se relacionam com a amizade, com o próprio trabalho, com as motivações individuais de cada uma mas também pela forma de fazer coisas. Com a Diana eu tinha uma relação que não era profissional, e que passou a tornar-se; a Carolina tem uma prática que se relaciona completamente com a investigação científica e, para além disso, já tínhamos trabalhado juntas no Maus Hábitos, e na Associação Saco Azul, onde a Carolina colaborou muito tempo. Tudo isto aconteceu quase por acidente, sem ser demasiado pensado, digo. Pelo menos o que nos juntou, não tivemos de partir a cabeça a pensar quem faria sentido trabalharmos porque juntamo-nos de uma forma natural. De resto, o projecto foi construído pelas três e alimentado por todas de diferentes formas. Começámos com várias ideias, que tinham como objectivo abrir espaços museológicos que no nosso entender têm grande interesse científico, e que são vivos na parte da investigação, embora sejam muito desconhecidos do grande público. O Instituto Geofísico da Universidade do Porto [IGUP] foi o primeiro espaço em que pensámos assim como o Observatório Astronómico. Decidimos começar pelo IGUP, mas temos já em vista uma segunda edição do projecto que poderá contemplar o Observatório Astronómico. Estes espaços têm investigadores a trabalharem permanentemente e nós achamos que seria muito bom se associássemos a prática artística à investigação científica, e a estes arquivos incríveis, e mesmo às pessoas do próprio IGUP, na Serra do Pilar, que se mostraram tão receptivas para nos receberem.

 

 Torre Meteorológica do IGUP.

 

 

CR: Podem-me falar um pouco do projecto em si, como o pensaram e qual o papel das várias pessoas que estão a articular? Como estão a gerir o confinamento e as alterações que terão de fazer ao projecto: irá ser apenas adiado ou estão a prever alternativas que não passem pela presença?

DGG: Como disse a Luísa, foi natural juntarmo-nos. Depois apercebemo-nos, enquanto pensávamos o projecto, que havia este interesse pela investigação científica em muitos outros artistas. E que os podíamos incluir no nosso projecto. Fomos falando dessas outras pessoas, já não só artistas mas também teóricos, e a partir daí fomos fazendo convites para que se envolvessem no Paralaxe, quer na forma de residência artística quer na forma de colaborações mais pontuais, para figurarem no site do projecto.

[A Diana caiu]

CGS: Como dizia a Diana, surgiu a ideia e tivemos a sorte de rapidamente perceber que seríamos pessoas interessadas em levar isto avante. Quando surgiu a oportunidade de fazermos uma candidatura para termos apoio financeiro para a execução do projecto foi quando realmente começamos a estruturar tudo. A partir dessa, outras candidaturas vieram a acontecer até que conseguimos o financiamento da DGArtes. Nessas candidaturas o projecto foi também crescendo, e abrindo as possibilidades da relação entre Arte e Ciência, mas também abrindo a possibilidade de inclusão e abrangência a espaços virtuais e de abarcamento do serviço educativo, onde olhamos para o espaço museológico e pensamos como podemos contribuir para que ele seja visto e experienciado.

[A Diana voltou]

 

CR: Podem-me falar um pouco da organização desses núcleos de trabalho do projecto?

DGG: Sempre que apresentamos o projecto acabamos por dizer isto: é um projecto de investigação. Tem várias dimensões. A base serão as residências artísticas no IGUP, que estavam previstas para o início de Abril. Esta parte do projecto foi adiada, e estamos a pensar como a reagendar. Estavam pensadas para terem um período de três meses, com residências de Hernâni Reis Baptista, Diana Carvalho e Dinis Santos, para além de nós as três. Paralelamente a isto há um trabalho de desenvolvimento de conteúdos a partir daquele espaço ou de inputs que este possa trazer na forma dos seus arquivos ou investigações, que circularão, como colaborações-satélite, a partir de uma plataforma on-line que irá acumular este material.
O projecto previa e prevê a apresentação pública; visitas guiadas, conversas, exposições. O que terá de ser reestruturado. O que estava previsto acontecer agora, desde conversas com artistas ou mesmo a residência, terá de vir a ser reajustado.
O projecto contempla também uma publicação final do projecto, que condensará um pouco tudo o que se desenvolver dentro dele; desde material científico a documentação de residências, colaborações para o site e exposições. Isto seria para Outubro, veremos ainda se se poderá cumprir este prazo ou não.

 

CR: O planeamento está apenas em stand by, mas a estrutura mantêm-se?

DGG: Poderá apenas alguma apresentação pública ou conversa não acontecer, mas sim. A plataforma virtual sempre foi uma coisa que nos fez sentido, e neste momento tornou-se evidente a sua importância.
Carolina: O que tinha expressão pública ou presencial encontra-se adiado e, tal como nos foi comunicado pela DGArtes, temos liberdade para mudar a nossa calendarização. Este tempo, que é difícil, tem-nos permitido ter tempo para outras partes do projecto que teriam de ser realizadas em breves períodos de tempo e que agora podem ser pensadas de outra forma. É o caso do serviço educativo, para o qual estamos a desenvolver folhetos didácticos. Para o IGUP, enquanto museu, e depois folhetos para cada área científica que lá se estuda - a Fenologia, a Meteorologia e a Sismologia. Estamos também a preparar as redes sociais para divulgação do projecto. Assim como o lançamento da publicação e da plataforma online. Estas são partes muito importantes do projecto e que agora talvez possamos dar mais alguma evidência ou expressão uma vez que são os meios que temos disponíveis.

 

CR: Esses folhetos estabelecem uma relação com as residências artísticas?

CGS: O material do serviço educativo é a nossa contribuição para o espaço e não diz respeito nem se relaciona com as residências artísticas.

DGG: Queremos deixar um contributo para este espaço, que é visitável ao público. Inclusive ao nível do mapeamento do espaço e de questões informativas espaciais.

LA: Uma das nossas intenções com o projecto era dar a conhecer o Instituto Geofísico, e levar as pessoas a visitá-lo. Foi também uma das razões que nos levou a criar a publicação e a plataforma on-line, porque dessa forma conseguimos ter mais pessoas a relacionarem-se com aquele espaço.
Esta adaptação obrigatória vem trazer-nos uma perda na possibilidade de contacto, há coisas que teriam de ser experienciadas. Perde-se, por agora, essa componente de contacto com o espaço mais intensiva. Por outro lado, continuamos a falar sobre o IGUP, e a divulgar o que lá é feito, revelado na sua versão virtual. Mas o nosso trabalho, e também este contributo para o serviço educativo do museu, fará apenas sentido se as pessoas visitarem o espaço futuramente.
É muito bom perceber a heterogeneidade com que os artistas estão a estabelecer ligações ao IGUP, às vezes a partir de coisas microscópicas da investigação que lá é realizada, ou de uma apropriação mais abrangente de ideias científicas ou mesmo metodologias de trabalho. Por exemplo o Carlos Mensil, uma das colaborações satélite, interessou-se imediatamente pelo projecto porque trabalha muito com ímanes e a directora do IGUP é especialista em magnetismo. Para nós é mesmo positivo podermos juntar um artista com uma investigadora que lhe pode ser útil para o trabalho que desenvolve. É muito bom perceber como é que o nosso projecto, e os encontros que ele poderá propiciar serão importantes para os artistas, ou o trabalho que deixámos feito poderá ser importante para quem visita o IGUP.